Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

10 junho 2014

A crueldade chega a exceder o egoísmo próprio de quem nada quer já saber, se magoa, se não magoa. Como se se pudesse apagar tudo, e com isso não se importar com nada, não se importar de magoar, não querer saber se magoa, ou sabendo, não se importar. Já não é só egoísmo de quem quer pensar só em si e na sua vida, e desumanizar-se ao máximo, é nunca gostar de ninguém, nunca respeitar coisa alguma, e não haver sequer problemas de consciência com isso, ou porque não a tem ou nunca a teve, ou porque não se importa. Não se importar de magoar quem já se magoou por tantos anos e nunca foi cruel ou egoísta, mas agora, agora apaga-se tudo com uma borracha e não é nada connosco. Já não há peso de consciência ou culpa, os outros que se danem, só importa o que se quer e o objectivo que se tem, aprenderam tão bem, e com tão bons mestres, a manipular que só importa o fim, os meios, e quem no meio se magoa, nada interessa. 
Não tem de haver cuidado, onde nunca houve Amor, afinal. 
Isso revela-se enfim, ou haveria cuidado, pelo menos, em não magoar de forma tão cruel e indiferente à dor que se provoca, ou com que se é cúmplice sem qualquer problema e se calhar com algum prazer. 
"...porque trouxe para casa um homem de carácter, quando necessitava de uma alma de lacaio? Porque não sabia escolher o pessoal? O procedimento habitual do século XIX é: quando um ser poderoso e nobre encontra um homem de carácter, mata-o, exila-o, prende-o ou humilha-o de tal forma que o outro comete a parvoíce de morrer de dor."

Stendhal, in Vermelho e Negro

[...parece-me que no século XXI nada se alterou muito, só a nobreza do sangue azul está mais afastada destes tempos ditos modernos.]