Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

07 dezembro 2014


... Sento-me aqui, com o frio a comer-me as mãos e refastelado na alma, e penso que não sei a que horas despontaram os primeiros raios de luz, que fazem o céu alto de azul bebé que para mim não nasceu. É o fim dum dia sem noite, ou com uma noite esburacada, desdentada sem dentes que mordam, mas que me espapaçam os ossos e me tiram o sangue que não dei. Sangue. Pilhas novas para dois ou três dias, ouvi é fiz por não escutar. E dou por mim a lembrar-me que me pus a lavar a loiça, não sei porquê, não é coisa que me dê, mas tinha de fazer alguma coisa, ou parecer-me que estava a fazer alguma coisa, que podia fazer alguma coisa. Lembro-me do que pensei na altura, da associação de ideias, e de pensar como a vida é estúpida. E agora aqui recordo a frase de quem não me lembro de ver chorar, a não ser há praticamente um ano, e passado um ano, eis que o vejo de novo assim, por minutos rendido ao que nos derruba, e diz apenas "há coisas na vida que podemos escolher, outras não temos escolha". E a lua a esconder-se e o sol que não se vê.