Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

29 abril 2014

22 abril 2014


- Preciso de ti. E agora, o que é que eu faço? 
- Querer-me sem ser preciso. 

[...surgem-me diálogos destes na cabeça, sem aviso, normalmente ao acordar. Estas duas frases perseguiram-me o dia todo. Largo-as aqui para que me larguem.]
...hummmm não faço ideia....
o que ando a pensar é que livro vou começar logo à noite... 
se a Anna Karenina, se os Irmãos Karamazov, se um do Paul Auster que não me lembro o nome, se o processo do Kafka (não me apetece este na verdade, em processo Kafkiano ando eu há tempo demais...), se o Cemitério de Pianos do José Luís Peixoto, se o Vermelho e Negro de Stendhal (este tem uma muito boa probabilidade de ser o escolhido...)
... há coisas em que ter tanto por onde escolher baralha, e outras em que não importa quando ou quantos, sabemos exactamente aquilo que queremos.
Com os livros ando sempre uns tempos indecisa... logo à noite se verá.
(se alguém se quiser chegar à frente com uma sugestão, sou toda ouvidos...)

Atrasada para a reunião, claro!
Do outro lado da mesa, aquele sorriso demasiado polido, ainda que levemente sedutor, mãos bonitas com gestos que não condizem, ou nada dizem. Uma cara interessante... se ao menos não falasse para desiludir, se ao menos não se notasse a falta de ganas, de fibra, se ao menos o aperto de mão não fosse uma coisa quase não assumida... se ao menos os homens quando são interessantes por fora não desiludissem por dentro...
Sempre fugi de homens fisicamente interessantes - para não levar tampas, obviamente-, e porque sempre achei que eram parvos, pedantes e convencidos... not my style, a não ser para ver, claro!! E cada vez estou mais convicta: homens fisicamente interessantes não têm de se destacar em mais nada, e então, como dizia alguém, basta encostarem-se ao balcão e esperar... é pouco.
Enfim, mas dão uma boa paisagem, mais do que poderão dizer de mim, é um facto...
Bom Dia!
"Espreito. Continua a dormir. Não resisto à tentação do vício antigo e, guloso da sua beleza, levanto a roupa, fico-me a admirá-la num arroubo que soma os desejos da vida inteira. Mas cubro-a ao ver que treme num arrepio e passo o braço sob o seu pescoço, dou-lhe o meu calor.
Com uma ternura que nunca antes conheci beijo-lhe ao de leve os cabelos e a fronte, a face. Saciado de corpo e alma, afagado pela memória da noite, prendo a sua mão na minha e volto a adormecer.
(...)
Isso é o que ontem nos uniu. O que provavelmente nos separa, e a torna a ela distante e a mim melancólico, é a fantasia. A sua franqueza não quer enfeites, não conhece esperas nem precisa de sonhos. Nela só o corpo dá, só o corpo recebe e partilha. Sensibilidade e alma ficam de fora, assistem, mas não participam, são o escudo que um dia poderá opôr às recordações.
Eu, ao contrário, logo me perco a imaginar e sonho com mais, mais alto, mais intenso, cavo desatinadamente o desengano. Falo comigo próprio, mas é ao Gato que oiço e compreendo melhor as suas confidências, o desespero de não conseguir explicar o seu amor.
(...)
- Vê se não esqueces nada.
Mas ela não me escuta, e sem se importar com a chuva espera na rua, começa aos pulos de criança quando o carro dobra a esquina.
O homem sai, mas mal o vejo, Laura a abraçá-lo num frenesim de beijos e afagos. Só agora que se encaminham para mim, ela sem o largar, é que distingo não ser ele o jovem loiro de olhos azuis da minha fantasia, mas homem da mesma idade, cabelo grisalho e boa aparência, vestido com uma elegância de italiano."

