Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

31 maio 2010

"Mais triste do que amar um homem que não nos quer, é amar um cobarde que nos quer, mas não luta para nos ter." ...Infelizmente verdade... encontrada por acaso, e como que encaixou exactamente no espacinho certo para esta conclusão, como uma peça dum puzzle imaginário, que por vezes não queremos ver, porque não gostamos da imagem das peças que o puzzle vai juntando...

30 maio 2010

Entraram no pequeno hotel encaixado algures nas ruelas do centro da cidade a rir, pararam em frente à porta e olharam um para o outro, um olhar que não via, sentia, um olhar que sabia encontrar o fundo do outro mesmo à beira de si mesmo. Nasceu-lhes um sorriso nos lábios como se os dois tivessem pensado o mesmo, tivessem acabado não a frase, mas o pensamento do outro, e o ponto final fosse esse sorriso. O luar deixava ver o brilho nos olhos dele, sempre semicerrados, sempre semisorridentes e sempre cheios de ternura que as mãos se encarregavam de comprovar a cada toque, que os lábios faziam sentir na pele. Abraçaram-se, ela em bicos dos pés, os saltos faltam às sapatilhas e a altura falta ao beijo que lhe dá, meia a rir. Beijo feito, abraço desfeito, ele abre a porta do hotel. Hotel pequeno, de charme, como ele dizia, recepção à meia luz, o numero do quarto. Com a chave do 15 na mão, subiram as escadas. Ela à frente, ele atrevido atrás. Ele era sempre assim, atrevido, malandro e a faze-la rir e resmungar ao mesmo tempo. Chegaram. Abriu a porta e entraram. Ela tirou o casaco, ele foi à recepção tratar do esquecido pequeno almoço na cama do dia seguinte. Enquanto isso ela acendeu as velas com um sorriso malandro, tinha-as comprado há pouco sem ele dar conta, numa das barraquinhas por que tinham passado. Acendeu-as e espalhou-as pelo chão ao lado da cama, em cima da cabeceira da cama, nas mesinhas, o ambiente ficou aconchegante, nem luz a mais, nem a menos. Ocorria-lhe agora que ele já lhe dissera como ela ficava bonita à meia luz, com as sombras a passearem-lhe no rosto, e olhava para ela para decorar, para fotografar na memória, o momento. E nunca lhe disse, nunca lhe respondeu que não precisava, que o seu rosto e o resto eram dele, não precisava da memória, tinha o original sempre, bastava querer. Nunca lhe disse, mas estavam ali, e voltou a sorrir. Abriu a janela, com a noite amena ouviam-se os sons da movida, das gentes que passavam a caminho de algum lado, ou vindos de algum bar. A lua ao fundo, repleta, a inundar o canto do quarto, dava ares de noite de verão, embora não fosse. Acende um cigarro e conta as estrelas para entreter os pensamentos. Algo nela tremia, mas tremia sempre, algo ansiava, mas sempre fora assim desde que se entregou a um sentimento que não conseguiu conter, contrariar, anular em si, descobriu-lhe vida própria, que lhe fazia tremer as pernas e qualquer coisa dentro do peito. E estava assim, quando ouve a porta a abrir, ele a entrar e cortar a luz do luar, lindo, dela, com silhueta de Deus grego ( e ri-se a pensar isto), e muito malandro, a rir, a denunciar o reconhecimento do território ligeiramente modificado. Abraça-a pela cintura, puxa-a para si, e ela, meia envergonhada nem sabe bem de quê, aninha-se nele e naquele seu cheiro quente que a inebria desde os dias em que o cheirava ao longe e começava a rezar sozinha que era doida... Ficam assim algum tempo, em silêncio quebrado só pelos beijos que trocam. Ela olha para ele e pergunta-se se ele saberá, se ele sabe como é bom tê-lo, como é bom senti-lo, como é bom estar ali, como é bom o que sente. Só assim, só no silêncio da paixão, sem ser preciso palavras, mas sem atrapalharem quando aparecem. Olha outra vez para ele e ele observava-a, e responde ao ar interrogativo dela dizendo-lhe que a adora, e que ela é linda com as sombras desenhadas pela luz das velas a dançarem-lhe no rosto. Que quer olhar para ela para a guardar na memória.

25 maio 2010

Quanto mais perto me sinto, mais o afastamento custa, quanto mais apertado o nó, mais custa a desapertar. Custa-me sempre o raiar deste afastamento, doi-me cada vez mais vê-lo afastar-se de mim, levar-me uma parte de mim que me faz feliz, que me põe os olhos a sorrir e a felicidade a morar-me na alma, por me sentir perto, por o sentir meu. Mas a cada desapertar do nó, de cada vez que sinto a alma desalojada, preciso de mais força para perceber a distância que se impõe, para aguentar o anoitecer do nosso calor que chega com o amanhecer do sol que desponta num novo dia que não apetece.

