Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

09 julho 2014



"é sempre
uma história de amor:

a árvore
que se afeiçoa ao pássaro

o sol
que se liga à água

os olhos
que se prendem ao mar"


gil t. sousa

[os fins de dia, o cair do entardecer no horizonte, o peso do dia (ou da noite?) a descer aos ombros, o olhar dos nossos olhos a poisar de novo em nós, a alma que alua antes da lua.
coisas que combinam com este poema, coisas que este poema me traz devagarinho, arrancando dos dedos as palavras que estas linhas me traçam, em que me emaranham os sentidos que sentem além dos sentidos... 
simplicidade no sentir o que se vê,
simplicidade no ver o que se sente. 
claramente.
de olhos fechados, como de olhos abertos
como a cor alaranjada do calor que se sente mas nem sempre se vê. ]

" (...) amo-te companheira e amo-te puta, conselheira e estrela porno, amiga e confidente e conjurada, enquanto te olho nos olhos e se me abre um sorriso de querer ser velho contigo, mas logo quando te viras só quero é apalpar-te o cu."
Só mesmo Menino para dizer isto, e dizê-lo assim.

Aliás, andamos a roubar coisas ao moço desde sei lá que tempos (desde que lhe descobri o blog e acho que foi logo ao inicio), aqui o tasco começa a ser apenas uma sucursal daquela morada... mas que fazer? há coisas que ele diz que eu gosto de ler, e que gostava de ouvir... e o que uma pessoa gostava de ouvir também a define, tanto como aquilo que diz ou -  mais ainda - que gostava de dizer, e tantas vezes tem de calar. Por isso tantas vezes nos definimos tanto pelos sonhos que temos, que desejamos como pelo que fazemos nos dias que nos fazem a vida, querer uma coisa é ser um pouco essa coisa. Eu devo gostar que quando me viro alguém (aquele determinado e certo, tão cert, alguém) tenha vontade de me apalpar o cú. Mas que isso seja também uma faceta de querer envelhecer comigo, e já agora com o meu cú...
......Xxiiiiiiiiiii
parece que estamos no meio da selva....
só falta mesmo o Tarzannnnn!!!

(as coisas que eu me lembro, a sério, eu não tenho remédio, só sai parvoeira...)

"(...)There are several kinds of love. One is a selfish, mean, grasping, egotistical thing which uses love for self-importance. This is the ugly and crippling kind. The other is an outpouring of everything good in you — of kindness and consideration and respect — not only the social respect of manners but the greater respect which is recognition of another person as unique and valuable. The first kind can make you sick and small and weak but the second can release in you strength, and courage and goodness and even wisdom you didn’t know you had.(...)
And don’t worry about losing. If it is right, it happens — The main thing is not to hurry. Nothing good gets away."

Carta de John Steinbeck ao filho que se apaixonou...
...se valer a pena não foge. 
É, deve ser isso.
O Steinbeck deve saber do que fala.

"nunca gostei do anel que marido e mulher usam. porque tem pouco de pessoal, tem pouco de história, de amor. porque tem muito mais de posse, de padrão, de obrigação: porque todos usam no mesmo dedo, no mesmo formato, e para todos, significa o mesmo. e eu não gosto de coisas padrão. por isso prefiro, muito mais, todos os anéis, fios, pulseiras que tem uma história própria, um significado seu. que são usados não porque sim, mas porque apetece naquele dia, naquela hora. não porque estão sempre lá - mas porque estão sempre a ser lembrados de se porem lá. bonito quando alguém usa um fio porque acordou a pensar no que ele significa. bonito quando alguém usa uma pulseira apenas porque lhe apetece beijá-la no pulso durante o dia. porque ai sabemos que estamos ali, não por hábito, mas por uma vontade idiota, quase infantil -mas pura-, de estar junto.(...)"