J. Rentes de Carvalho, in A Amante Holandesa

[Acabou. Fico a pensar neste final do livro e no que ele me faz perceber, concretizar e resumir: as coisas nunca acabam por aquilo em que achamos que são impossíveis. É sempre alguma coisa que não esperamos que nos derruba. Talvez por isso, por não esperarmos, é que sucumbimos. 
No caso dele, na cabeça dele, a impossibilidade seria a idade, as diferenças, e afinal o amor dela vivia precisamente a possibilidade dessa impossibilidade aos olhos dele.
E eu tenho percebido isto, é o que não esperamos que nos derruba, porque o resto julgamos entender e acomodar no nosso olhar sobre a vida, mesmo que não concordemos e ainda que não gostemos. O que não esperamos atinge-nos no estômago fatalmente, sucumbimos e aterramos, não temos reacção. Era tudo o que não esperávamos. É a possibilidade real duma impossibilidade que não nos ocorreu.
A impossibilidade nunca está onde a esperamos.
Acabou o livro. Muito bom. Tenho de escolher a próxima vítima.
E agora tenho mesmo de ir fumar outro cigarro. E amanhã não sei como vai ser para levantar e rumar ao trabalho. Vou tentar pensar em todas as possibilidades que agora me assomam impossíveis. Não quero que me derrubem. Outra vez.]
Boa Noite, outra vez.

18 abril 2014

"Que fiz eu para merecer este destino murcho, esta vida tépida, monótona, previsível? Sem fogo de paixão, sem drama, os meus dias arrastam-se na expectativa medíocre de que talvez amanhã aconteça alguma coisa. Amanhã. Sempre amanhã. E ao mesmo tempo agrilhoado à certeza de que nada acontecerá, porque me envolvo em seguranças, ponho travões, não dou passo que não seja calculado.
Isolo-me e, contrariamente, anseio por companhia, mas companhia ideal, livre de imperfeições e desacertos.
Mantenho-me fiel - fiel a quê ou a quem? À mulher? À minha cobardia? - enquanto me arrasto pelos deboches sem limite nem lei que só a imaginação pode conceber.
Dou-me à veleidade de sonhar vida nova. De, como já disse, querer refazer o meu mundo, abrir outros horizontes, enquanto de facto me sinto morrer aos poucos. Não tanto do corpo, mas da alma, com a impressão de que esta vai perdendo o que eu julguei impossível de perder e se aproxima de um temeroso vazio.

(...)

Mantenho os olhos abertos e escuto-o, mas às imagens que ele evoca sobrepõem-se em mim outras, numa fantasia em que se misturam a inveja, ilusões, desejos recalcados. Como é que um pobre-diabo pode ter vivido um amor assim? Porquê ele? Que força manda que o destino duns seja mesquinho e o doutros uma sorte grande?"

J. Rentes de Carvalho, in A Amante Holandesa

[... Sim porquê? E por que é que quem vê de fora normalmente vê tudo ao contrário? O pobre-diabo a ter inveja do senhor, que afinal inveja a sorte grande que o outro viveu... E este trecho da sorte grande lembra-me também outras coisas, e penso o que sentirão se algum dia falarem com um pobre-diabo que tenha tido a coragem de reclamar o prémio... Que será que sentirão?
E agora talvez seja bom ir jantar...]
"- Para sempre?
- Para sempre.
E olhámos-nos sorrindo, sem saber bem de quê, talvez por sentirmos no íntimo que juras assim eram solenes de mais e que, ao fazê-las, apenas imitávamos um ritual."

J. Rentes de Carvalho, in A Amante Holandesa

[livro começado hoje, a seguir ao almoço numa esplanada com um café a acompanhar, e não o consigo largar, muito, muito bom...]
" Recordar é fácil para quem tem memória, esquecer é difícil para quem tem coração."
Gabriel Garcia Marquez (1927-2014)

[deixou-nos coisas boas, é daqueles que vai, mas ficará sempre, pelo menos em quem o lê com o coração. 
E esta frase diz-me tanto, tanto de tanta coisa que não parece, mas está lá. Nesta frase estão quase escondidas as respostas que dou (ou melhor, dava) a tantas perguntas que me faço (ainda). E a resposta, que gosto tanto, não me agrada. E isto parece confuso, mas não é. Parece contraditório, mas não é. É muito claro para mim.]

