Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

30 junho 2015


... Procurar poisar com o pôr do sol.
... Tentar aquecer com as cores.
... Falar o que não se diz, calar o que não foi dito.
... e agora, para desanuviar e descontrair, 
era ir dar uma volta neste belo animal!!
Isto sim era um bom final de tarde,
 a trote ou a galope, e depois a passo para descansar, 
ou ao contrário, sei lá... 
Só sei que era bem pensado e ainda melhor feito!!
(eheheheh)




"Copiaste? Fizeste bem.
Copia mais, sem canseira.
Copia, pilha, retém.
É a única maneira
De não escreveres asneira."


Fernando Pessoa
(heterónimo Joaquim Moura Costa, pode ler-se aqui)

Se há coisas que me irritam é a falta de honestidade, qualquer uma mas aquela que procura usar as coisas dos outros apenas para se parecer melhor aos olhos dos outros dá-me a volta ao estômago!! Quem precisa das ideias dos outros, das palavras dos outros, para parecer bem, para dizer coisas interessantes ou bonitas, para parecer inteligente ou sensível, deve-se sentir uma verdadeira merd@ por precisar do que não é seu para os outros o apreciarem, o elogiarem, o considerarem.... isso deve ser terrível, saber que precisam disso, porque sem isso afinal não são nada, ou não se acham nada!! Têm de enganar, mentir, manipular, para parecerem ser alguma coisa que acham que vale a pena. Entristece-me tanto isto quando o vejo vindo de alguém próximo, muito ou pouco, não interessa, é aí que percebo que é uma coisa tão disseminada, e tão rasteira, que vejo-a em todo lado. Mas nesta não me duvido, estou certa de que é deplorável... é tão feio, tão baixo, tão reles!!
Que não gostem do que eu escrevo, que chamem lamechice ou outros adjectivos que tais; que não concordem com as minhas ideias, que as refutem, contra argumentem ou ignorem; que gostem ou não gostem de mim; que me adorem ou me detestem... uma coisa eu tenho a certeza: é de mim e das minhas ideias, do que sou: o que vêem e avaliam sou eu. Prefiro que me detestem assim, genuinamente, do que me adorem se me fizer quem não sou... porque aí gostam de uma pessoa que não existe, é uma espécie de personagem-"artista", de teatrinho barato nada artístico, de desonestidade.
Bem sei que o maior elogio que nos podem fazer é copiarem-nos, eu sei; porque, lá está, quem não tem ideias próprias, ou cabeça para pensar, ou capacidade para dizer as coisas de certa forma, copia, e copia sem dizer de onde, fazendo-se passar por original, porque  de original não lhe sai nada, ou nada que os próprios achem de jeito, pronto. Copiarem é por isso sempre um elogio ao que é copiado, a quem é copiado, o problema é que quem o recebe não o merece. Raramente o elogio chega ao verdadeiro destinatário, porque raras vezes os copiados têm conhecimento (aliás como não o têm quando são válida e correctamente citados, mas aí ninguém está a roubar nada ). Eu fui copiada algumas vezes, e dessas soube algumas ( e sim foi um elogio, claro!!), mas sei de tantos casos desse género, que me irrita. E sempre que posso, corrijo-os. Acabei de fazer uma dessas correcções, e esta desiludiu-me, veio de demasiado perto e é demasiado feio, mau, reles, rasteiro. 
Que maneira de começar o fim de tarde, irra!!
Eheheh... Não, a esta hora ainda ninguém passou da primeira linha... 
(E isto lembrou-me quem passava logo para a última, e só depois se lembrava das outras, com mais tempo... Eheheh)

Bom Dia

"E outra coisa: isto que eu vi não é nada, mas, em contrapartida, é muito aquilo que entrevi e o que entrevi foi o risco de perder tudo. O Robledo não interessa. No fundo é um frívolo que nunca chegaria a interessar-lhe. A menos que eu não a conheça de todo. Bom, conhece-la-ei? O Robledo não interessa. Mas e os outros, todos os outros do mundo? Se um homem jovem a faz rir, quantos poderão enamorá-la? Se um dia ela me perder (a sua única inimiga será a morte, a maliciosa morte que nos tem marcados), teria a vida inteira, teria o tempo nas suas mãos, teria o seu coração, que será sempre novo, generoso, esplêndido. Mas se um dia eu a perder (o meu único inimigo é o Homem, o Homem que está em todas as esquinas do mundo, o homem que é jovem e forte e promissor), perderia com ela a última oportunidade de viver, a última respiração do tempo, porque se é certo que o meu coração agora se sente generoso, alegre renovado, sem ela voltaria a ser um coração definitivamente envelhecido.
(...) Levava comigo um vergonhoso temor do seu silêncio, sobretudo porque sabia de antemão que ainda que ela nada me dissesse, eu não iria investigar nem perguntar nem reprovar. (...)  Creio que a minha mão tremia quando rodei a chave na fechadura. «Porque é que chegaste tão tarde?», gritou da cozinha. «Estava à tua espera para te contar a última loucura do Robledo, que tipo, aquele! Há anos que não me ria tanto!» E apareceu na sala de estar com o seu avental, a sua saia verde, a sua camisola preta, os seus olhos limpos, cálidos, sinceros. Nunca poderá saber do que me estava a salvar com aquelas palavras."

Mario Benedetti, in "A Trégua"

[Nunca vi os olhos limpos, cálidos, sinceros, que me salvassem. Essa segurança de estarmos do outro lado dos olhos, do que dizem ser o espelho da alma, e vermo-nos nesse espelho, nas palavras, no cuidar, no importar-se, no querer saber e  às vezes ter medo de saber, por ter medo de um dia acordar com um coração ressequido e morto, ainda que a bater. O ciúme é o medo de perder o nosso lugar na alma do outro,  de termos de voltar sozinhos para a nossa alma, que o alberga ainda. O ciúme é o medo de quem ama, descobrir amar sozinho. É o medo que alguém veja o que nós vemos quando olhamos para quem amamos, e que quem amamos veja noutra pessoa o que não vê em nós, e gostem, e queiram. E por isso às vezes trememos, quando rodamos a chave na fechadura, quando começamos uma conversa que tememos o que nos revelará, quando ouvimos o que preferíamos não perceber. A única coisa que nos pode salvar são os olhares que nos abraçam, que nos fazem sentir a alma em casa, que nos afastam as nuvens da insegurança, do medo. É o que nos dizem os olhos que nos pode salvar. E às vezes nem isso.]

Boa Noite

29 junho 2015


Estar vivo
é abrir uma gaveta
na cozinha,
tirar uma faca de cabo preto,
descascar uma laranja.
Viver é outra coisa:
deixas a gaveta fechada
e arrancas tudo
com unhas e dentes,
o sabor amargo da casca,
de tão doce,
não o esqueces.

