Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

02 outubro 2013


Dói-me qualquer sentimento que desconheço; 
falta-me qualquer argumento não sei sobre o quê; 
não tenho vontade nos nervos. 
Estou triste abaixo da consciência.

Bernardo Soares


[a modos que é mais ou menos isto... ou muito isto.]
Boa Noite
" Irei directo a casa dela, tocarei à campainha e entrarei. Aqui estou, aceita-me ou mata-me à punhalada. Apunhala o coração, apunhala o cérebro, apunhala os pulmões, os rins, as vísceras, os olhos, os ouvidos... Se um só órgão ficar vivo estás condenada - condenada a ser minha, minha para sempre neste mundo e no seguinte e em todos os mundos futuros. Sou um bandido do amor, um escalpador, um assassino. Sou insaciável."
Henry Miller, in Sexus

[ o punhal dos dias, do mundo, da realidade que corta, já me apunhalou tudo o que de mim conheço. nada ficou intacto, a não ser, talvez, este amor selvagem. ainda assim nada te condenou a ser meu, é uma pena que não cumpres por falta do crime de amar-me, neste, ou em qualquer mundo - nem no nosso, parece-me agora tantas vezes.]

E é quando se vê uma coisa destas que percebemos o quão emocionalmente nas lonas estamos. Uma coisa assim lamechas e coiso e tal, que noutra altura não nos diria nada, e até era capaz de suscitar um comentário trocista sobre o tom delico-doce da coisa...e agora dá-nos uma vontade imensa de que alguém se apaixone assim por nós, daquela forma ridícula à prova do ridículo (todas as cartas de amor são ridículas já dizia o outro, mas todos gostam de as receber e de se sentir com vontade de as escrever sem se sentirem ridículos),  ou que quando nos apetece fazer estas, ou outras coisas do género - que nos fazem sentir bem, e que nos fazem usar aquele sorriso parvo na cara tempos sem fim depois, sem sequer se saber bem a razão de tal -, as possamos fazer e não nos sintamos tremendamente estúpidas, e desperdiçadas, desprezadas ou apenas mal-amadas, na falta de eco destes gestos e na falta do sentir avassalador que os faz fazer.