Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

17 dezembro 2012

"- Eu tenho medo.
 - Medo de quê?
 - Medo de ti, por exemplo.
 - Medo de mim? Mas como é que podes ter medo de mim se estou do teu lado?"

(do teu lado, e ao teu lado se me deixares, como podes ter medo de quem gosta tanto de ti? ou o medo é que eu goste tanto de ti e tu não gostes de mim? hummmm?? não percebo...)

15 dezembro 2012

..."porque a nossa força não passa de um acaso decorrente da fraqueza de outros."
Joseph Conrad, in O coração das Trevas.

[então não há força, há os outros deixarem exercer um qualquer domínio sobre eles? Se não deixassem não seriam uns fortes e os outros fracos, todos teriam, têm, a mesma força...]

14 dezembro 2012



Vinha a ouvir um cd de vários que gravei para escolher as músicas mais minhas, que mais me tocassem e que achasse que tu mais gostarias, para te oferecer. Isto já há uns meses largos, depois desisti, entretanto chateamo-nos, ou melhor, tu deste-me outro chuto no traseiro e eu mandei-te à merd@ (ou tentei mandar e continuo a tentar), não mais pensei em fazer-te cd nenhum, nem este nem outro, e vinha a pensar que também nunca soubeste merecer o que te dava, o que te dei, nunca soubeste respeitar o nosso pequeno e restrito espaço, como só nosso, e donde no entanto nunca me deixaste sair. Confinaste-me a esse espaço sem mundo, que era o nosso mundo, e eu nem do mundo senti falta, nem sinto. Nesse espaço, apesar de tudo, era onde melhor me sentia, onde mais me sentia, onde gostava de estar, e penso que sempre respeitei esse nosso espaço. Por isso muito me magoava quando as músicas que te dava, os cds em que escolhia a dedo as músicas, a ordem, tudo, tudo tinha um significado para mim, tu partilhavas, partilhavas com quem aparecesse, sem qualquer vontade de deixar só nosso o que era só nosso, ou eu assim queria, já que nunca quiseste trazer o nós para fora do nosso canto, ao menos que respeitasses e valorizasses essas pequenas coisas só nossas, e principalmente estas que te dava com tanto carinho, com tanta dedicação. Senti isso como uma profanação, como uma desconsideração pelo que de mim estava em cada coisa que te dediquei, como não me esqueço das fotos que apagaste que com tanto amor foram tiradas para ti, e tu, sem mais, sem nada, apagaste. Apagaste-me. Mais uma vez. 

13 dezembro 2012



"E eis-me preso à memória escura dos teus olhos, dos teus passos saltitantes, da tua alegria convicta que a partir de certa altura começou a açucarar demasiado a minha vida. Não consigo concentrar-me. Passo os dias com os olhos sobre as letras dos livros que tenho de ler e não consigo entrar neles. 

Há quanto tempo não me arde o coração?"

Inês Pedrosa, in Fazes-me Falta

[gostei muito deste livro escrito a duas vozes, vale a pena ler.]

11 dezembro 2012


Ela diz que é o contrário, 
que ela não pode esquecê-lo, 
que a partir do momento em que não se passa nada entre eles, 
fica a memória infernal daquilo que não acontece.

marguerite duras 


[o inferno do que nunca aconteceu. o inferno do que não teve lugar, nem terá. o que já aconteceu quieto no passado, a nada alterar, a nada alimentar, a nada respirar, senão a memória e a memória que traz do que nunca será. o nunca, o meu inferno pessoal do nunca, porque o nunca é para sempre. para sempre o inferno do que nunca foi. como os "ses", que ficam para sempre porque são filhos do nunca.]


"Separação inexiste, se há força de amor e fé.

Sentir saudades é trazer mais perto ainda,

tudo que a gente pensa perdido.
'Saudadear', dizia ele."

Guimarães Rosa

["saudadear", outra maneira de respirar longe,
 de ter o coração a bater à distância,
e saber que já não é nosso.]

10 dezembro 2012

Haverá guarda-chuvas para o amor?
Não que chovam amores por aí, mas haverá alguma coisa que nos proteja se chovesse? quando chove?
E aquela chuvinha que é miudinha, que parece que não molha, e quando vemos estamos encharcados até à medula?
A molha-tolos do amor? 
É uma chuva tão levezinha, que parece que nem damos conta dela, molha sem nos pesar, e molha os tolos que não percebem que chove. Se calhar o amor é só para estes, os que vão ao  engano e os verdadeiramente tolos que nunca usam guarda chuva.
Dizem que gostam de chuva.


Não me apetece comer.
Não me apetece pensar.
Não me apetece sentir.
Não me apetece existir.
Não me apetece ser eu.
Não me apetece estar aqui, nem noutro lado.
Não me apetece nada,
mas só ainda não comi,
e ainda aqui estou.
????
Se não está o que está a fazer para lá chegar?
????

