Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

08 julho 2014

Amén.
Assim seja.
Assim o espero.
Estava até capaz de acender uma velinha...
... mas tenho medo que se apague...


"O amor pode matar, pode levar à implosão dos amantes, à sua transformação em algo mais, numa amálgama de corpos em que já nem um nem outro se reconhece, da qual se acabam por afastar ambos, desiludidos por deixar de ver o corpo amado, por deixar de se ver a si mesmos. O amor não é uma colisão mas uma órbita, um bailado, uma sucessão de movimentos de dois corpos em torno de um ponto invisível que lhes serve de fulcro, em movimento permanente. Achar este ponto é difícil; mas talvez a solução seja não o procurar – seja cada um dos astros seguir o seu caminho próprio, nem que pareça afastá-lo do outro, e deixar que o amor, como a gravidade, os puxe na direcção um do outro e os mantenha juntos à medida que fazem o seu caminho. Sabendo que se podem afastar irremediavelmente; procurando até aproximar-se deliberadamente quando isso for necessário; mas sabendo que não ter destino que não seja o outro é uma rota para uma colisão inevitável, inexorável, e fatal. O universo é um lugar cruel, mas é o único que temos."

Do Menino.

[O amor é uma órbita sim, dois corpos que brincam e se atraem mutuamente, que se deliciam do outro, pelo outro, com o outro, numa força invisível que não sabem explicar, de gravidade sustida em leveza, à volta do que os une aos dois - esse centro de órbita, não é um ou o outro, é que são os dois -, é o que são os dois juntos que é o Amor, e é à volta dele que a vida se vai dando a bailar.  Só à volta dele a vida se baila sem saber de música ou de passos, é apenas a harmonia do estar, do saber estar a dois na vida de cada um. Só se afastam realmente quando saem de órbita, e então é porque já não há nós, já não há aquela força invisível que os mantém juntos.]

Mario Benedetti

[... Contra o maldito desamparo. Este. O meu. 
A chave que não abre porta nenhuma mas que é a negação do fim.]

E aqui estou eu no meu sofá debaixo das estrelas que não vejo, mas sei que estão lá mesmo quando não as vejo, a olhar para a lua que está baixa e corada... Muito corada, alaranjada. Dizem que vai começar o calor, os dias bons, e eu aqui que só acabo, só me acabam tudo, só me acabam, e aqui me sento: acabada. Acabada com frio debaixo duma manta quente. Fumo um cigarro, mais um e pondero deixar-me dormir ao relento. Ao relento dos pensamentos sentidos. Pode ser que acorde corada, ou acabada na mesma. Sei lá. Aqui não se começa nada, só se acaba. É estranho em cada fim há sempre um começo de qualquer coisa, onde está? Onde anda? É como as estrelas que me vigiam mas eu não vejo? A lua quase a esconder-se agora por trás dos edifícios, quase vermelha. Será raiva? Ou está farta de sumir no horizonte, sem darem por ela?


- Porque paraste?
- Porque não te sinto aqui como tinhas de estar aqui.
- Tens de estar todo para ser o amor. Caso contrário é só prazer.
Caso contrário é só prazer: aqui está uma boa definição de amor.

Pedro Chagas Freitas

[ é uma boa definição. verdade que é. pelo menos é uma das minhas definições. verdade que é.]
"Suicídio é que nem uma mulher bonita num bar. Você olha ela e algo dentro de você cresce e diz 'eu preciso dessa mulher pra mim'. Aí você pede um whiskey e começa a pensar no que falar pra ela. Eu pergunto o nome dela? Ou eu chego me apresentando? Eu pergunto o que ela gosta de fazer ou tento encantar ela com as coisas que eu gosto? Você vai ficando nervoso, pede mais uma bebida e se questiona: por que eu quero essa mulher tanto? Mas você não consegue responder. É algo maior que você. Quando você finalmente toma coragem e se levanta, o caminho entre o balcão e ela parece uma eternidade. Você chega perto dela e trava. Fica com medo. Você desiste e volta pra casa agoniado por não ter conseguido falar com aquela mulher. Chega em casa e se masturba pensando naquela mulher. Você não consegue entender o conflito entre existir algo dentro de você dizendo que você quer; e, quando você tenta fazer, outra coisa dentro de você diz que não é pra fazer. Suicídio é que nem uma mulher bonita num bar."

***

"Sentado ali, bebendo, considerei a opção de suicídio, mas me senti estranhamente apaixonado pelo meu corpo, pela minha vida. Apesar das cicatrizes que marcavam meu corpo e minha existência, ambos eram propriedades minhas."

Charles Bukowski

[já tenho tanta cicatriz propriedade minha, que já nem dá para contar... nem vale a pena começar, mas são o que sou, o que me tornei, o que hoje me define em boa parte, provavelmente, e sim há coisas que parecem suicídio. cada vez mais parecem, e cada vez me lembro mais disso. e eu não penso ser suicida mas agradecia tanto não ver o dia de amanhã nem todos os seguintes. agradecia. tanto.]