Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

13 agosto 2012

"Estou na ponte"
"Eu estou no sofá"
"Um  dia trocamos"

Sim, um dia trocamos, eu estarei na ponte e tu estarás no sofá, só não neste, nem à minha espera, como eu sempre estava.
Sinto falta também destas brincadeiras, das mensagens, das gargalhadas que te conseguia provocar. 
E por estranho que pareça, a minha única terapia, e o meu único consolo, tem sido este, escrever o que me passa na cabeça como quem fala contigo, ainda que sabendo que já não estás desse lado. Ainda que escreva apenas para me tentar expurgar das coisas, porque do outro lado já não há voz, já não há nada. Mesmo que me lembre de quando me disseste que não me esquecerias nem em 20 anos. Tens uma qualquer fixação com o número 2, ou são 2 meses quando te perguntava certas coisas, sempre com a mesma resposta dos 2 meses, como chegam 2 meses para achares que tudo seria passado, como bastaram 2 semanas para isso ser verdade para ti. Passado.
Eu pergunto-me onde estarei, como estarei daqui a 2 anos, e tenho medo da resposta.
"«Não precisa dessas roupas para nada, avó», disse a Natália, e saiu zangada comigo. Como explicar-lhe que só preciso do que não serve para nada? Ela nunca compreenderia. Casou-se com um rapaz que lhe serve para tudo. Dividem a prestação da casa comum e dos automóveis individuais, ele cozinha e ela arruma a loiça na máquina de lavar, apoiam-se mutuamente em épocas de crise, gostam dos mesmo filmes, livros e discos, e sobretudo, garante ela, «cada um respeita o espaço do outro».
   Se não fosse a Natália, e se não fosse uma heresia, teria dito «Ámen» quando ela veio, eufórica, debitar-me esta lista de vantagens e convidar-me para o casamento. mas só me ocorreu perguntar-lhe se estava apaixonada por ele. Riu-se de mim. Fez-me uma festa na cara, mas riu-se de mim, e explicou-me que hoje as mulheres já não são tão tontas que se casem por paixão. Disse-me que está estatisticamente provado que os casamentos por paixão acabam ao fim de poucos anos. 
(...) Queria lembrar-lhe as noites que passei a limpar-lhe as lágrimas e a ouvi-la falar do Álvaro, por causa da condescendência com que ela me passara os dedos pelo rosto. Queria lembrar-lhe as vezes em que me confessara: «Preciso de sentimentos à antiga, Jenny, com maiúsculas, leis e provas de passagem!» Tinha saudades dessas noites em que ela me falava do amor dos homens numa linguagem que eu podia entender, sem entrosamentos nem estatísticas."

"Mudava o riso em lágrimas em menos de um segundo. Passei anos a temer que esse excesso de nascença lhe rasgasse a vida em pedaços. "

"Não tinha medo de se perder; sabia que é esse o preço da inquietação."

Inês Pedrosa, in Nas tuas mãos