Luis Filipe Parrado, in Entre a Carne e o Osso

Muito, muito, BOM.
Li e adorei, encaixou-me na alma tão perfeitamente, como o amargo da doçura, e o doce da amargura (que conheço bem demais).

[É mesmo isto, e é isto que dá este sabor amargo do viver, que de tão doce não se esquece. Talvez quem nunca trincou com ganas a casca saiba o que é isso do doce sabor do amargo que os dentes rasgam, arrancam, sofrem, mas bebem de doce. Talvez nem todos tenhamos dentes e unhas para arrancar o que é nosso dos sonhos para as mãos, para a boca, e ao mesmo tempo arriscar a fome. Talvez nem todos queiram alguma vez tanto uma coisa que a arranquem com vontade no sangue e nos gestos, com a força das convicções quase selvagens, quase impregnadas de instinto, não de sobrevivência, mas de Vida, arriscando unhas, dentes, sonhos, dias, noites, anos - vida. Arriscando tudo. Porque a faca de cabo preto, descasca sempre, mas não amarga e não adoça - o sumo não é o mesmo. Também não o é a dor, o medo e a amargura, ou não sabe ao mesmo. E o que interessa é ao que nos sabe, toda a gente sabe.
Talvez se pudessem avaliar as pessoas que padecem de instinto de vida pelos dentes e pelas unhas, talvez devesse haver uma maneira de se saber da cepa de quem nos toma os sonhos antes de lhes sucumbirmos com unhas e dentes, com dias, noites e anos - com a vida toda. Talvez devêssemos espreitar as gavetas: onde a faca faltar, é usada. Talvez devamos atentar no cabo do mero utensílio, onde exibam a faca e a sua qualidade, como artigo de (e em) si mesmo, onde isso importe e se cultive, se trate e se retrate, ela não só (mal) descasca, como se sobrepõe a todo o descascar da laranja, ao trincar, ao sumo que nos escorre pelo queixo, pelos dedos, pelas mãos, de quem a trinca e se lambuza. Na vida, só quem usa unhas e dentes se lambuza. E sabe como isso pode ser amargo.]

 
...Ou se está, não faço ideia onde!!
Mas eu ando a tentar ser mais arrumadinha, 
até ando numa de arrumações e tudo:
coisa rara nunca vista...

Bom Dia!
[temos de nos rir, e eu ando a precisar mesmo... disso, e doutras coisas,
 mas para o rir há estas coisas que se apanham por aí e que conseguem o objectivo, há que aproveitar...]

28 junho 2015

Parece-me que sim, que é a única hipótese.

Bom dia

Incendeia-me e dá ao fogo a tua água. 

Quero o fogo que a tua água apazigua e alimenta.

A fome que me comes
A sede que me bebes
O acordar que me despertas.


[é o que dá ouvir as letras das músicas, quando ouvi hoje "set me on fire" foi isto que me apareceu na cabeça, e que agora, a ler as estrelas que me olham, acabo de escrever. Maldita cabeça...]
Boa Noite


27 junho 2015

Não sou moça de muitas flores, mas enquanto esperava espreitei-as. Não encontrava as que gosto mais, encontrei muitas, algumas nem conhecia, mas não me importam os nomes, os rótulos, interessam-me os conteúdos. No fim lá as encontrei, as que gosto mais, e nem sei porquê. O mais simples às vezes parece tão difícil de encontrar... Porquê? Será o menos procurado? Lei da oferta e da procura? Rosas vermelhas havia em todas as bancadas. E não sucumbo a esse encanto. Não me prende... Porquê? Seria mais fácil, o mais simples parece sempre tão complicado de encontrar...



Bom Dia.

26 junho 2015

Eis um bom exemplo duma boa viagem de carro parado.
Entrem bem no fim de semana...


Há dias em que o acordar é uma desolação. Talvez por ser o dia seguinte a um dia anterior que nunca muda, onde cometemos os mesmos erros, ouvimos as mesmas coisas que nada dizem, percebemos as mesmas hipocrisias, e sentimo-nos impotentes perante tudo, talvez não sejamos, mas sentimo-nos como sendo, porque sempre parece faltar a coragem para o ontem não ser hoje, outra vez. Há dias em que acordamos mais lúcidos, mais cépticos, mais realistas e tão mais enevoados. Hoje é um dia desses, até agora.

... Não?!?
... Mas será que eu tenho de fazer tudo????....
 Tiro a tua, a minha... Irraaa!!
Tu fazes o quê??... Hum??... 
Ficas a ver, né?
...espertinho.
(eheheh)

Boa Noite

25 junho 2015

... e agora apetece um café.
Naquela esplanada, apelidada de chuta cus, ao sol, a caminho de casa.
Bebida atrás dos óculos de sol, o amargo do café 
com o doce do que já não se sonha mas ainda não se esqueceu. 
O sol sempre aquece, que a alma já não esquenta a pele.


"Não sei se é isto o amor, fazer contigo planos e projectos e todos incluírem foder-te. Há quem construa casas para morar, ou para exibir, ou só para as ter, eu tudo o que construo inclui a minha língua na tua, a tua mão na minha, eu dentro de ti como tu estás dentro de mim.
As histórias de amor parecem ser outra coisa; nunca ninguém falou da tesão de Romeu por Julieta, portanto, a julgar pelos livros, não deve ser isto o amor.
É que nos livros, quando o herói vê por vez primeira a que há de ser a sua amada, não diz “fodia esta gaija toda”. O amor à primeira vista costuma ter mais doce e menos sal e infinitamente menos esperma, nunca costuma ser dito com essas letras todas, com as letras que dizem “quero foder-te toda desde o primeiro minuto em que te vi, e continuar a foder-te até que o sol expluda e que o universo acabe”.
Mas é isto que temos, e eu gosto. Provavelmente não é amor, que isso do foder, dizem, é paixão, fogo de palha que o tempo apaga – o verdadeiro amor é o do depois, o que fica quando a tesão se esgota; se é assim, nunca te amei, nunca passou um dia em que não quisesse foder contigo."

Do Menino, sobre o amor, ou sobre o amor dele, como ele entende, e eu parece-me que o entendo.

Leio e oiço nas minhas memórias alguém dizer-me que mal me via só me queria encostar à parede, encostar os corpos na pressão da vontade, comer-me a pele por dentro, colher-me nos seus próprios lábios, invadir-me, ter-me, termo-nos. Via-me, e dizia que era isto que lhe passava pela cabeça, pela memória da pele, da ponta dos dedos, da língua, de tudo. Não sabia se era a maneira como me mexia, como olhava, não sabia, porque dizia que bastava ver-me, que havia uma ligação que se fazia, uma ponte que se atravessava, um atalho que se percorria para nos acharmos sozinhos, juntos, um no outro, na urgência da tesão, nos domínios do desejo, reféns da vontade recíproca. 
Sim, se calhar nunca foi amor. Também eu, poucos dias houve, em que vendo-te, não me apetecesse apetecer-te, agarrar-te esse apetecer para que não me fugisses, porque apeteces-me sempre nesse teu atrevimento doce, nessas brincadeiras malandras, nessa tesão que acarinho em nós e me consome quando vejo as tuas mãos. 
Amor não deve ser isto, deve ser outra coisa, ainda posso ter esperança. 
O amor ainda está para a frente, não o deixei já, perdido, na vida que já não é.