09 dezembro 2012

Queria tanto ir-me embora de mim.
Foi esta frase que me ouvi, de lábios selados e olhos fechados, trancada em mim. O único sítio onde não queria estar. O único sítio donde queria fugir. Oiço-me por dentro enquanto adormeço o mundo de ruídos à minha volta, dum mundo que teima em continuar a dar voltas enquanto eu nao saio de mim.
Queria tanto ir-me embora de mim, sem me despedir, sem aviso, sem saudades. Olhar-me e já não me estar, evadir-me por entre duas respirações do mundo onde não me sinto. Saudades fazem correr lágrimas por dentro, escorrem pelas paredes da alma arranhando o caminho pelo caminho. Por fora o mundo dá voltas e sai estrada fora, enquanto as lágrimas não me saem de dentro, mesmo que as sinta como se pode sentir um rio correr até à nascente, mas não se poderá ver nunca. Eu só queria ser mar. Não quero correr para dentro das saudades.
Queria tanto sair de mim. Para não me sentir, para não te sentir.

07 dezembro 2012

...quem é que não acredita em anjo da guarda???
Eu não acredito, não, muito menos que este seja da Guarda...
ou mesmo que me guardasse de alguma coisa...
ahhhhhh pedaço de mau caminho celestial!!!
 (ou o bom caminho do inferno!!!!ahahahhah)

... a segunda é continuar a dormir!!!
Bahhhhh
Bom Dia preguiça!!!

06 dezembro 2012

Boa Noite.

Sou o pássaro que canta
dentro da tua cabeça
que canta na tua garganta

canta onde lhe apeteça

Sou o pássaro que voa
dentro do teu coração
e do de qualquer pessoa
mesmo as que julgas que não

Sou o pássaro da imaginação
que voa até na prisão
e canta por tudo e por nada
mesmo com a boca fechada

E esta é a canção sem razão
que não serve para mais nada
senão para ser cantada
quando os amigos se vão

e ficas de novo sozinho
na solidão que começa
apenas com o passarinho
dentro da tua cabeça.

O pássaro da cabeça

Manuel António Pina

05 dezembro 2012

Era isto.
Mas todos os dias.
Assim.
Boa Noite.
(eu tenho a mania que sou romântica, já tinha reparado, escusam de fazer o reparo...)



"‎- Mas tu não poupas palavras: tu escreves. Todas as noites gastas uma hora a escrever um diário nesse teu caderno...

- Escrever não é falar.
- Não? Qual é a diferença?
- É exactamente o oposto. Escrever é usar as palavras que se guardaram: se tu falares de mais, já não escreves, porque não te resta nada para dizer.


Anos mais tarde, já estava doente, voltei a lembrar-me dessa nossa conversa. Tinha acabado de te escrever uma carta - que nunca te cheguei a mandar e que destruí depois.

E, escrevendo, poupei as coisas que gostaria de te ter dito e que gostaria que tivesses ouvido. Cheguei quase a convencer-me de que bastava escrever-te para tu me ouvires, mesmo que nunca tenha chegado a pôr a carta no correio. Porque era tão sentido e tão magoado, tão distante, o que te dizia nessas cartas, que quase acreditei que tu não podias deixar de me ouvir."


Miguel Sousa Tavares
in "No Teu Deserto"


As palavras não ditas, remoídas no silêncio da vontade de as dizer sem ter de as pronunciar são como sítios de que temos de partir por querermos muito ficar. Mas partimos, deixando no nosso lugar um vazio onde não nos vêem, como não ouvem as palavras que não chegámos a dizer, que guardamos para dizer no silêncio das letras, onde é seguro o nosso lugar vazio. Quem nos vê partir, quem não nos ouve as palavras guardadas, nunca sabe da vontade de que soubessem que as queríamos muito dizer, mais, que as ouvissem sem as dizermos, só pela vontade de as dizer.
Já li este livro. Adorei. Li-o numa noite. É curtinho e devora-se que é uma maravilha. Foi o livro em que mais gostei da escrita do Miguel Sousa Tavares, é intimista, fala-nos um bocadinho ao ouvido da alma, e é doce.


"Acima de tudo não me plantes no teu coração
Eu cresceria demasiado depressa."
Rainer Maria Rilke



Não me plantaste, mas plantaste-te no meu.
Demasiado.
Tanto, que resta agora pouco coração para tudo o resto.
De mim pouco resta depois de ti.
Pouco restará depois.
Para ti eu sou só o resto de que nada restará. 



Do you come together ever with him?And is he dark enough, enough to see your light?And do you brush your teeth before you kiss?Do you miss my smell?
And is he bold enough to take you on?Do you feel like you belong?And does he drive you wild or just mildly free?What about me?
(...)
And I know I make you cryI know sometimes you wanna dieBut do you really feel alive without me?If so, be free, if not, leave him for meBefore one of us has accidental babiesFor we are in love
(...)

