Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

22 junho 2013

Há dias em que me apetece esconder, esconder de mim mesma, como que para não pensar, para não me ver por dentro, com todas as barbaridades que me roem as estruturas. Hoje apetecia-me enfiar debaixo duma pedra qualquer, onde nao pudesse ver o brilho dos outros, onde não percebesse o brilho que me falta, onde não me fizesse falta o orgulho de alguém em mim, onde não me fizesse falta o não me ver brilho nenhum para se orgulharem. E queria nao saber que para nos orgulharmos de alguém, mais do que o que é realmente feito, o orgulho é só porque se gosta, e por mais nada. Quando se gosta o acto mais vulgar pode ser o orgulho vivo  de quem gosta, como o orgulho que se sente por observar o outro no dia a dia, só e tão simplesmente isto, e gostar do que vê, da maneira como fala e trata os outros, da maneira como faz rir e se safa sorrateiro, cheio de golpes de charme e de sorriso nos lábios, de problemas menores. Queria não pensar, queria não ver, queria não ser, porque penso demais, vejo muito pouco e não sou nada.
(e ainda antes de acabar de escrever isto mais uma noticia triste, enfim, que seja tudo duma vez e depois apanhe outra maré de mais sorte e mais feliz. Aguenta-te)
Leio, releio e volto a ler, para ver se vejo o que não vi. Cada vez dói mais, cada vez vejo mais o que vejo, cada vez me deixa menos espaço para respirar. Esmaga-me o peito por dentro como se toneladas eu tivesse em cima do meu cada vez mais frágil esqueleto. Dói, dói muito, dói demais e já nao sei o que fazer a tanta dor, onde arrumar tanta magoa, como esquecer tanto engano a costurar-me o passado. Quero sossegar. Mas há sossegos que só sossegam na companhia que nos sossega a vida e o olhar sobre a vida. A nossa companhia certa.