Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

26 janeiro 2015

... E vontade de jantar?.... Nenhuma... Nicles.

(já a lua estaria boa para se comer...)
Fica dentro de mim, como se fosse
eterno o movimento do teu corpo,
e na carne rasgada ainda pudesse
a noite escura iluminar-te o rosto.
No teu suor é que adivinho o rastro
das palavras de amor que não disseste,
e no teu dorso nu escrevo o verso
em pura solidão acontecido.
Transformo-me nas coisas que tocaste,
crescem-me seios com que te alimente
o coração demente e mal fingido;
depois serei a forma que deixaste
gravada a lume com sabor a cio
na carícia de um gesto fugidio.

António Franco Alexandre
in Duende

[...coração demente e dormente... Onde andas tu? que não te sinto? Os lugares onde te deixei estão vazios.]
... quando esta música começa e estamos precisamente a entrar na via rápida, com o sol a bater de frente e a aquecer a vista por trás dos óculos de sol, algo em nós se alvoroça para se acabar num sorriso que nos faz crer que a música tem razão, ou queremos - e queremos tanto, tanto - acreditar que sim. Quase sem pensar, como resposta automática, carregamos no pedal, não por pressa de chegar, mas com pressa de sentir a pressa de alguma coisa, duma urgência que nos queima os lábios como um sorriso que já não sabíamos ter há tempos demais. Pedal a fundo, a velocidade na ponta dos pés, e logo um engraçadinho (não cheguei a ver se era...mas vamos crer que sim, que tem mais piada...) que se pica com a nossa urgência, também tem pressa de alguma coisa, ou não, sei lá... ultrapassou-me, e depois, eu já quase a duzentos à hora, passei-o de novo, pouco depois ele acabou por cortar na saída seguinte (ohhhh....)... e eu continuei até onde a estrada deixava, a velocidades tão pouco recomendadas... lembrei-me quando há dias me montei em 325 cavalos, deram-me essa oportunidade, sabem que adoro conduzir e que gosto da adrenalina da velocidade, fizeram-me o gosto e sei que tiveram gosto nisso. E aí, bom, aí devo dizer que se o meu carro demora um bocadinho a chegar aos 200, aquele chega lá só enquanto pensamos nisso... o que dá aquela sensação arrepiante das costas se colarem ao banco e o sorriso à pele que o sol hoje resolveu aquecer... 
(nunca poderei ter um carro daqueles, matava-me num instante...o que me parece uma boa desculpa para não o comprar... o facto do preço ter dígitos a mais para mim, não tem nadinha a ver...eheheh)
... a música dura uns minutos, e a nós apetece-nos tanto acreditar que sim, que estes dias acabaram, enquanto o ritmo e a sonoridade ainda se passeia pelos ossos e nos mastiga a alma devagar nesse sabor doce, mas a música dura só uns minutos... e seja quanto for, nesses minutos esteve-se bem, houve uma espécie de felicidade que nos invadiu, e se se pode aproveitar mesmo que só uns minutos, e não prejudica ninguém, tem de se aproveitar até ao tutano, mesmo que acabe logo a seguir. Os momentos que não se aproveitam não existem, há que aproveitar o que nos faz sentir bem. Eu sempre fui assim, ainda que tenha tantos momentos sombrios, também esses os aproveito à minha maneira, tantas vezes também até ao tutano - é um problema de intensidades. Para os dois lados. E hoje, hoje o dia começou bem... mesmo que possa acabar mal, ou que amanhã comece pessimamente, não sei. Agora não me interessa, só me interessa agora  o agora. Hoje o sol já me entrou nos ossos, mesmo que (só) por uns minutos.

Bom Dia!
(The Lovers, Rene Magritte)

"Não preciso de te ver, encontro-te os passos pela língua, descubro-te o corpo pelo toque. Dizem-me que sou cego porque me inspiro no amor, digo-lhes que de mim sou tudo o que levo para a morte. Carrego prédios inteiros do que não se vê..."

Daniel Camacho 

Boa Noite