Receber uma mensagem que nos acorda é bom, não a parte de nos acordar, mas a parte de acordar com alguém a lembrar-se de nós. Mas não, não concordo contigo, deitar cedo e cedo erguer não dá saúde e faz crescer... Dá sono! Muito. Porque deitar cedo não é adormecer cedo, e levantar cedo é sempre acordar quando se dorme melhor.... E fico cá a pensar que quem mandou a mensagem não deve ser uma "ronha person" e isso não é bom, não... Mensagens para acordar é.  Está a modos que meio empatado, portanto.

Bom Dia
... Boa Noite.

[frase, das (muito) boas de "A Trégua"]

"Porque desta vez falei-lhe com toda a franqueza; o tema casamento foi discutido até à exaustão. «Antes de virmos para aqui, para o apartamento, eu apercebi-me de que, para ti, era penoso pronunciar essa palavra. Um dia, disseste-a, à entrada de minha casa, e tens toda a minha gratidão pelo facto de a teres dito. Serviu para que eu me decidisse a acreditar em ti, no teu carinho. Mas não podia aceitá-la, porque teria sido uma base falsa para este presente, que nessa altura era futuro. Ao aceitá-la também teria tido de aceitar que tu te submetesses, que te obrigasses a uma decisão para a qual ainda não estavas preparado. Em contrapartida, submeti-me eu, mas como é lógico, posso estar mais segura das minhas reacções do que das tuas. Eu sabia que, mesmo submetendo-me, não te guardaria rancor. (...) Por isso te digo que agora não tenho a certeza de que o casamento seja a nossa melhor solução. O que é importante é que exista algo que nos una; esse algo existe, não é verdade? Ora bem, não te parece mais poderoso, mais forte, mais bonito que aquilo que nos une seja isso que existe verdadeiramente e não uma simples formalidade (...) E, finalmente há o teu medo do tempo, de envelheceres e eu olhar noutra direcção. Não sejas tão melindroso. Aquilo de que eu mais gosto em ti é algo que o tempo não será capaz de te tirar.»"

Mario Benedetti, in A Trégua


"(...) ao aceitá-la também teria tido de aceitar que tu te submetesses, que te obrigasses a uma decisão para a qual ainda não estavas preparado. Em contrapartida, submeti-me eu, (...)" - esta frase foi talvez das que mais me marcou neste livro. Li, sorri, fechei o livro, percebi a sensibilidade do homem que o escreveu e o entendeu: o gesto de amor, dos mais belos e mais imperceptíveis. Acho que este pequeno grande pormenor passa ao lado de tanta, tanta gente; e este pequeno grande pormenor é amar, amar verdadeiramente. É incrível como isso passa tão despercebido, como não entendem, como quem vê de fora não percebe, que às vezes nos submetemos ao inimaginável para não submetermos, não obrigarmos, quem amamos ao que imaginamos não estarem preparados para fazer, para que, no fundo, afinal, não se submetam. Simplesmente não se submetam. E ao fazê-lo ser opção consciente, sem mágoa, sem exigência alguma, apenas por não querer provocar, ou de alguma forma forçar, uma reacção no outro que queremos que seja livre e espontânea: verdadeira. Só assim o admitimos - verdadeira -, seja qual for o tempo que precise para que nasçam em si certezas, porque só queremos alguém com a certeza genuína, que nasce por dentro, selvagem e livre, cheia de força. Só assim terá força, a força da vida que pulsa no sangue que o coração faz correr - que faz viver realmente. Provocar uma resposta não é responderem-nos, é reproduzirem o que queremos ouvir, não nos responde a nada, é uma espécie de monólogo estéril, que só contenta a quem gosta de se ouvir: quem não ama, não sabe amar. Porque quem ama só quer amar e ser amado - sentindo que ama e que é amado -, e isso nunca pode implicar submissão, a não ser ao próprio amor ("em contrapartida, submeti-me eu"...). Não se força, não se provoca, não se faz, surge, e quando surge tem a força que dá a certeza de ninguém ser obrigado a submeter-se - a não ser ao amor que os dois sentem, ou não vale de nada, não vale nada. E isto, isto que se sente assim, é uma coisa que o tempo não pode tirar, o que pode tirar - e tira certamente - é a certeza de que o outro nos deixa sempre submeter, sem nunca chegar o tempo, dentro do nosso tempo, de querer realmente ficar junto, e que "importante é que exista algo que nos una". E isso seja vivido.

24 junho 2015


[foto de Christopher Peddecord]

"Há mulheres que procuram um homem que lhes abra o mundo. 
Outras buscam um que as tire do mundo. 
A maior parte, porém, acaba se unindo a alguém que lhes tira o mundo."

Mia Couto

Já tive estes homens todos no mesmo homem.
Só quem nos pode dar um mundo novo, só quem nos tira deste mundo para uma redoma íntima, cúmplice, exilada dos dias cinzentos e amorfos, e tão nossa, nos pode tirar o mundo, aquilo que fizemos mundo, de que fizemos o nosso dia, a nossa casa, o nosso respirar fundo noutro olhar que não deixa de ser o nosso por estar noutros olhos. Outros olhos onde mora o nosso olhar sempre, mesmo que ele não nos traga dentro. 
E no fim de tudo, não nos devolve quem fomos antes, quem éramos antes de nos descobrirmos mais nós, antes de termos aberto os olhos para dentro dos nossos melhores recantos, antes de nos conhecermos mais inteiros num mundo tão nosso, mundo que perdemos para alguém que nem conhecemos. Que já não conhecemos. Que não sabemos se alguma vez chegámos a conhecer na realidade dum mundo que não existiu.
 E no entanto só se perde o que não nos é parte, nem todo. 

Bom Dia. 

Hoje não me apetece dizer mais nada. Estou em silêncio há horas.
Falar, agora, só se fosse assim.
Não sendo, vou tentar sonhar que falo. 
Mas a dormir, que acordada já não sonho nem falo. Não vale a pena.

