Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

12 junho 2014


A minha mãe trazia os olhos vestidos de desespero, via nos meus falta de vida, e no corpo falta de vontade. Não sabia já o que fazer, o que me fazer. Saiu do quarto. Apareceste tu. Percebi que te tinha chamado, o desespero de mãe corta todas as ideias que alimentam os princípios, que deixam de se ter, deixamos de pensar, passamos a só querer alguma coisa. Ela queria que eu quisesse. Trouxe-te para eu querer alguma coisa, para alguma coisa me agarrar, porque a nada me agarrava. Estás à minha frente e eu não queria, não queria que me visses assim, sem espinha, sem força nas pernas para te enfrentar, sem força nos olhos para te ver, cresci em mim, nasceram forças do vazio que trazia e enxotei-te, disse-te coisas para me magoarem mais a mim que a ti, porque sabia que isso te magoava, e não te queria ali perante a minha impotência, a minha falta de defesas e de vontades, de ganas, aquela não era eu, mas os restos mortais que a vida e tu e me deixaram. Inclinaste-me para o que eu penso seria a intenção de um beijo na testa, virei-te a cara, e disse-te só "Adeus". Tu resignado, sempre resignado, até perante a minha resignação que mal cabia naquele quarto de hospital, até assim te resignaste, até assim me deixaste ir, deixando-te ir. Passaste a porta e eu fiquei de novo vazia, mas cheia de inquietude. A minha mãe de novo. Passaram uns minutos no silêncio da confusão que me ia dentro há tanto tempo, disse só, "vai buscá-lo, nada disto faz sentido". Entraste outra vez, levantei-me com muito custo e pedi-te que te sentasses. Sentei-me ao teu colo, aninhei-me em ti, como se ontem tivesse sido a última vez, encostei o nariz ao teu pescoço e senti outra vez o mesmo calor, o teu cheiro de novo, a intimidade entranhada, abracei-te o que as forças deixavam, e senti-te tremer por dentro do peito, afastei-me para te ver melhor e tu começaste a tremer por fora, a soluçar, corria-te pela cara o que sempre prendeste naquele brilho mais brilhante que os teus olhos mostravam quando as conversas eram mais despedidas que conversas, mas desta vez, sem conversa, tu deixaste-te ir e choravas como um menino, e eu ouvia-te sem que falasses, não querias que te deixasse, e repetias vezes sem conta, e abraçavas-me com o medo da força com que o fazias, e eu respondi-te em voz para que me ouvisses por fora " não fui eu que te deixei, foste tu que me deixaste, foste tu que nunca me escolheste para ti", e calei-me enquanto com beijos pequeninos te secava as lágrimas que te desabavam dessa dor que não estancaste, a que te resignaste. Por fim o silêncio, por fim paraste, por fim parei.

[Repost de 9 de Maio de 2012, releio-me e percebo-me a falta. a falta de mim]

"Tive o que pude, não tive o que quis. Terei de saber lidar com a sensação de incompleto que me completa os silêncios vazios na cama. Fui tão maior e melhor por ti...Nunca contigo. Nunca contigo...

E, perdoa-me a franqueza, fui o melhor que te podia ter acontecido e negaste-me o amor perfeito.
Teria sido maior que mil homens.

Amei-te por mil homens.Vou amar-te em mil mulheres."

Do miúdo.

Diz o que sinto, só não quero amar-te em mil homens. Não quero procurar-te em ninguém. Quero procurar-me em mim. Encontrar-me e dar-me inteira, sem ti, a quem me faça sentir bem comigo, me valorize e me prefira, sem qualquer dúvida, entre todas e quaisquer mil mulheres.  Todas.

(miudo, gostava muito de te dizer que o que dizes não é verdade, que não vai ser assim, que és muito novo e o Amor da tua vida ainda mora algures no futuro, mas nunca to poderia dizer convicta, acho que poucos têm a sorte de o encontrar, e o Amor não se compadece com idade,  vida ou contextos, não é quando dá jeito, é - com todas as forças que esse Amor te dá - dar um jeito de ser, e se for para ser, será. Digo-te apenas que torço muito para que não seja verdade, e que voltes a sentir de forma diferente porque nunca nada é igual, mas de forma tão intensa como nesse amor que apelidas da tua vida, que te arranque das tuas certezas e te mostre outras cores no mundo, que te agarre e arraste além de ti e para o melhor que possas ser, que a vida, e alguém, te volte a surpreender além do que possas sonhar. É sempre além do que se sonha que está o sonho que se deve viver.)


