Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

10 janeiro 2012

 
Há imbecilidades que eu tenho pena que não mas digam a mim. Tenho tido poucos momentos de diversão ultimamente, e isso sempre animaria. Ouvi no outro dia que alguém teria dito que as pessoas que se separam nunca mais conseguem ser felizes. E eu tenho pena, tenho mesmo pena que estas coisas, não só não me sejam ditas a mim, como não sejam ditas em público, talvez porque saibam o quanto são imbecis e não estarão convencidos do que dizem, ou então, pior, estão disso convencidos, mas não o assumem com medo de que em reunião social haja algum infeliz separado, que certamente não se calaria à imbecilidade em questão. Para além do perigo de haver pessoas que podendo já ter sido divorciadas, ou separadas,  já estariam em novas relações e agora felizes, e era chato ter logo ali à mão uma prova empírica que apontava o dedo bem recto à crua imbecilidade proferida. Seria humilhante, mas devia-o ser mais dizer certas coisas e ficar impune. De facto não sei qual das duas hipóteses a melhor, porque as duas me parecem bastante más. Se se diz sem se estar convencido disso, não faço ideia porque será que o dizem, a não ser que estejam a fazer de quem os ouve imbecil (tentando-os convencer duma imbecilidade), e por isso seguro de não replicar. Se se diz convicto da barbaridade em si, mas não se repete em sítios susceptíveis de discussão, parece-me um pouco cobarde, ou hipócrita, no mínimo. 
Parece-me estranho que alguém não se separe com a razão de que depois de separado não mais será feliz. Não me parece o ponto de partida, o inicio lógico seria perguntar se a pessoa casada está feliz. Se está, a questão não se coloca, pelo menos não a ela, poder-se-á colocar se a pessoa com quem está casada não estiver feliz. E se uma não estiver feliz, será possível fazer a outra feliz?? Melhor, será possível alguém ser feliz sabendo que a pessoa com quem está não está, ou é, feliz com ela? Que a razão de se manterem casados é porque as pessoas que se separam nunca mais são felizes? E casadas são? Uma das partes obrigando o casamento a aparentar manter-se é felicidade? Para quem? A infelicidade é reconhecer isso mesmo e tentar ser feliz???? Ver que não se está bem, e que é impossivel alguém o estar junto de alguém contrariado? Dar a oportunidade de os dois serem mais felizes, um por vontade própria e o outro porque não se consegue ser feliz ao lado de alguém que só o está por obrigação, contrariado, para cumprir contrato? 
Bom, só consigo encontrar maneira de responder que sim se virem a felicidade de se estar com alguém duma maneira muito diferente da minha, ou seja, estando com alguém mas sozinho, e assim ser feliz com isso. E isso é um casamento? É. De há uns séculos atrás, mas é. Quando o casamento era um contrato onde cada parte tinha um ganho, uns casavam com o estatuto e posição social, outros com o dinheiro novo, ou então juntavam grandes e boas famílias para aumentarem fortuna, poder, ou laços estratégicos de negócio. Sim, assim faz sentido. O casamento tem uma razão racional e bem sustentada, e cada um vivia, mais ou menos, a sua vida. O homem era feliz se tivesse dinheiro, estatuto e mantivesse a amante que gostasse. A mulher, a mulher não faço ideia, era feliz porque tinha uma certa posição social, e os filhos, e lia, e bordava, ou coisa que o valha. As mais audazes e espertas lá conseguiam maneira de também arranjarem muito discretamente (muito mais do que os homens, que abertamente lhes era admitido) um amante que lhes alegrasse as horas entre os bordados, as leituras e o canto. E pronto, era assim. Ninguém se separava, claro, porque o fundamento do casamento não era a felicidade, quanto mais o amor. Depois puseram-se a inventar e acharam que a inovação do amor como fundamento do casamento era mais engraçado, deram liberdade às pessoas para se escolherem entre si. Estragaram tudo, estava tudo tão direitinho, certinho e racional e deram cabo da instituição. O paradigma mudou, ou melhor, para alguns mudou, para outros pelos vistos não (devem ser pessoas retrógradas e machistas, só pode). Realmente, e no que toca ao casamento, o amor, ou a pretensão à felicidade, estragou tudo, porque se tornou muito mais difícil escolher, acertar nessa escolha, e ainda por cima logo à primeira (uiii...porque se nos separarmos temos o carimbo da infelicidade nas trombinhas...)!! Até aí concordo plenamente, agora que se assuma que as pessoas casam por amor, e para serem felizes, e não o sendo, não se separam, porque senão serão infelizes é que eu não percebo... E a quantidade de pessoas que se divorcia e que encontra alguém com quem realmente se dá bem (acertam à segunda, vá... bolas...cambada de pessoal com má pontaria na escolha!!)? De quem realmente gostam? Problemas, chatices?? Terão, claro, mas não terão mais ainda presos a um casamento onde não são felizes e onde já não sentem razão para estar? Onde tudo é um problema e uma chatice só, sem príncipio nem fim? 
Não percebo, devo ser estúpida que nem um pneu. 
E expliquem-me por favor como é que alguém consegue ser feliz se achar que a sua felicidade está em prender alguém? Em saber que só não se está sozinho por ter o poder de prender alguém? ou tentar, sequer? Em obrigar alguém a estar ao seu lado? E estar bem assim? Isto chama-se o quê? Manipulação? Ditadura? Egoísmo extremo? Estupidez?
Alguém me quer explicar?