Boa Noite

23 junho 2015

[os três últimos posts que escrevi, percebi agora, têm todos a mesma etiqueta. tonta. é coisa para estar para acontecer alguma coisa tonta, só pode... e não era mau, eu gosto de coisas tontas às vezes, quando são tontas e com piada. o que não quer dizer que seja o caso dos posts, que até não é, mas ainda hoje dei uma resposta tonta, e agora a ver estas etiquetas, lembrei-me disso... às vezes sou realmente tonta...]
Tinha dois vestidos pendurados por estrear, um tem cerca de um ano, ou talvez, sim,  precisamente, um ano, o outro tem mais. O que lá repousa há mais tempo vai ser estreado, foi a minha mãe que mo deu, não me deixou sair da loja sem ele porque disse que era giro e me ficava bem, por muito que dissesse que não tinha onde, ou por que, o vestir e ainda menos quem mo despisse, comprou-mo na mesma e disse que era doidinha e sem juízo. Se calhar tinha esperança, mais do que eu, de que não ficasse pendurada no cabide. E o vestido também. E o vestido, ao que parece, vai sair do cabide, tenho um baptizado daqui a uns tempos. O outro vestido ainda não sei, ainda não tem nada, é uma indumentária sem planos de vida. Foi comprado com um certo destino, ou melhor, com um certo pensamento, mas o destino dele foi ficar pendurado, como eu, aliás. Ainda tem a etiqueta (eu já não). Ainda não teve por que ser vestido, ainda não tive ninguém que eu quisesse que mo despisse, por isso não o vesti. Ainda. Entretanto, no fim de semana passado comprei outro, também preto, mas diferente: justo, mais curto, mas também liso. Esse parece que já tem dia marcado para ser estreado, um jantar de amigos e pessoas por conhecer, e um bom destino para ele seria o chão, pensamento é de certeza bom... Mas às tantas vai ser ficar pendurado no cabide. Sempre fazemos companhia uns aos outros.

Ontem fiquei até às três da manhã à conversa com um amigo, ele a tentar-me fazer ver que afinal sirvo para alguma coisa, que vale a pena andar por cá, e ia apontado as alturas em que no último ano eu o tinha puxado para cima sempre que se começava a deixar cair... porque lhe dizia que uma coisa que nunca senti foi que tivessem orgulho em mim, e que aceito e até entendo, não tenho nada demais para que sintam orgulho em mim, não fiz nada, não consegui nada, para ser merecedora disso. E enquanto falava com ele lembrava-me dum post que aqui escrevi em que falava nisso, em que dizia que quem ama sente orgulho, mesmo sem grandes razões palpáveis e concretas, apenas porque vê o outro assim... como uma coisa maravilhosa, linda, extraordinária, mesmo que seja a coisinha mais corriqueira do mundo. E era isso que eu, também, e entre outras coisas, gostava de ver no olhar que me olhasse. O que no fundo me deixa alguma esperança. Pode-se ter o maior orgulho na coisa mais corriqueira do mundo, só é extraordinária porque a vemos assim, porque a amamos assim... E então ele continuava, que eu devia perceber que o carácter que tenho, a minha maneira de ser, a maneira de ver as coisas, me deviam deixar orgulhosa, porque era bom e era raro, e etc etc, e que não devia precisar do reconhecimento ou orgulho de ninguém. E por muito que perceba a lógica, não chego lá, nunca cheguei (se calhar nem a mim me chego, não é só não chegar para os outros... lá está, eles têm alguma razão, está visto...até os percebo). E eu dizia: "mas isso não me faz chegar a lado nenhum (nem me faz sentir extraordinária porque me falta aquele olhar que me olha assim como se eu fosse o mundo... mas isto eu não disse, só pensei), atingir nada, ser nada... quanto muito a ter alguns amigos,  poucos e verdadeiros, e só." E então perguntei-lhe como me descreveria ele a alguém? e ele respondeu:

" um mundo de contrastes que não se está à espera; por um lado, pernas e património de categoria; por outro uma cabeça que funciona de forma notável; nada que o mundo nos ensine ser fácil de encontrar. assim de raspão, maior qualidade a honestidade; maior defeito ter dificuldade em receber com a mesma naturalidade com que dás, o resto fica para um dos nossos serões "

... e eu tive de me rir, pois, e depois fui dormir. E hoje foi muito sono de manhã.

(sono e toda partidinha... uma pessoa sabe que está a ficar velha quando uma caminhada, de cerca de meia praia, à beira mar, nos deixa com dores nas pernas, coxas, património e cansaço generalizado para pelo menos dois dias... irra!. Tenho mesmo de começar a fazer exercício... credo)

Bom Dia

22 junho 2015

Ando preguiçosa, muito preguiçosa, não me apetece escrever. Tenho vários posts alinhavados na cabeça, mas não me apetece costurar-lhes as letras, pensá-las, pensar-me até. 
Às vezes não me apetece nada, mesmo nada, nadinha, de absolutamente nada.
Mas hoje apetecia-me uma viagem assim, uma viagem destas, da fotografia.
Daqui até casa, ou maior se não chegasse, ou uma viagem com o carro parado. 
Apetecia-me viajar por mim, voltar a sítios de mim de que perdi o mapa, de que não sei o Norte ou Nascente. 
Apetecia-me desbravar sensações, cheiros, cores, lamber com os dedos, tactear com a língua, como se nunca se tivesse feito aquele caminho, como se tudo fosse novo, e, não sendo, fosse. 
Queria uma viagem que me surpreendesse, que me renascesse, que me arrancasse um amanhecer com uma estrela brilhante bem fixa no céu, que não fugisse, que desse o rumo, que me renovasse, que me redesenhasse os sonhos, e toda a viagem dum olhar que já não vê, duns olhos que já não sentem.
Apetecia-me uma viagem destas.

Bom Dia

21 junho 2015


... E pensar que há pouco mais de uma hora estava a suportar uma temperatura com mais dez graus, e agora molho os pezinhos e sabe bem. Muito mais fresquinho aqui. 
Depois duma caminhada à beira mar, parar num sítio de praia quase deserta como eu gosto, um livro e fones. Podia ser pior...
Bom dia.

O sangue que me corre nas veias também me corre daqui, também aqui me pertenço, me sou, e tão pouco me dou. Noite boa, quente, aconchegante, de gargalhadas aconchegada, põe-me a pensar, deitada sob um enorme céu habitado por minúsculas estrelas, que cada vez me acho melhor sozinha, sem a  preocupação de saber do bem de quem me acompanha, sem ter de saber se está bem, à vontade, se se sente bem ali, ao pé de mim, ou se a sua vontade já tem um pé na estrada para qualquer lugar. É uma espécie de conforto, é uma certa liberdade, um certo estar bem. Sem mais nada, só estando, a ouvir o coração bater e a olhar as estrelas, com conversas de fundo salpicadas de risos. Não sei se alguma vez encontrarei alguém com quem consiga estar assim, à vontade, nesta liberdade doce, onde a única amarra escolhida seria um olhar cúmplice, que nos descansa, que nos diz "estamos bem, estamos bem aqui". Um olhar em que cada um segreda ao outro "estamos bem em qualquer lugar em que tu estejas", um olhar que nos faz ponte e nos amarra na liberdade de estar bem. Cada vez acho isto mais impossível, e menos que esse impossível é-me cada vez menos possível.

Boa noite.

20 junho 2015


Mesmo com este calor que se cola à pele, há coisas a que não resistiria colar a boca assim. Metem-me estas coisas à frente e é isto que me dá para pensar... Devem ser os neurónios esturricados...

