Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

26 agosto 2011

"Viver só. Estar só até à morte. Ninguém quer conhecer-nos para nos amar. Defendermo-nos sem uma falha de atenção. Fechar a porta com duas voltas. E vir então para a rua. E ser quotidiano e medíocre. E ser amável. "


"Que te ignorem, te suprimam, em que é que isso te pode chatear? Está só, que estás bem. Reinventa aí toda a razão de viver. Que os outros sejam em público na grandeza para que nasceram. Não nasceste para isso. E vai-os olhando como espectros de um outro mundo. Conseguires ausentar-te totalmente e estares presente a ti próprio. É quanto chega. Sê todo em ti na exacta medida em que fores nada para os outros."


Vergílio Ferreira, Conta-corrente I


Incrivel, como se falasse por mim.
Também eu não sei ser em público, só sei ser público. E nunca niguém me conheceu e me amou, ou me conheceu para me amar, ou me amou conhecendo-me. Mas esqueci-me uma vez de fechar a porta com duas voltas antes de ir para a rua. Assaltaram-me, agora estou despojada de mim como era e devolveram-me o que não sabia já ser. Saíram, fugiram e deixaram a porta escancarada, e descubro que não sei viver assim. Descubro que não sei viver. Ainda não sei ser plena, sendo nada para os outros. Os outros, os "meus" outros, são também eu e o que me vejo, como me vejo. Não sei ser sem eles, mas aprenderei. Não tenho mesmo outro remédio. Viver só.