23 maio 2010

Nunca me senti assim... nunca me senti tão completa, tão viva, tão feliz e ao mesmo tempo tão infeliz, tão sem esperança de poder, de conseguir viver plenamente o que sinto... e isto parece-me tão cruel... como é possivel que sinta e veja coisas que me são vedadas? que eu não posso viver condignamente?... e começa a ser tão pouco, a saber-me a tão pouco o tanto que tenho e sinto... na verdade nunca estive assim... mas começa a não chegar, começo a sentir-me aprisionada nos movimentos, no tamanho dos sonhos, preciso de mais espaço para poder dar mais passos, de viver mais, de usufruir mais esta coisa fantástica que encontrei em mim e que bebo dele, este gostar tão lindo, tão incondicional, tão natural e tão forte... ele diz que tenho uns olhos lindos, mas não percebe, não vê, que só são lindos desde que começou a olhar para eles, que é ele que os faz lindos, e eu sinto isso, sinto o meu olhar tão diferente quando olho para ele, sinto o meu olhar feliz, completo, como se nada me faltasse, como se ele me bastasse para pôr a felicidade nos meus olhos, e eu não a vejo, mas sinto-a e sinto que ele a vê no meu olhar. Mas eu não consigo desvendar o seu olhar... não consigo ver além do carinho e da ternura que bebo deles, não consigo ver os seus sonhos, se os sonha, se me sonha, se os meus olhos vão no seu olhar quando se despede, quando se afasta de mim, ficando sempre em mim e em tudo em que o meu olhar poisa...

20 maio 2010

Há sítios estranhos que descubro em mim... recantos que não conhecia... e que se apagam quando me venho embora... como ossos que não sabemos que temos até mergulharmos o pé em água gelada e pela dor descobrir peças que não conhecíamos... com ele é assim... como descubro outras em mim, que se esquecem que são, que existem, quando não tenho os seus olhos nos meus, a sua voz no meu pensamento, as suas mão nos meus sonhos... Há partes de mim que não existem, ou que não sabem que existem, quando o deixo... e depois vem a mágoa, a dor, a razão e a realidade arranhar-me a alma e rasgar-me os sonhos... e sinto que morro um pouco... Penso o que pensará... penso o que sentirá... sinto que saber me acordaria, me ajudaria a desembrulhar o novelo em que me fechei, em que me despedi da minha vida e das realidades banais, sem ter ainda chegado a lugar algum... como se tivesse partido numa viagem sem destino que o destino me arranjou, e não saiba onde, nem como, nem quando chegarei a um porto que me acolha... sabendo que quem partiu não existe mais... não sei como chegarei ao fim do caminho... em que me tornarei? quem serei?... se afinal esta sou eu? como andamos tão escondidos de nós? tão fugidos de nós? porque temos tanto medo de nos descobrir? de nos magoarmos? se tudo faz parte?... de nós? até a cobardia... Penso em todos os caminhos que não vi... todos os recantos que não encontrei em mim... todas as gavetas fechadas que tranquei para a tentação não me assolar a curiosidade.... e afinal... mesmo trancadas, pessoas há que não precisam de chave... são a chave! e todos os medos, todos os pesadelos, todos os fantasmas lhe fogem à passagem, tomando conta da metade de mim que não é minha, sendo minha por ser dele, roubando-me os pensamentos, alimentando-me a alma e matando-me a razão... e abandonando-me ao desprezo da realidade que me mata a cada dia. Quantas chaves não terei visto? Quantas gavetas por abrir? E quando e como fechar esta? e com ela toda a luz que me inunda ? que me aquece e me cega?

