Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

11 março 2015


"A primeira vez que dei por ti, foi quando dei pela tua falta. "

Miguel Esteves Cardoso

[é triste, mas acho que há muito quem seja assim... ]

Hoje liguei o bicho ao carro, aquele bicho que tem tudo, que quase podia contar a minha vida... e pus aquilo a tocar em aleatório... e saiu-me isto para abrir as hostilidades.. e eu gostei. É a minha música... ou é a minha música muitas vezes. É a música que uma mocinha que eu tenho aqui à frente tem no telemóvel para o meu numero... porque diz que é a minha música, porque eu dou em dançar quando isto passa no rádio, não consigo evitar... o que enfim dá direito a fornecer-lhe tesourinhos deprimentes que me impedem as ambições politicas que não tenho... 
Gosto, gosto da música, do tom, da vontade que me dá de dançar.... dançar: coisa que me falta há tanto tempo. Só conheço duas maneiras de libertar o  corpo e dançar é uma delas - e falta-me muitas vezes, é uma falta que se sente densa no corpo às vezes. Libertar o corpo, soltar cabelos, entregá-los ao vento, dar o corpo ao sol, mergulhar no ritmar do mar e fazer-me terra funda, onde se enterram os sonhos que voam alto e nos escapam, ou querem. Dançar e deixar o corpo ser o movimento que tem, mostrar o que é, respirar mexendo-se - fechar os olhos para ver por dentro a música a falar com o corpo, deixá-los conversar, rir, respirar, mexer juntos, gargalhar vivendo-se. 
Gosto, gosto da letra e do tom em que é cantada, talvez qualquer coisa naquele tom tenha algo que guardo na essência do que quase não mostro... e depois, depois, lembra-me o que me costumam apontar, os olhos, ou talvez mais o olhar expressivo que os olhos, o falar mais com os olhos que com a boca (alguém me dizia a rir há uns tempos "tu és tão expressiva, e tens tantas expressões diferentes, que às vezes, se uma pessoa se distrai, nem pareces tu mas és sempre muito tu"...), e a maneira como me mexo, que me lembra comentarem a forma como ando, coisa também reincidente nas pessoas que vão passando pela minha vida e que me ficaram de alguma forma... há coisas que ficam, e esta música lembra-me muitas delas, e por isso me acorda por dentro e dá vontade de mexer, de dançar, de sorrir com o corpo, e sim, pode não durar muito, mas dura o que durar... há que aproveitar o que mexe connosco e nos faz mexer! E eu hoje, mesmo a fazer figurinhas tontas, já dancei dentro do carro e por dentro de mim, e isso parecendo que não, é uma coisa boa, bem boa, mesmo...

Bom Dia.

Morro de ti, amor, de amor de ti,
da urgência da minha pele de ti,
da minha alma de ti e da minha boca,
E do insuportável que sou sem ti.

Jaime Sabines

[Falto-me na urgência de não me faltares.
Desalmada por um beijo roubado,
Tenho a alma a morar na tua boca
Em todas as palavras que o silêncio engoliu
E  tu calas em beijos que guardas de mim.
Matas-me por dentro dos teus lábios
Morro-te por dentro dessa pele
Que me prende a alma
E eu resto-me, insuportável, 
corpo oco,
De ser sem ti.]

Boa Noite