Bom dia 

19 junho 2015


Egeheheh
... E é isto!
(Temos de nos rir... ao menos isso ainda se pode fazer, só precisamos de sentido de humor, deveria ser em toda a gente um sentido obrigatório...)

Hoje sonhei, no meio duma noite em que não dormi, agarrada a uma insônia como não tinha há muito, sonhei. Sonhei com umas mãos atrevidas e que não eram tuas. Faziam de brisa com vontade de vendaval, percorriam-me a pele das coxas, levantavam a saia solta de vento e vontade, chegavam aquela curva onde as costas mudam de nome e lá o leve toque tornava-se vontade muda, agarravam-me, puxavam-me, e eu sentia um corpo onde me sentia bem no meu. Um corpo que me queria, que me agarrava, que me sabia agarrar. E levar. Atrevido, malandro, e que me fazia rir. Não me lembro do sonho mas lembro-me de o chamar, a rir, de atrevido. Só não sei quem era. Não eras tu. Era um médico (ironia das ironias... Quase tem piada, mas não engravidava para o prender, aliás se fosse dessas, teria engravidado de ti, tive anos de oportunidade e ainda me lembro quando me perguntaste se gostava de ter um filho teu, que nunca o perguntaste a ninguém, e que achavas que um filho nosso seria lindo...) e talvez me curasse de ti, lembro-me de ser a última coisa que pensei, a rir, no sonho, antes de abrir os olhos e dar por mim a pedir o vendaval da vontade daquelas mãos.

Bom dia

Verdade, parece-me.
Será esta, então, uma maneira de perceber qual é a errada? 
... E já agora dar umas luzes sobre a certa?... Hum?
Dava jeito uma receita.
A parte comprovada é que nunca ser suficiente, nunca chegar, é uma valente merd@, 
por isso tenho de experimentar a outra versão. Comprovadamente.

Boa noite




18 junho 2015

"Talvez eu seja um maníaco da equidistância. Em cada problema que se me apresenta, nunca me sinto atraído pelas soluções extremistas. É possível que essa seja a raiz da minha frustração. (...) Em geral é preciso bastante coragem (uma espécie muito especial de coragem) para nos mantermos em equilíbrio, mas não se consegue evitar que aos demais isso pareça uma demonstração de cobardia.(...)
A que propósito vinha tudo isto?Ah, sim. A equidistância que agora procuro tem que ver (o que é que não tem que ver com ela na minha vida actual?)  com Avellaneda. Não quero prejudicá-la nem quero prejudicar-me (primeira equidistância); não quero que o nosso vínculo arraste consigo a absurda situação de um namoro a puxar para o casamento, e também não quero que adquira o matiz de um programa vulgar e silvestre (segunda equidistância); não quero que o futuro me condene a ser um velho desprezado por uma mulher na plenitude dos seus sentidos, e também não quero por temor a esse futuro, ficar à margem de um presente como este, tão atraente e insubstituível (terceira equidistância); não quero (quarta e última equidistância) que andemos a rodar de casa mobilada em casa mobilada, e também não quero que fundemos um Lar com maiúscula."

Mario Benedetti, in A Trégua

[não, não é uma espécie especial de coragem, é uma especial  falta de coragem. Não é por se arranjarem supostas justificações para a cobardia, que deixa de ser cobardia. Os apelidados equilíbrios são apenas uma equidistante cobardia para duas alternativas que se pretendem continuar alternativas, porque só na equidistância as soluções continuam alternativas, mantêm-se alternativas. A opção obriga a uma solução, perdendo a alternativa. O resto são razões que se procuram e que se querem que justifique a confortável inércia de um horizonte por desbravar, sem nunca dar um passo em direcção alguma. As razões preferidas são as que se dizem ter a pensar nos outros, quase à laia de altruístas e nobres (nas que, mais das vezes, não beneficiam realmente ninguém), mas na verdade é sempre pensamento de - e a pensar em - quem as pensa. Há uma altura no livro em que esta conversa é desmascarada e onde um amigo, sem papas na língua (há quem lhe chame mau feitio, mas às vezes acorda-se muita gente...) diz exactamente isso, são apenas desculpas para não avançar e enfrentar o medo. Sempre o medo, do próprio, claro, vir a sofrer, vir a perder alguma coisa. Estas supostas equidistâncias, que se presume manterem equilíbrios, não são coragem alguma, são apenas o assumir do esforço (que pode ser grande, não digo que não) que tem de se fazer - às vezes até há quem as apelide de estoicismo -, que tem de se enfrentar e aguentar para evitar o medo de uma opção, e uma opção é sempre uma perda. Um sim é sempre um não a alguma outra coisa.]
Final de dia, a luz a lamber o horizonte devagar, a deixar-se ir, 
quente e lânguida, pela escuridão da noite que a abraçará. 
Uma mesa de café, uma brisa que refresca, uma companhia que arrepia a espinha e o sorriso malandro. É disso que ainda sinto falta, dessa sintonia, do rir no mesmo tom, do tocar nas mesmas cores, do olhar com o mesmo querer, de ler a mesma música sem haver pauta. Ou parecer. 
O que me faz falta, também, é a pele, como que me esqueço que me veste, esqueço-me que existe, 
não se arrepia a não ser de frio, não aquece a não ser por fora. 
Preciso de alguém que volte a fazer-me sentir,
 voltar a vestir a alma na minha pele, anda há demasiado tempo nua e perdida. 
A alma precisa de pele e a pele precisa sentir a alma. 
Ainda não sei dividir-me e ainda me falto inteira. 
E faltam-me fins de tarde assim. 
E começos de dia. 
E noites.
Inteiras.
Inteiros.

Bom Dia

17 junho 2015

Que maravilha de noite. Só falta a lua comparecer, aqui onde estou sentada não a consigo ver, mas sei que anda por aí a passear no céu. Também me apetecia passear, andar sem destino traçado com a certeza de chegar onde me quero.

"Há uma desproporção enorme entre a minha urgência e a lentidão de tudo."