Boa Noite

16 abril 2014

...e agora fiquei a pensar, se não as tivesse apagado eu, agora perdia as mensagens todas, todas desde a altura, há uns dois meses, em que a caminho de casa, ganhei coragem e apaguei tudo... e agora ponho-me a pensar o que me custou que desta vez ficasse apagado, e  foram poucas as que me deixam pena de ter apagado - coisa estranha só por si, ou talvez não de tão estranho andares... Lembro-me de uma em que dizia que os tempos longe eu aguentava tentando agarrar-me à ideia que se realmente gostasses, haverias de vir ter comigo, que de alguma maneira arranjarias maneira. E perguntei-te que pensavas tu, do teu lado, e respondes: "amo-te", que pensavas isso, que me amavas, que no meio de tudo só pensavas isso, sentias isso. Nesse mesmo dia houve outra que não me esqueço, que se gostarias de ser o homem da vida de alguém, era de mim, e que querias que eu fosse a mulher da tua vida.
E agora as mensagens apagadas, ainda na minha memória as que apagadas não se foram de mim. Das mensagens nem rasto, e dessas tuas palavras e de tanta coisa, também não.... nem rasto. 
Onde anda tudo isso? Onde andas? 

15 abril 2014


Alguns dos principais acontecimentos do dia 15 de abril: nasce Leonardo Da Vinci, o paquete Titanic submerge completamente às 2:20 da manhã, Fidel Castro visita os EUA, inauguração oficial da Casa da Música, Papa Bento XVI faz a primeira viagem aos Estados Unidos e três pessoas morrem e mais de 100 ficaram feridas na sequência de duas explosões ocorridas durante a Maratona de Boston.



[...parece que ninguém deu conta de ter sido o dia em que há cinco anos atrás me apertaram o pescoço, encostaram à parede e roubaram o beijo que me mudou a vida, e que me mudou para eu ser quem eu sempre fui, e me tinha esquecido, ou tinha querido esquecer e enterrar debaixo do quotidiano, onde os sonhos não respiram, e a poesia morre asfixiada. Salvei-me, recuperei-me, para agora me enterrar inteira.
Na verdade estou a ser injusta, não me roubaram, porque acho que aquele beijo sempre foi de quem o levou e me levou. Só levou o que já era dele. Ele só veio resgatá-lo. Pena que não se tenha resgatado a si próprio...  ]

Boa Noite

13 abril 2014


...Menos um dia.
... Mais um anoitecer.
Olá, lua.
Tu és sempre a mesma, também.

Olá.


...Banho de lua.
Luar quase nú.
Alma quase despida.

Boa Noite

12 abril 2014


Amei Demais

Madruguei demais. Fumei demais. Foram demais
todas as coisas que na vida eu emprenhei.
Vejo-as agora grávidas. Redondas. Coisas tais,
como as tais coisas nas quais nunca pensei.

Demais foram as sombras. Mais e mais.
Cada vez mais ardentes as sombras que tirei
do imenso mar de sol, sem praia ou cais,
de onde parti sem saber por que embarquei.

Amei demais. Sempre demais. E o que dei
está espalhado pelos sítios onde vais
e pelos anos longos, longos, que passei

à procura de ti. De mim. De ninguém mais.
E os milhares de versos que rasguei
antes de ti, eram perfeitos. Mas banais.

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'

[.. a minha companhia: um cigarro fumegante e uma vela ruidosa, debaixo do silêncio do luar ( e que luar, caramba). A lua enorme e espreitar por entre ramos... A natureza devolve-me sempre um pouco de mim, como se chegasse às raízes mais fundas para as tentar acordar... e eu só quero adormecer. Um adormecer de mim, do que trago, que seria acordar de ti, do estado adormecido em que me embalaste, onde me aninhei, em que me inebriei, e  tanto me enganei. 
Amei demais. 
Não sei gostar assim assim, por isto ou aquilo, por esta ou aquela razão, porque dá jeito e até nos damos bem. Eu só sei gostar assim: demais. Ou nada, que às vezes é quase nada, mas para mim é o mesmo - não sendo tudo, com tudo, é banal, é nada, por muito bom que seja. Depois de se verem certas coisas, sentirem certas coisas, viverem certas coisas, o resto é banal sobrevivência, ainda que boa. Mas uma sobrevivência só minha, só para mim, porque só eu as vi, as senti, as vivi. Sempre só eu. E continuo. ]

11 abril 2014

- "Sevilha jantar e passear pela zona velha, sentar numa esplanada a ouvir guitarra cigana, os cheiros, as cores, as laranjeiras, os espectáculos de rua das escolas de dança, é lindíssimo." - caramba isto é a sua cara... e é a minha cara. é por isso que me apaixonava se já não estivesse, percebe?

- e consigo consigo ter isso.
às vezes parece que consigo entrar dentro de si sabia?

- não consegue, já conseguiu, está cá dentro, acho que isso que sente é só o reconhecer-se...