É por isso que eu gosto de objectos com alma, com a alma que lhes damos quando lhes atribuímos um significado, uma memória, um cheiro do que se sentiu e se repete cada vez que esse objecto nos toca, o pomos ou o tiramos, ou passa pelo nosso olhar. Até pode ser só uma música, um cd, qualquer coisa, até pode ser um nome que se põe a um filho, que não tem nome de moda mas tem um nome que tem história própria, de raízes e de sangue, e duma alma que se quer dar. Gosto das coisas com significado próprio, um significado que só existe num mundo restrito e nosso, como um código mudo feito de memórias e gostares e de querer recordar o quanto se gosta em coisas pequenas; em quanto se revive e se ama e se sorri por uma música que traz atrás uma conversa, uma imagem, um sentir. E sempre um sorriso revivido no presente, mesmo que tantas vezes entre lágrimas salgadas. Uns óculos oferecidos porque andam sempre pendurados perto de quem queríamos sempre perto, para nos lembrarem, ainda que saibamos que só nós nos lembramos. Só nós nos lembramos porque os demos, o gosto que a ideia nos deu, o porquê da ideia e o que pensávamos que poderia provocar de sorrisos, que se queriam partilhados ainda que na distância. A alma está no entender das pequenas coisas, coisas nossas, vedadas aos olhos de quem só vê a superficie, como um segredo bem guardado por dentro do calor do outro que se sente no mais frio dos dias, está no saber que objectos nos andam sempre pendurados para lembrar sentimentos que não se despenduram nem nos largam, que queremos que não larguem.
No fundo porque queremos ser lembrados, para nos lembrarmos - logo depois , e entendermos - que quem quer ser lembrado é porque não o é.
Eu não quero voltar a usar aliança, aliás cada vez mais estranho vê-las, desenvolvi uma relação muito estranha a vê-las a assimilá-las. São exibidas com gáudio mas raramente são sentidas, muito menos sentidas com ganas, com ganas de sentir alguma coisa, mesmo que nunca se tirem. Coisas sem alma nenhuma e cheias de fantasmas que nos desabitam, tantas vezes.
É engraçado como eu, que tendencialmente não gosto de coisas repetidas, me apego tanto e tão facilmente a rituais. E digo rituais e não hábitos, porque hábitos são repetições quase inconscientes, fazem-se quase sem fazer, e tantas vezes sem pensar. Os rituais são coisas que nos dá prazer repetir, e se calhar às vezes fazer exactamente da mesma maneira, mas fazem-se conscientemente pelo prazer que sabemos que nos dão. Como este. O de fumar o último cigarro à varanda, agora que o tempo -mesmo estando fresquinho a esta hora, que está- é mais convidativo a isso, e com isso pôr-me aqui a escrever o que a minha cabeça vai dizendo. É o meu bocadinho de mim que me deixo ter, em que dou largas a mim, e me vejo pensar. E me deixo sentir. E é isso, gosto de rituais, e vejo que me fazem falta alguns. Não era hábito, era prazer consciente de que o é. No fundo o prazer nunca se repete, renova-se. Por isso não cansa.
"-Não tens razão. Toda a gente pode ser amada.
- Poder, pode, mas não quer dizer que seja.
-Porque diabos achas que enfiaram seis biliões de pessoas no mundo, se não foi para isso???
-..... para eu andar entretida? hummm?"


"A única razão porque preciso de ti é que tenho este vazio no peito, que fui escavando, que tem precisamente a tua forma, e só tu lá encaixas. E se acaso saísses, ficava um buraco, o que era coisa para me incomodar."

Do Menino

A coisa mais deliciosamente linda que ouvi nos últimos dias... acerca de amar ser não precisar, e do medo de não precisarem de mim. Eu tenho tantos medos. Não precisarem de mim é um bilhete de ida para longe de mim, e o longe de mim não é para fora de mim. Talvez por isso a falsa segurança que dá precisarem de nós, porque nunca se precisa de ninguém para sempre, mas pode-se amar para sempre. Eu é que acho que não a mim.
...parece-me bem.
Isto sim era um belo serão...
ou melhor, pronto.
e apetecia-me.
muito.