Vergílio Ferreira

...assim como, tantas vezes, entre a minha lentidão e a urgência do mundo.
Estou sempre fora de tempo, e o tempo fora de mim.
Longe do perto, perto do longe.
Tantas - tantas! - vezes com pressa da lentidão que nos acalma.
A urgência de nada ser urgente,
de tudo poder ser saboreado ao sabor dos nossos lábios, 
da nossa boca, do nosso silêncio falado, 
dum sorriso lento que se arrasta pela noite,
 e mergulha, urgente, no dia por nascer.
... e pronto, é isto.
Eu podia dizer que sim, mas não digo; até podes dizer que fazes o documento assim há anos, não me interessa, o que me interessa é que isso não quer dizer que não pode ser melhorado, como te disse. Tu riste-te, porque deves ter percebido na pele aquilo que no outro dia dizias, que sou meia destravada, que digo o que penso e me apetece, assim, a seco e raramente com cerimónia. Perguntaste-me em jeito de brincadeira se estava a ralhar contigo, e se aquilo era o meu afamado mau feitio... achei estranho não se ter percebido logo que te estava, sim, "a puxar as orelhas", e que não apreciei o argumento da autonomia profissional, porque essa autonomia pode mexer com uma autonomia financeira que é responsabilidade minha... deves pensar que lá porque no outro dia me deixaste sem jeito por dizer que era bom ver-me rir porque a minha gargalhada é pura e espontânea, isso me faz não dizer o que tenho de dizer quando tenho de o dizer... hum... não funciona, nem penses... homessa!! Já a parte de gostares das discussões com "arte" argumentativa, essa parte já gostei de ouvir. Mas é bom que te habitues que aqui Amén não é o que se costuma dizer no fim de ouvir alguém falar.
Pronto era só isto.
Descarregar um bocadinho o mau feitio. 
Estava a precisar.

Bom Dia.

... Muitas até. 
Demais mesmo.

Boa Noite

16 junho 2015





"aqui, não há ninguém, nem sequer eu estou cá, nestas ruínas de saudades. Quem assiste de fora, vê tudo à beira mar e as ondas levarem para longe tudo o que foi meu, tudo o que fui eu. Aqui, já não sou nada, nem sequer o vazio absurdo em que me quis, nem a estrada que me leva para o fim..."

Daniel Camacho
(da sua página de facebook)

Leio isto e, mesmo que não queira, lembro-me :"já nada à minha volta faz sentido" ou "tudo à minha volta já pouco me interessa... acordo, vivo, adormeço diariamente consigo"...  como se dizer isto, e repeti-lo das mais variadas formas, fizesse algum sentido, ou, se fosse sequer sentido, de tantas vezes já mo terem dito, já um qualquer sentido se teria composto. Provavelmente foi o que aconteceu. Talvez agora já tudo o resto seja o que realmente interessa, talvez já tudo faça sentido... até o na altura nada ter sido sentido verdadeiramente como falta de sentido. Não sei, se calhar o problema foi sempre ter sido consentido ser dito e repetido, para ser apenas isso:dito e repetido. O problema se calhar foi meu, que sempre soube o sentido que tinha tudo o que eu tinha sentido, e dito.
Cheguei, não estava a perceber nada. Falo contigo sempre num pressuposto, nem me passava pela ideia que fosse diferente. Viro-me para a janela, de costas para ti, abres a janela e atiras uma coisa que trazias lá para fora, para se perder no tempo e no espaço. Abraças-me por trás, de alma nua, enches-me o pescoço de beijos, viro-me para ti com cara de parva, incrédula, cheia de perguntas nos olhos, nas palavras que não me saíam, tu riste-te como já não te oiço rir há muito - com a calma da confiança de que não se duvida. Abraças-me mais do que me beijas, em "beijos pequeninos mas fatais", pelo pescoço, ombros, cara, o que te aparecia à frente, e sempre a sorrir dizes "eu gosto muito da pessoa com quem escolhi ficar". E eu acordo. E não sei que raio perceber desta frase... Mas estávamos felizes. Estranho, muito estranho. Agora convém ir tratar da vida que este sonho já está arrumado, escrito e engavetado. Até porque o que sempre me ocorria quando diziam que gostavam muito, é que gostar muito, eu gosto do meu cão...


Boa Noite

15 junho 2015

Li isto e fiquei-me na última frase. Alguém me costumava dizer que eu lhe andava sempre alojada na nuca, que nunca lhe saía da cabeça, que parecia feitiço... E eu agora pergunto-me quanto tempo é que demorará a minha cabeça a vagar esse espaço, esse sítio onde está o que temos sempre presente, por muito que estejamos ausentes com mil e uma distracções...
E intimidade não penso que seja dar atenção quando dez outros a estão a pedir, é com um olhar sentimo-nos ligados, haver uma sintonia, como toda a atenção não consegue ligar ou ter... É um tocar diferente, é uma extensão da pele que se sente e conhece por dentro, onde guardamos todos os essenciais que nunca se ausentam de nós. Mesmo que nos queiramos distrair.
eheheheh ... e hoje acordei com isto na cabeça... e pior, a cantarolar por baixo da língua durante a manhã toda... é o que dá andar a recordar coisas muito antigas durante o fim de semana, no meio de risos e brincadeiras na mesa redonda do jantar em família, cada vez mais reduzida, onde já não se ria há tanto tempo... 
Acho que hoje de manhã percebi que apesar de cansativo, ainda assim, o fim de semana foi bom.
Se calhar o que nos deixa verdadeiramente cansados é a tristeza, por isso... 
MAHNA MAHNA... tu ru ru tu... 
...e o que não se sabe vai-se inventando.

Bom Dia




Verdade. Uma pessoa pensa que quer alguém que a queira, que a cuide, que faça por a saber e conhecer - alguém que a veja realmente para que possa abrir os olhos, acordar. E quer para que possa sonhar que ainda lhe podem abrir os olhos, para não ver que já os tem abertos há muito tempo, que o difícil mesmo é fechá-los.
Tramado é perceber que queremos alguém que nos queira mas que o que precisamos é de querer alguém... E que isso é dificílimo.

14 junho 2015


... Nunca consigo cumprir o calendário!!... Irra, nem este!! 
( e este não me importava... Bahhh)

13 junho 2015

...Há bocado descobri: o meu sonho, agora, acho que é mesmo esbarrar por aí com alguém que seja parceiro de ronha. Alguém que goste da languidez da manhã, que estique o tempo e a preguiça, que demore no mimo e no toque. Alguém que num dia de sol radiante não salte da cama a dizer que quer ir fazer isto e aquilo para aproveitar o sol... o que eu até poderei gostar, se em vez de ser para aproveitar o sol, for só para mudar a ronha e o mimo de cenário; de resto quero descansar devagar o olhar num olhar que queira só ficar assim - junto, colado, melado, com sol ou chuva, não interessa; interessa é aproveitar o tempo (não o clima), com quem saiba amanhecer ao nosso lado. 

Bom dia


Para a doença masculina do autodesprezo 
o remédio mais seguro é ser amado por uma mulher inteligente.

Friedrich Wilhelm Nietzsche

Diria que tanto para a doença masculina, como para a feminina - autodesprezo, inseguranças várias, medos paralizantes, tudo o que nos diminui. E sim, amado, só sendo amado, caso contrário o remédio poderá ter como efeito secundário, o conhecimento da doença ser usado, até manipulado, e criar uma relação podre de poder. Quando há amor, não há relações de poder, nem manipulação, há entrega, há partilha, há respeito, há usar tudo o que se sabe, e pode, para ajudar quem se ama - para tentar diminuir o que o diminui. 
Estou precisada - muito - deste remédio. Sem efeitos secundários, por favor.

