Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

25 outubro 2014

Será?... É uma experiência interessante. Seria uma solução, e lá está a química diz que o álcool é uma solução e parece se-lo para tanta gente... É uma questão de uma pessoa testar a teoria e dedicar-se à experiência... Depois logo verei da veracidade da coisa, ou não.
Só custa a primeira vez: desmembrar a pessoa do coração. Desalma-la daquilo que mais é. É certo que sentirá de vez em quando as dores fantasma dos amputados, mas livra-se do fantasma da dor sempre presente. Ou assim espero. Disseram-me que é possível e funciona: fazer sem sentir, viver sem ser. Só custa a primeira vez, é dar-me sem me terem. Até que ninguém me tenha. Nem eu.
Os olhos - o que dizem de mim ser mais meu - não parecem conseguir fechar-se mas também não se abrem, duvido até que vejam, embora olhem para tudo. Apago todas as luzes, baixo todas as perssianas, mas a escuridão não apaga a memória. Sem memória todos seriamos crianças, livros em branco a cada vez que se abrissem, por muito que o repetíssemos. Sem memória nada se aprenderia e seríamos só instinto. Não haveria erros nem lições, haveria um segundo de cada vez e nenhum passado, esse que nasce a cada segundo, a cada respiração, a cada pensamento tido, a cada memória. E fecho os olhos e estou cheia de passados. Abro os olhos e não vejo futuro nas memórias. Vejo passados no futuro. Remexo nos passados e nunca lhes vi futuro. 
Apago todas as luzes, fecho todas as janelas de luz, e na escuridão ainda existo no que fui, ainda sou o que já não é, a memória dum passado que morreu em cada segundo que não deixei morrer. 
Abro os olhos, olho para tudo, mas o futuro não se vê.