Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

17 janeiro 2016


... Lentamente de amor
Consumido em paixão 

Boa noite

[foto @ rafafans]
Ela desde sempre tem um aguçado instinto de sobrevivência, sabe o que quer, como quer. O que ela faz com alma é fingir o que não é, isso brota-lhe das entranhas como a lava  fervente dum vulcão em erupção. Só essa força é genuína, é real, é quente, é viva, tudo resto é uma máscara fria, calculada, desalmada.  Até o calor, que se quer humano, é mero teatro, até o beijo é encenado, até o amor é só uma história lamechas que não entende. Onde ela põe a alma toda é na representação calculada do que nunca será a quente, do que nunca foi, ou será, sem máscara. Do que não é. Talvez gostasse de ser, talvez inveje quem o é,  mas ela não é. Nunca será.
Não sabe ser senão o horizonte onde quer chegar, como quer que a vejam, a admirem.
Os olhos faiscam-lhe de gáudio enquanto pisa  aqueles que um dia ousaram olhá-la de frente, apenas para vê-la baixar os olhos temerosos, de frente como ela nunca ousa olhar o espelho. O riso queima apenas de escárnio quando pensa em espezinhar - de longe, só de longe que a cobardia ronda sempre perto - quem afinal teme, quando sonha em fazer arder em humilhação quem ela pensa não conseguir igualar, sente-se maior, poderosa, insuflada (de ar podre mas ninguém vê, e o que não se vê não existe); o fogo está-lhe nos pés quando os faz de atalhos dos seus desígnios, sem olhar a meios ou princípios, pois ela é uma mulher de fins, numa dança pretensamente graciosa, que é apenas pretensiosa, mas que engana os olhos desavisados que se desfazem em elogios, uns enganados, outros ocos e tantos apenas encenados também. Já os cegos ela não engana. O ar podre cheira longe a quem não vê.
Ela só finge com alma o que não tem na alma. Finge a alma que não tem, e é a única coisa genuínamente que sabe fazer: fingir, imitar, copiar. Ela não é o caminho é a força de chegar, não importa como. E chega vazia, como nunca deixou de ser.