12 maio 2010

Dum lado o silêncio do outro não sei o que é, mas vai saindo. Como é que as palavras conjugam tão pouco com os actos? o que fala a verdade? será que há uma verdade? qual será a minha? qual será a dele? será que nestas coisas há verdades, ou só o que aparenta ser a realidade? será que o que eu sinto é apenas a aparência de um sentimento? pode ser... mas então o que é a realidade? que vida é esta que nos inebria pelas aparências? que nos dá o luar mais bonito e corta-nos no comprimento dos braços para o alcançar!! se o alcançassemos veríamos a sua beleza, apercebíamo-nos dela sequer que fosse? sou uma estupida chapada e não aprendo nada, a não ser a desaprender... a desconstruir... sinto-me sem forças... não consigo sequer chorar o que a minha alma grita, berra e esperneia... às vezes... muitas... sinto-me uma fraude, uma fachada ôca... desmoronada por dentro... sem estrutura... e a aparentar a maior solidez... estou um caos e vou piorar... tudo é dificil, e sinto-me tão sozinha que já não sei se estou só, se sou só. Irremediavelmente só. Se calhar não é uma fase, é o meu caminho. Às vezes a solidão é disfarçada... não parece que estou só... mas logo depois parece que nunca deixei de o ser... É tudo tão complicado.... como raio se resolve uma pessoa? como é que eu me resolvo? quero quebrar este enigma da maneira de eu ser... de querer tudo e se calhar não querer nada... querer só querer alguma coisa... alguma coisa que me faça caminhar, acordar, viver e sentir. Estou tão farta disto, da vida estupida de todos os dias, e dos dias que não são todos e são diferentes, e deviam esses sim, ser todos... mas e depois? deixavam de ser bons? apetece-me fugir e ir para um sitio onde não tenha de existir, onde não tenha de pensar, onde não tenha de resolver nada, e onde não tenha de me ver, nem me ouvir... E onde gostem de mim por eu não ser nada... sendo, talvez assim, alguma coisa.

11 maio 2010

Os dias passam
As noites sucedem-se
E tu não passas
Ninguém te sucede...
Sinto o tempo passar-me
E não te levar de mim
Sinto o vazio a completar-me
E tu a não desapareceres de mim
Sinto o fim a aproximar-se
E em mim não encontro o fim de ti
Sinto o medo a apoderar-se dos meus dias
E a inundar-me as noites mal adormecidas
Sinto a razão a gritar-me
E o teu olhar a calá-la em mim
Sinto o coração a segredar-me que sentes
E a tua razão a emudecer-nos aos dois...
É urgente outra voz em mim...
Que me cale o canto de sereia
E que de enxurrada varra de mim as tuas canções

09 maio 2010

segmento de recta

Há muitas teorias para as relações, aliás o mais fácil é mesmo teorizar, porque na verdade, acho que as que correm bem devem ter tanto de aleatório e de bom, como ganhar o euromilhões. Mas dei por mim a pensar que construir uma relação não é muito diferente dum segmento de recta, sendo que os dois pontos extremos representam, cada um, o nosso eu. Assim, a relação consiste em unir estes dois extremos, estes dois individuos, e este caminho pode ser feito de muitas e variadas maneiras, pode-se começar num extremo e percorrer todo o caminho até ao outro ponto. Aqui só um é que trabalha, e o outro espera que tudo corra bem. Só. Depois temos a hipotese de os dois iniciarem o caminho em direcção ao outro e encontrarem-se algures no meio. Isto é bom. E é bonito. Os dois fazem um esforço, os dois procuram encontrar-se, e fazer a sua parte do caminho. O que me parece mesmo muito utópico é achar que se encontram no meio. Há sempre um que anda mais que o outro, há sempre um que faz mais pelos dois, há sempre um que quer mais, e há sempre um que acaba por se cansar mais. A unica grande diferença para o segmento de recta é que nunca é feito pelo caminho mais curto, nunca é uma recta. Nem perto disso.

03 maio 2010

Há coisas improváveis... não há? Mas pelos vistos possiveis e de uma beleza surpreendente... As minhas flores preferidas não são as rosas, nem mesmo as orquideas que até gosto bastante, nem as tulipas que são raras, são mesmo as margaridas ou os malmequeres que é o mais parecido que cresce lá no quintal... mas quando faço bem-me-quer, mal-me-quer calha-me sempre o mal-me quer!! mas eu continuo a fazer... porque há coisas improváveis...

01 maio 2010

Quantas letras?
Quantas palavras abarca?
Quantas cumplicidades o sustentam?
Quantas conversas labirinticas o fazem?
Quantos reflexos para nos vermos espelha?
Quantas tolas partilhas fazem o seu quotidiano?
Quantas saudades o fazem desesperar?
Quantas ansiedades nascem das ausências?
Quantas recordações o despertam contrariado?
Quantos olhares o definem?
Quantas gargalhadas vivem nele?
Quantos sorrisos o fazem respirar?
Quantos mimos fazem o seu calor?
Quantos rosnares quentes aquecem os silêncios?
Quantos beijos de paixão carregados de ternura o alimentam?
Quantas vontades emergem sob esta lua selvagem?
E quantas luas passarão até esgotar este luar?
Em quanto tempo este sentimento se dissolverá apenas em letras
Não havendo palavras que o digam?
Ou dicionários que o expliquem...