Qualquer semelhança com a realidade é pura pena minha.... bem gostava!!
Ora, parece que há dois anos deixei escapar um destes, lamentavelmente, não dei conta.
Nem que tivesse chegado nem que me tivesse deixado... ora portantosssss se alguém souber de algum mocinho destes - ou aproximado, vá.. - .pode mandá-lo ao meu domicílio que eu prometo que deixo que ele me ausculte o coração (descobriram que o danado tem um sopro pode ser que ele me conserte soprando-me ao ouvido coisas boas para o coração e que arrepiem a espinha e o caminho...) e me dê umas injecções de felicidade. Mesmo sem status. Não faz mal. O único status que me importa é ser feliz. Se não sempre, maior parte do tempo, e ter a felicidade de ter alguém ao lado que goste de mim nos restantes momentos.




Hoje vim o caminho todo sem música, só debaixo do sol, com o olhar atrás dos óculos de sol novos - porque uma rapariga tem essa coisa da terapia de compras, com amigas que gostamos de fazer rir e rir com elas, e entretanto vestir, despir, experimentar, dizer que sim, dizer que não, e passar o tempo só com parvoeiras que saem caras mas saudáveis. E então, dizia eu, vim a pensar numa serie de coisas, e estou cansada da escuridão deste blogue (percebi ontem no flashback a que me impus), eu sou assim, mas não sou só assim, e embora já tenha outro blog onde me vou tentando escrever, vai ser neste, aqui, que eu espero conseguir dar-me a volta. 
Às vezes é preciso espezinharem-nos de tal forma, dirigirem-nos tal mesquinhez e mentiras, que ao notarmos tanta falta de carácter e de tanta coisa, que ainda por cima apesar de premiada com o que desejam, o que tanto desejaram, mesmo depois de vitória em punho, não sabem ganhar sem tentar humilhar e espezinhar a quem entendem que ganharam, como se algum dia isto tivesse sido uma disputa, e no entanto, nem o sabor que deveria ser doce da suposta vitória, ou pelo menos de se ter o que se desejou, acalma a maldade das atitudes. É então que percebemos que por muito pouco que possamos valer não espezinhamos, nem nunca espezinhámos, ninguém, não mentimos e não prejudicamos ninguém conscientemente, basicamente não nos identificamos com esse mundo de fachada e tão podre por dentro. Chega-se a sentir vergonha alheia de tal mundo em que alguns vivem.
Então, se este blog é um pouco o meu espelho, vai ter de funcionar ao contrário e fazer-me tentar dar a volta e trazer-me de volta a imagem do que quero para dentro de mim, porque também é o que sou, as brincadeiras, os posts atrevidos, o sarcasmo, a vivacidade.
 Porra, eu não vou amargar nem deixar-me morrer o que tenho de bom. 
Não vou. 
Ou vou, pelo menos, tentar.
 É coisa que de mim não podem dizer, que não tento sempre o que quero, o que acho que me fará bem e feliz. Não tenho essa cobardia. Essa pelo menos não tenho. Terei outras. 
Por isso, deixei cair os tomates mas voltei para os buscar. 
eheheheh
Bom Dia


Mais uma vez a tentar fazer algum sentido de tudo. Comecei de trás para a frente, do mais antigo e fui andando. Já me ri, já me lembrei de coisas que pensava ter esquecido, mas leio a primeira frase e lembro-me do que era, da situação, de muita coisa. Estive a ler os diálogos através dos comentários, as brincadeiras, os subterfúgios das palavras que falavam sempre mais do que se podia ler. E não sei o que aconteceu. Não percebo. Agora parece que lhe pareço amarga, sem brincadeiras, sem doçura, sem nada, e não é verdade, não o sinto verdade. E gosto destee blog, este blog sou eu no que tenho de mais tonto e de mais sentido, de diabinho e de angelical, talvez. O que tenho de Eva afinal. Já não sou Eva? será isso? Deixei de ser, o que mudei? o que mudou em mim? o que mudou neste blog? Parece-se comigo mas é menos eu, é só a parte mais dura, mais dorida, mais magoada de mim. Não quero. Quero acreditar em beijos e em gostar e em mimo e em desejo, e em misturar tudo com gargalhadas e calor doce. 
Boa Noite

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir

Chico Buarque

[letra linda. ainda há coisas lindas, é a essas que temos de nos agarrar e acreditar que são possíveis, ou a vida será uma tormenta infindável, como a noite de hoje.]