Vim a ouvir isto a caminho do trabalho, gosto das letras deste senhor, chamem-me lamechas, chamem, que talvez não se enganem, e eu não me importo. 
Só sei que esta letra me diz muito, me toca muito ("is he dark enough to see your light?). E vim a pensar nestas frases enquanto as ia ouvindo e repetindo ("do you feel like you belong?"), e que tenho saudades do que nunca tive, como dizia Pessoa ("does he drive you wild or just mildly free?). Tenho saudades de me quererem assim ("do you miss my smell?"), de me sentirem de modo especial em vez de me chamarem especial, tenho saudades de me tocarem como se fosse um privilégio ("you held me like a lover, sweaty hands") como se matassem a sobrevivência e deixassem nascer a vida farta com os meus lábios, com a minha pele, comigo ("do you really feel alive without me?"). Tenho saudades que sintam um bocadinho como eu sinto e que me façam sentir isso ("is he bold enough to take you on?"). Tenho saudades do que nunca tive e não tenho esperança de vir a ter ("what about me? what about me?"). 

...é assim, é pena, mas sou assim!!
Amo muito pouca gente no mundo, 
e simpatizo com outros tantos, não trato mal ninguém, 
mas não abusem da minha paciência que é curta e ferve depressa!!!
Bom Dia!!

04 dezembro 2012

Boa Noite



“Viver é como escrever sem corrigir.” 


António Lobo Antunes

E eu, além de viver, também escrevo assim, e bem se vê a merd@ que sai, num lado e noutro!!
...adoro as costas deste vestido... 
é muito difícil bater os olhos em alguma coisa e dizer "é mesmo isto", 
mas agora aconteceu, 
é simples, é ousado e não deixa de ter classe... muita classe!!... 
(não vi a frente do vestido, mas a parte de trás está aprovadíssima, pena que eu não tenha corpo para ele, nem ocasião para me vestir para alguma ocasião...))
Aquela mãozinha é do George Clooney, e o traseiro em que tão bem repousa é o da sua namorada...há gente com sorte (pelo vestido, claro, what else???)
[deve ser o segundo post sobre trapos aqui no estaminé, devo estar a ficar doida, e foi visto aqui]

03 dezembro 2012



Na escolinha,
a menina,
... propícia a equívocos, disse:
- masculino de noiva é navio.

Repreenderam, riscaram, descontaram.
Mas ela estava certa.

Noivados são mares
de barcos pares.

[Mia Couto]



...que delícia!!!!!

Quanto, quanto me queres? – perguntaste
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste
A luz dos teus senti a luz da vida.
Nas tuas mãos as minhas apertaste;
Lá fora da luz do Sol já combalida

Era um sorriso aberto num contraste
Com a sombra da posse proibida…
Beijámo-nos então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar…
Não perguntes, não sei – não sei dizer:

Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder.


António Botto





[... e depois, depois, é tarde. estamos perdidos.]


“Ideal seria que todas as pessoas soubessem amar, tanto quanto sabem fingir.”
— Bob Marley.
Estou fanhosa, dói-me a garganta, os olhos, quando tusso, que é de dois em dois minutos...
dói-me quase tudo, pronto...
Queria um chá bem quente uma manta e pôr-me em frente à lareira com alguém a cuidar de mim um bocadinho... não podendo ser vim trabalhar, não ficava a fazer nada em casa....
Um Bom Dia muito fanhoso....
bahhh

02 dezembro 2012

E depois de beber o meu chá, vou dormir.
Era bom sonhar que estava a dormir assim, porque a realidade é mais sozinha. Mais fria. Mais só.
Vou tentar fechar os olhos e lembrar-me da tua cara enquanto me dizias que era linda, que eu nem fazia ideia.  E a única ideia que me passava pela cabeça era dar graças a deus para só estarmos nós ali, por só me veres a mim, por só estar eu, para poderes dizer isso com tanta verdade nos olhos. Ainda bem que não estavam ali à mão de semear do teu olhar todas as mulheres bonitas, interessantes, que todos os dias vejo e que tu, em boa verdade, terias de admitir muito melhores para se perder tempo a olhar. 
A única ideia que tenho nessas alturas é esta. Dar graças a deus.
Boa Noite.

Por que é que eu não posso estar assim??
hummm?
Com que defeito me trouxeram para este mundo para nunca nada dar bem?
Nunca nada parecer estar bem ao meu lado, ser vida comigo?

01 dezembro 2012


Boa Noite



"O contacto do corpo dele - disse Constance.

- É isso mesmo. O contacto do corpo dele. Ainda hoje não esqueci, e nunca esquecerei. Se há um céu, ele estará lá, e deitar-se-á a meu lado para eu poder dormir. (...) O contacto do corpo dele. Porque os laços do amor são difíceis de desatar.
(...) - Mas pode durar assim tanto tempo a recordação de um contacto? - perguntou Constance - A ponto de perdurar ainda?
- Oh, Lady Chaterley, mas que outra coisa é que pode perdurar? Os filhos crescem e vão-se embora. Mas o homem é diferente! E até isso os outros querem matar dentro de nós, a lembrança desse contacto. Até os filhos. Se ele não tivesse morrido, talvez até nos separássemos um dia, quem pode saber! Mas o sentimento é diferente. O melhor é não nos prendermos. Mas quando vejo uma mulher que nunca foi aquecida por um homem, tenho pena dela, por melhor que se vista e melhor vida que tenha, parece-me um pobre mocho. Não, nada me fará mudar de opinião. Não me importo nada com o que pensem as outras pessoas.

D. H. Lawrence in O amante de Lady Chaterley