Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

25 julho 2013


Queres saber quem eu sou? 

Eu sou o que te olha e espia para te recolher e depois guardar num lugar que é só meu. Para isso serve o papel. O resto não precisas de saber. Nem convém. Só te ia distrair, podes crer. Eu sou o que mergulha as mãos na tua vida para sentir a minha a voltar.



Pedro Paixão, in Muito, meu amor

[uma das coisas que eu acho que quem ama faz, é isto: observar o outro sem ele saber, absorver-lhe os gestos e a vida à distância do olhar. E é nesse olhar sorridente que aparece esse amor, essa ternura, esse querer e gostar. Esses momentos que emolduramos na memória e a que recorremos sempre que a vida parece fugir-nos um pouco. Quer seja num filho, ou no homem que chamamos nosso. Nisso não há diferença.]

Boa Noite

Já não sei escrever, se alguma vez soube. Sabia-me bem, pelo menos, e só isso me interessava. Era uma necessidade que satisfazia facilmente, e me libertava de muita coisa, e me explicava tantas outras. Derretiam-se-me os nós. Desfazia-me em palavras, e o gelo que me forrava pingava letras frescas - ou a ferver tantas vezes. Transformava-se a dureza do gelo na limpidez maleável e refrescante - ou na rispidez asfixiante da raiva momentânea -, nas palavras que me pingavam na tela branca. Tantas vezes a minha única companhia: uma tela branca à minha frente, à espera de me falar para que lhe segrede a minha alma.
Esvaziei-me de palavras quando me queria esvaziar do que me faz escrevê-las. Foi dar ao mesmo afinal. Silêncio. Mas até o silêncio tem muitas famílas e muitas espécies, este meu silêncio não é vazio, em nada, mas é tão embrulhado em mim que me prende as palavras, torna-me prisão de mim mesma deixar este silêncio em liberdade muda, às voltas dentro de mim, a torcer-me devagar a alma até asfixiar o coração. Cada vez mais, deixar-me sair de mim não faz sentido, por mais sentido que seja. saio de mim e não encontro onde me poisar, não tenho porto para o meu querer, nem abrigo para o meu sentir. Não tenho uma pessoa para mim e para ouvir o silêncio que me grita por dentro sem arranjar razão para sair. Não vale a pena. às vezes parece que já nada vale a pena, então poisamos a pena e escrevemos com o silêncio. 
Isto não se faz, 
isto não se faz, 
isto não se faz!!!... 
é que uma pessoa depois de ver uma coisa destas já não se recompõe enquanto não comer uma coisinha assim, ou parecido, vá...

ou torcido...

...sei.
Boa Noite