Boa Noite

12 junho 2015

Tantas, tantas vezes!...
Deve ser coisa de ursa, mesmo.
... E de sentidos de humor que combinam.

Bom Dia
Estou aqui sentada do lado de dentro da janela, a olhar para o lado de fora a tentar ver o que trago dentro. O último cigarro do dia, o silêncio que fala alto, a luz que apagámos para ver melhor a luz que se esconde. Abro a janela com vontade de frio, de sentir a pele reagir à temperatura, a qualquer coisa, qualquer coisa que a acorde, ou que adormeça a dormência. Tenho de me mudar o avesso, pô-lo direito, ou torto, ou dá-lo à brisa para que mo leve, para que me deixe limpa como cada manhã que ainda não sinto amanhecer. Amanhã queria acordar outra, outra de mim, que me lembro ser, que serei ainda, depois de virar o avesso do avesso. Queria que amanhã o dia me amanhecesse; anoiteço-me há tempo demais, mas falto-me ainda, talvez, de noite cerrada.
Quero (voltar) a mastigar o sol com a pele e deixá-lo mordiscar-me a alma a rir.

Boa Noite
"Não posso lamentar a perda de um amor ou de uma amizade 
sem meditar que só se perde aquilo que não se teve realmente."

Jorge Luis Borges

[não se pode perder o que é verdadeiramente nosso,
 parte de nós.]

10 junho 2015


"O toque da mulher que se Ama é um sopro num balão, sendo que o balão somos nós, os tocados. Ficamos cheios de qualquer coisa que não sabemos muito bem o que é, mas que nos torna mais leves, às vezes com capacidade de esvoaçar.
Entre dois toques vamos esvaziando rumo ao estado murcho que nos torna intocados tristes. As mulheres sabem, mas fingem não saber, que os homens são assim. Jogam com eles o jogo do toque como se joga com um brinquedo qualquer.
Uma mão dada enche-nos o suficiente para alguns minutos, um beijo para algumas horas e o sexo todo para alguns dias. É o sexo todo que almejamos quando nos dão a mão, como um balão que precisa de vários sopros seguidos, cada vez mais fortes.
Estes sopros estão para nós como a respiração boca-a-boca para alguém que está quase a morrer. Salvem-nos a vida, por favor. A morrer, que seja por rebentar e não por ficar murcho.
Nenhuma mulher devia dizer adeus ao homem que a Ama sem lhe dar um abraço também; nenhuma mulher devia despachar o homem que a Ama com um "vai-te, vai-te que eu estou com pressa", sem um beijo na boca em que o tempo não conte; nenhuma mulher devia virar costas a um homem sem um "apalpanço" no rabo ou uma língua húmida na face. 

O toque da mulher que se Ama é o princípio da vida. O contrário é a morte."


["o contrário é a morte." - o contrário será a mulher que se ama não tocar, ou ser tocado por uma que não se ama??... fiquei com esta dúvida. De o toque ser o principio de vida, diziam-me que sim, qualquer coisa do género, de que bastava um dedo, um toque, o sentir a pele, como algo indescritível - talvez por isso nunca tenha conseguido perceber o que realmente era, o que seria esse toque. Obviamente não era o da mulher amada, ou a sua falta seria a morte, ou outros toques, seriam a morte. E vive, ainda, e muito bem.

E é bom saber isso, eu saber isso.]

04 junho 2015


... Ela aproximou-se dele, meio distraída, para lhe entregar o que ele tinha pedido, num gesto da rotina dos dias, ele agarrou no que não precisava pedir. Como o primeiro beijo que lhe roubou, não pediu e ainda bem, porque ela ainda não sabia que (e quanto) o queria. Não é possível pedir a alguém que se entregue, nem a alguém que agarre sem pedir e com vontade. Há coisas que não se pedem, ou se querem mutuamente, na espontaneidade do momento, ou não é pedir que as faz existir.  Por isso ela gostou que ele não pedisse, que nunca pedisse, e que tivesse agarrado o que queria, porque sentia-se que queria - que a queria, a ela, ali, naquele instante -, naquela altura em que lhe entregava o que tinha pedido, e sempre. E ela entregava-se sempre, e a cada vez, sabendo que tudo estava dito e tudo ficaria por dizer. Até à próxima vez.
Da última, a sobremesa ficou mesmo para o fim, pelo menos a do prato. Doutra o jantar ficou frio, outra ia queimando.
Ninguém reclamou. 

Boa Noite

03 junho 2015


Ahahahah 
... Pois!! É outra maneira de dizer a coisa!!
Com esta espero que o dia comece muito melhor que ontem...

Bom Dia!!

Só dentro dos teus braços me coube inteira, 
corpo de ponta a ponta, alma por todos os poros.
Eu, e todos os meus recantos,
dentro de mim,
dentro de ti.

Boa Noite

02 junho 2015

"O inteiro mecanismo dos meus sentimentos deteve-se há vinte anos, quando Isabel morreu. Primeiro, foi dor, depois, indiferença, mais tarde, liberdade e, ultimamente, tédio. Longo, deserto, invariável tédio. Oh, durante todas estas etapas, o sexo continuou activo. Mas a minha técnica foi picotar. (...) Nunca duas vezes com a mesma. Uma especie de resistência inconsciente ao compromisso, a circunscrever o futuro a uma relação normal, de base permanente. Porquê tudo isto? (...) A minha liberdade? É possivel. A minha liberdade é outro nome para a minha inércia. Deitar-me hoje com uma, amanhã com outra. Bom, é uma forma de dizer; chega uma vez por semana. O que a natureza pede e nada mais. É igual a comer, é igual a tomar banho, é igual a defecar. Com Isabel era diferente, porque havia uma espécie de comunhão e quando fazíamos amor parecia que a cada duro osso meu correspondia um brando côncavo dela, que cada impulso meu encontrava matematicamente o seu eco receptor."

Mario Benedetti, in ATrégua

[Há muitos tipos de morte, há quem nos morra e viva ainda, e há quem não nos morra tendo desaparecido do mundo. Mas quando nos morre alguém, vivendo ainda ou não, passa-se, provavelmente, por todas aquelas etapas. Mas a vida continua, continuamos (temos de continuar) a cumprir com a obrigação de sobreviver, a cumprir as exigências da natureza para a sobrevivência, até chegarmos ao tédio, à inércia, ao comodismo. Alguns chegam a um ponto em que se perguntarão "Porquê tudo isto?" (mas nem isso chega a todos, parece-me...) e a pergunta toma dimensões avassaladoras quando se confrontam os níveis básicos "do que a natureza pede e nada mais" (neste caso que fala o trecho, como alguém me dizia o "esvaziar os tomates" - uma expressão sempre boa e em voga), com o que está para além disso - com o conhecer a existência de "uma espécie  de comunhão", com o saber possível haver, para cada impulso nosso, alguém onde se encontra invariavelmente "o seu eco receptor". O que faz com que se continue nesta inércia do "picotar" ou da sobrevivência, é que há coisas que não se procuram, ou esbarram connosco sem aviso e as encontramos, ou não as conseguimos encomendar, produzir, disfarçar, fingir... simplesmente não dá! E então fica-se pelo que a natureza pede para que a vida vá correndo, e nada mais. Quando, por algum acaso, encontramos em alguém um eco receptor, que se sente como uma parte de nós fora da nossa pele, a natureza transforma-se, o nosso olhar altera-se, e a vida parece dar-nos uma trégua, um descanso de sobrevivência, mas exige que se rompa a inércia. Senão, não haverá trégua, a paz com a vida não se alcança, porque não será amor. A Trégua é sempre o amor.
O amor é a pergunta e a resposta da vida.]
[foto @inglelandi]

