Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

21 agosto 2012

Gosto da parte do "és minha"... gosto muito. Não que ache que as pessoas possam ter posse de outras, de alguém, porque não acho. E acho que nunca tratei assim ninguém. Pelo contrário, sou pela liberdade. Só fica quem quer, quem gosta e quer ficar, e talvez por isso, acho que não seria capaz de dizer "és meu", aliás, nunca disse, até porque nunca tomei ninguém por garantido. Mas adorava que me dissessem "és minha" porque não implica qualquer sentimento de posse meu e dá-me o sentimento de pertença. E é isso, esse sentimento de pertença, que acho que andei a vida toda atrás. Um sentimento de pertença por afinidade, por cumplicidade, por intimidade, por amor, por desejo.
(há bocado pus o excerto e fiquei a pensar naquele primeiro no banho, e é isto, acho que é por isto que gosto do "és minha"... também gosto quando é "anda cá que és minha"...)
"Se daí te mandarem para outro convento mais longe, avisa-me, que eu irei, sozinho ou acompanhado, roubar-te ao caminho. É indispensável que te refaças de ânimo para te não assustarem os arrojos da minha paixão. És minha!(...) Não sofras com paciência, luta com heroísmo. A submissão é uma ignomínia, quando o poder paternal é uma afronta."

"Passou-lhe na mente, sem sombra de vaidade, a conjectura de que era amado daquela doce criatura. Entre si dizia que seria uma crueza mostrar-se conhecedor de tal afeição, quando não tinha alma para lha premiar, nem para lhe mentir. Assim mesmo, bem longe de se afligir, lisonjeavam-no os desvelos da gentil moça. Ninguém sente em si o peso do amor que se inspira e não comparte. Nas máximas aflições, nas derradeiras horas do coração e da vida, é grato ainda sentir-se amado quem já não pode achar no amor diversão das penas, nem soltar o último fio que se está partindo. Orgulho ou insaciabilidade do coração humano, seja o que for, no amor que nos dão é que nós graduamos o que valemos em nossa consciência."

Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição

Tanta, tanta coisa certa... estou quase a acabar este também!!