Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

11 setembro 2014

[na verdade, as pontes não são para unir as margens e o tempo viu-me partir num dia de sol, pela berma fora, descalço, sem procurar mais espaço neste lugar. parti, destinado à ideia de estar só, metamorfoseei-me da invenção do amor. respirei fundo até ao fundo de mim e cuspi fogo. escrevi uma curta crónica sobre o meu corpo e apaguei-a depois. talvez por medo, talvez por estar em branco como as insónias que me dizem o que não quero ler. torna-se tudo tão nítido de noite. as sombras, o vento, o choro. não quero que a memória me traia, mas penso que me demorei nos gestos e agora já não sou daqui. sou um outro animal desconhecido e conto o agora através dos dedos dos pés, à espera que a luz se apague de vez. não quero reconhecer a escravidão dos dias, já não trato o tempo por tu. era preciso uma ilha. trinta de junho. era preciso não saber nadar. respirei fundo e cuspi uma onda de mar. o silêncio está a meio da vida e pouco resta do meu nome. deixei a porta aberta. no fim do azul a chuva cairá.]

Eu devo ser mesmo uma gaja todo-o-terreno, com saltos de quinze cms a subir a montes de entulho das obras... devo ser isso e meia maluca, mas isso não é novidade, e o certo é que nunca os saltos me impediram de fazer nada. Nem andar no meio do mato, nem no meio de calhaus. Em última instância descalça-se se se puder. E vai daí olhei para aquilo e disse, bom, não vou ficar aqui e não ver  que tenho para ver, né? e pronto, calças de ganga e saltos de 15 cms passearam pelo entulho e transpuseram o obstáculo. Missão cumprida. Gosto disso nas mulheres - gosto disso em mim, porque tenho coisas em mim de que gosto, certo é que mais ninguém as aprecia, mas paciência, nem tudo em mim é mau, e isso eu sei, por muito que às vezes não o valorize - de saberem andar de saltos onde não seria suposto, e de saberem andar de sabrinas em qualquer lado. E não é o que se veste, é o espírito que se incorpora, porque o que está por fora tem de combinar com o que se traz vestido por dentro, de alguma maneira tem de estar afinado, ou soará a falso. Gosto da simplicidade de um fim de semana que combina com calças de ganga e t-shirt, com umas sabrinas, óculos de sol e cabelo revolto; e - pode até ser no mesmo dia- gosto de vestidos de jantar justos e femininos, principalmente se nao for para sermos nós a despi-los... Até gosto daqueles vestidos de executiva, que dão a algumas mulheres aquele ar meio distante e inalcançável, mas algo apetecível, e eu gosto de ver embora eu nunca tenha esse ar. Até tenho especial apreço pelas mulheres, senhoras de saltos bem usados, que sabem descer do salto e retomá-lo com elegância, e isso é raro de ver, muito raro. De saberem sentar-se numa tasca ou num restaurante premiado com estrelas michelin. De saberem dizer não com inteligência e graça, e de saberem encostar alguém à parede com toda a vontade de sim e sem falsos pudores.
Eu tenho muito poucas destas qualidades que gosto, mas sei reconhecê-las quando as vejo.
Gosto de gente que sente e sabe sentir, e estar.
Porque saber estar é também saber respeitar os outros, essencialmente isso, tal como se atentarmos bem ao principio básico que fundamenta as regras de educação - respeito e consideração pelos outros, e isso tem a ver com como se sente os outros e nós em relação aos outros.

Bom Dia
...hoje estou assim, mesmo que não se veja.
Acho que nem os totós me faltam...

Boa Noite
Quando se gosta, gosta-se, mesmo que haja muita coisa de que não se gosta no outro. Nunca há alternativa quando se gosta. Tenta-se tudo sempre. Como já disse e escrevi várias vezes, gostar do que alguém tem, das suas qualidades e como nos faz sentir, não é gostar dessa pessoa. Mas pode-se gostar estupidamente de quem não tenha o que gostamos, o que queríamos, o que nos faz sentir confortáveis, simplesmente gostamos, sem razão alguma. Estupidamente, mesmo sem conseguir fechar os olhos ao que não gostamos. Aliás, só assim se gosta verdadeiramente: com os olhos abertos para o pior do outro e ainda assim o amor ser maior que isso. A este gostar não há alternativa, não se consegue escolher desistir, a não ser - e só para algumas pessoas, não todas - quando percebemos a certeza de que esse alguém não gosta de nós, de que não somos amados, e que o amor vive de reciprocidade e aquece-se do que sentimos através do outro acerca de nós, do mundo, da vida, e dele mesmo. 
E eu quero amar e ser amada. Ainda que ame menos do que o amei. Quero sentir-me amada e fazer alguém sentir-se amado, devolvendo-lhe o melhor de mim que me dá, que me dá o amor que é dos dois. Só assim. Não quero quem não me queira. Duvido que se possa ser feliz sem se sentir amado, ainda que ame. Aliás, olho para algumas pessoas e tenho essa certeza, não são felizes como gostariam, como poderiam ser, porque amam mas não são amados por quem amam. Eu não quero isso para mim. O amor assim só sobrevive e forçado, não vive nem respira profundamente. Sem "nós" não há amor, há amar alguém até que alguém nos ame.