Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

08 março 2015

Todo o dia angustiado, todo o dia tremendo de frio.
Todo o dia pareceu um século, um pesadelo.
Todo o dia uma tempestade me desassossegou, todo o dia me senti mal, uma espécie de dor que não começa nem acaba, persiste intensa, contínua, por todo o corpo.

Al Berto

[há frios que não se sabem aquecer. Tão dentro do por dentro onde a luz não chega, onde o sol não aquece. Há gelo que so se pode derreter pelo calor que nasce da alma. Se a alma dói em todo o corpo, o gelo algema o corpo, quieto, a si mesmo, numa tensão que cansa o dia até invadir a noite. Aguarda-se o sono para se fazer nosso dono, para nos libertar do que somos e queremos adormecer, ou pelo menos, fechar os olhos... só, sem sonhar, sem nada, só entregarmo-nos à escuridão vazia, que não pensa, nem sente. Que quase nos descansa porque nos larga. Pelo menos até amanhã. Pelo menos.]

(foto @allenandbear)

Outras das minhas flores preferidas.
Se uma pessoa se rodear do que gosta será mais fácil ser feliz?
Ou sendo feliz gostamos mais do que nos rodeia?
Eu gosto de coisas simples, despretensiosas, da preguiça que enche a alma, do deixarmo-nos ser o que somos. Do sol que nos basta e das sombras que nos descansam.
Tenho a cabeça cheia de coisas, pensamentos que não me largam, a vida cheia de sombras que não me descansam, antes inquietam e complicam. Sinto-me  carregada de coisa nenhuma e pesada de tudo. Sinto tudo tanto que parece que não sinto nada senão confusão. Só sei do que gosto, e gosto de coisas simples, do sorriso descomplicado, da varanda com sol, de fechar os olhos e sentir-me viva. Fecho os olhos e a vida foge-me. Não me encontra, não a encontro. As maos vazias o olhar sem destino.

Bom dia.
Outra vez aqui na varanda, sentada num degrau a meio caminho de sítio nenhum. Perdida, completamente perdida, de mim, da vida, dum sentido, que seja. Como se a vida tivesse mais maneiras de nos tirar o tapete do que as que nos conseguimos equilibrar. Sinto-me naquele momento preciso em que, por fracções de segundo, não sabemos se vamos cair ou aguentar-nos ao tropeção. Não sei o que pensar, como pensar. Não sei já o que esperar, ou o que esperam de mim. Não sei mais nada, só sinto. E no que sinto sinto-me perdida, sem amparo, sem companhia, sem eco de compreensão. Sem nada. E ao mesmo tempo tudo em turbilhão, num equilíbrio precário que me grita por dentro e me desfaz, que me rompe os dias dos olhos. Estou apavorada de medo nao sei de quê, sinto-me cair e combater a queda, exausta e sofrida, sei que nao aguento mais, nao aguento mais uma queda, sei, sinto que não me levantarei mais. 
Onde, onde é que estás? Se te grito toda por dentro e não me ouves? Onde é que estás, que não me estás se não te estou por dentro a gritar por ti? Onde é que te estou?