Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

07 outubro 2013

"Afinal a palavra Amor existe."
Marguerite Duras
(que estou a citar de memória dum livro que li nas férias, e esta frase, ou uma muito parecida com este sentido, ficou-me. Peço desculpa se não for exactamente assim, mas agora não me apetece ir procurar, porque senão foge-me o resto)

Lembrei-me desta frase enquanto fui ao café engolir alguma coisa a fazer de almoço. Pensava no que escrevo, porque escrevo, porque não escrevo metade do que escrevo a pensar, escrevo no ar e no ar se desfaz, e algumas coisas giras, que gostaria de guardar, mas que o ar leva sem devolver. Escrevo tanto, e no entanto, escrevo nada ou quase nada, mas escrevo porquê? Escrevo porque há vezes em que tem de me sair de rajada o que doutra maneira não sai, fica preso na garganta, amarfanhado em lágrimas que não digo ou em mágoas que não engulo. Outras vezes escrevo porque sinto demais e gota a gota me transbordo. Vou-me revezando de capacidades volumétricas escrevendo e reescrevendo-me. Sou assim. Os que me têm amizade suficiente para me saber o que escrevo dizem-me que escrevo bem, eu corrijo, digo que gostam do que escrevo, que não escrevo bem, quanto muito ( e olhe lá), sinto bem: e não, não é porque sinta da maneira mais acertada - haverá??, não sei... suponhpo que não, seria uma tristeza haver uma maneira certa de se sentir o que quer que seja, não gosto de regras no que não tem fronteiras, nem horários no que não tem tempo que meça -, mas digo que sinto bem, porque sinto de maneira intensa, o que sinto sinto de dentro, por dentro, transbordante de mim para mim e depois para os outros, quando chego a eles, e quando lhes consigo chegar. Alguém que não me conhece as palavras - as minhas palavras, estas -, disse-me uma vez, que eu era uma mulher intensa, de sorriso espontâneo de gargalhada forte de olhar intenso, de intensidades sentidas. Acho que o que me quis dizer era que eu era intensa no intervalo das palavras, porque nunca me viu estas, se calhar... é aqui que me deixo e me despejo, escondida dos olhos que pensam que me vêem.. Haverá quem escreva coisas mais eruditas, há quem use palavras mais intelectuais, mais complexas e de categoria superior na hierarquia do dicionário, mas para mim, as minhas palavras são aquelas que eu sinto, que eu já comi o significado com as entranhas, já as mastiguei e até a alma já as cuspiu. O significado, não são letras que conjugadas fica bonitinho, não, são palavras que têm peso, têm densidade, têm uma vida e uma personalidade que se mistura connosco, que têm alma e sentir. Quando aprendemos as palavras aprendemos antes da sua composição de letras, e complexidades, o seu significado: o quente, o frio, o pequeno, o grande, o bom, o mau, o gostar e o não gostar... as palavras são sentires, são pensares, são memórias. E é por isso que eu também já posso dizer que a palavra Amor existe. Não são quatro letras duma palavra que tem mais definições que dicionários, é o que nunca ninguém entende até ela existir para cada um. E para mim existe. Afinal.

(e esta frase também fez parte dum mail que foi enviado e talvez tambem por isso nunca me esqueci dela, e de como a li, a vi e a senti...)
Boa Noite