Há dias mais tristes que outros. Hoje o dia nasceu-me triste, muito. Se quisesse explicar porquê não encontro palavras onde estender a tristeza, não a sei dizer. Como em tanta coisa, só a sei sentir... ou não, nem isso sei, só a sinto - do saber, aqui, nada me chega. Vim o caminho, de manhã, a parir lágrimas pelos olhos. Não, não era chorar, aquele chorar inteiro, que soluça, que limpa, que nos verte o peso de dentro - era apenas isso um parir lágrimas. Não,  não eram lágrimas que caíam como cai algo que deixamos escapar das mãos descuidadas, quase sem sentir,  não, era um deixá-las sair a custo, a ferros, em que os olhos parecem querer rebentar, e só quando rebentam, as deixam sair, rolar pela pele, que não estremece, que não soluça, que não treme, a não ser por dentro e sem saber porquê. Sabendo que razões não me faltam: tenho saudades de todas as espécies, faltas de todos os feitios, cansaços de todas as ordens. Também ainda agarro com unhas e dentes o bem que me sabem as pequenas coisas, e as grandes pessoas que ainda me restam, mas há dias mais tristes que outros. Viagens piores que outras, pode ser que a de fim de dia faça nascer uma noite melhor.]

Nem tudo o que em ti vejo me inquieta.
Mas tudo o que em ti beijo me acalma.

Joaquim Pessoa in O poeta enamorado

Boa Noite

01 junho 2015

Escuridão é ausência de luz.
As sombras são fruto da luz.
Os nossos medos habitam-nos as sombras,
Porque ter medo implica arriscar
Só arrisca quem tem a perder.
As sombras conhecem a luz.
Não são escuridão.
Só tem medo do escuro quem conheceu a luz.
Só tem medo da luz quem habituou os olhos à escuridão.

Fiquei a pensar nesta coisa da essência... e lá por alguém ser em essência uma coisa não quer dizer que não possa em determinado momento e por vários motivos ou circunstâncias fazer alguma coisa fora do que lhe é natural. Uma pessoa em essência fraca não está impedida de em certas alturas conseguir ser forte, assim como alguém com força de espírito também fraqueja, também sucumbe. Alguém de mau carácter também pode ter atitudes moralmente decentes, assim como um bom carácter pode perder a cabeça e ser às vezes um estafermo... Tendo a concluir que nada é estanque, definitivo e fixo na vida, muito menos nós; apenas variamos e moldamo-nos em cima do que a nossa essência tem por estrutura, e nos deixa moldar e ceder.... e passar dos carretos também.
Curiosamente a essência é aquilo a que sempre voltamos, porque é o que somos, é a nossa maneira de responder à vida, mas sempre haverá excepções, parece-me, e essas não desfazem quem somos, apenas confirmam por serem (um)a excepção.
Bom, e agora vou-me pirar, que apetece-me uma esplanada e um fiozinho de sol e hoje ainda há tempo... acho eu.
... o pior é que é verdade...
depois de a alma sofrer tantos desvarios e apunhaladas,
é difícil acreditar que mantém a mesma essência, a mesma alma, apenas com mais medo, com mais defesas. Qualquer flor parece um punhal, um espinho gigante à espera da nossa pele para se alojar.
Mas acho que as pessoas de alma grande, (como alguém um dia me chamou lembro-me agora por me sair esta expressão), mesmo com a centrifugação acelerada da vida, das mentiras que nos torcem e distorcem, das dores que nos encolhem, dos medos que nos paralisam, das coisas que nos fazem ferver e gelar, da proximidade a que nos deixamos estar e entregar, oferecendo conscientemente a possibilidade do punhal a quem achamos que nunca nos faria mal - essas almas, acredito que por muito que sofram, e passem, e a vida não lhes corra como gostariam, não conseguem encolher a alma, encarquilhar definitivamente o olhar, tornarem-se rasteiras, baixas e mesquinhas, cruéis ou mentirosas. Não conseguem, e não é que às vezes as ideias não lhes atravessem o pensamento, mas simplesmente, depois, não se sabe porquê, não se consegue passar do pensamento.
A essência é uma coisa que por muito que passe não passa.
Para o bem e para o mal.
O que acontece é que só se vê a diferença quando nos apunhalam, enquanto só nos dão flores nada se demonstra. 
E quando só nos dão facadas há tempo demais, já nem nos lembramos de como era sentir as flores dentro do olhar quente de quem nos queria dar flores, mesmo que não desse.
Já não me lembro, quero recuperar essa memória com verbos no presente. 
Pode demorar tempo, demorará, eu sei, mas um dia.... um dia, quem sabe.

Bom Dia

Sento-me aqui, à janela, a fumar o cigarro que o frio desencorajou de fumar lá fora, e penso nesta minha mania de ir lendo os livros e de os ir marcando quando alguma coisa que leio me marca, me faz parar a leitura para reler e pensar, e entender, essa coisa que é a vida, e que dizem que é o que andamos cá a fazer. Tento perceber como se podem pensar as mesmas coisas de maneiras tão diferentes de mim, às vezes, e outras tão parecidas. Acabei de ler "A Trégua", de Mario Benedetti, no fim‑de‑semana passado numa esplanada à tarde, e estive até agora a transcrever algumas das passagens que fui marcando. E ponho-me também a pensar porque farei isto, por que o faço há tanto tempo?, e uma das razões é que gosto de reler, de vez em quando, esses excertos e assim ficam registados aqui, como tantas outras coisas que gosto de reler. Mas enquanto o faço outra coisa acontece, é que vejo agora alguns sinais, algumas subtilezas do autor, que só depois do livro lido se percebem, e apercebem, plenamente. Como se realmente pequenos pormenores só se entendam com a história completa e revendo o passado. Penso que na vida, se calhar, também será assim, se pudermos ter registo desses pormenores para os rever, os reler, os entender a outra luz, talvez. A luz da vida que passou no tempo. 
Ainda não acabei, faltam algumas passagens, quando estiver completo vou deixando aqui. Agora tenho a cabeça cheia de coisas, tenho de as esfumaçar em silêncio e escuridão - onde as pequenas coisas que valem a pena brilham mais. As que têm luz própria.

Boa noite