- e sentir a sua sensibilidade, uma energia tipo electricidade
igual à minha.

[Novembro de 2013, incrível, surreal se calhar... incompreensível de certeza. conversas nossas, coisas lindas. ainda bem que escritas para reler quando se quer...]

...afinal é noite de baú, de músicas e conversas, tudo do baú...
Boa Noite

10 abril 2014



"(...)
Well I know I make you cry
And I know sometimes you wanna die
But do you really feel alive without me?
If so, be free
If not, leave him for me
Before one of us has accidental babies
For we are in love

Do you come
Together ever with him?
And is he dark enough?
Enough to see your light?
And do you brush your teeth before you kiss?
Do you miss my smell?
And is he bold enough to take you on?
Do you feel like you belong?
And does he drive you wild?
Or just mildly free?
What about me?
What about me?"

[..noite de músicas...]



... este homem é brutal...
"A coisa estranha e terrível que estava a tornar-se-lhe clara sobre aquele mundo do futuro, ao imaginá-lo agora, é que nele ela não existiria. Limitar-se-ia a andar por lá, e a abrir a boca e a falar, e a fazer isto e aquilo. Não estaria realmente lá. "

Alice Munro, in Fugas

08 abril 2014


"Não te apaixones por uma mulher que lê, por uma mulher que tem sentimentos, por uma mulher que escreve...
Não te apaixones por uma mulher culta, maga, delirante, louca. Não te apaixones por uma mulher que pensa, que sabe o que sabe e também sabe voar, uma mulher que confia em si mesma.
Não te apaixones por uma mulher que ri ou chora, que sabe transformar a carne em espírito; e muito menos te apaixones por uma mulher que ama poesia (estas são as mais perigosas), ou que fica meia hora contemplando uma pintura e não é capaz de viver sem música .
Não te apaixones por uma mulher que está interessada em política, que é rebelde e sente um enorme horror pelas injustiças. Não te apaixones por uma mulher que não gosta de assistir televisão. Nem de uma mulher que é bonita, mas, que não se importa com as características de seu rosto e de seu corpo.
Não te apaixones por uma mulher intensa, brincalhona, lúcida e irreverente. Não queiras te apaixonar por uma mulher assim. Porque quando te apaixonares por uma mulher como esta, se ela vai ficar contigo ou não, se ela te ama ou não, de uma mulher assim, jamais conseguirás ficar livre..."

Martha Rivera-Garrido

[...não te apaixones por uma mulher... ao menos este conselho eu ainda consigo seguir!! 
Mas fico a pensar que não há mulheres reais assim, tão completas, tão mistura fatal, global e globalizante. Acho que haverá uma mistura fatal para cada ser, e não tem de ser isto tudo, pode até não ser nada, é só uma sensação de plenitude e de se estar bem com alguém, como se bastasse um sorriso que nos dirige para acender uma luz do lado de dentro de nós, que depois se mostra e brilha no nosso olhar para fora... não é preciso tanto predicado... basta que nos faça sentir o melhor que podemos ser. Ser a ponte para o nosso melhor.]

Bom Dia!
Boa Noite

06 abril 2014

E depois, não se sabe bem porquê, acorda-se com uma frase na cabeça:
"consigo tem de ser tudo ou nada."
E lembramos-nos do exacto momento em que numa conversa em frente à lareira o ouvimos pela primeira vez. Depois foi muito repetido, mas lembro-me daquele primeiro momento em que o ouvi como estreia. E hoje acordei a ouvi-lo de novo, quase como estreia à luz desta coisa que vivo, que podia ser o tudo, mas parece que é quase nada. Ninguém entende. Afinal comigo pode ser de qualquer maneira e tudo o resto foi paleio, mentira, fabulação sei lá. Sentido é que não foi, nem é. E isso eu sinto muito. Sinto muito tudo o que este nada é. 

...sempre fui do género de confiar desconfiando;
quando me mentem e me tentam fazer de parva, passo ao modo de desconfiar sempre, 
mesmo que vá tentando confiar. 
Mas quanto mais mentiras, quanto mais se acumula em desconfiança, mais difícil.
...acho que é fácil de perceber, não?

05 abril 2014

[foto da página do Facebook "Paradoxos"]

...se conseguires,
Bom Dia
...
vem meu amor, vem para mim
me abraça devagar
me beija
e me faz esquecer
...
bem que se quis
depois de tudo ainda ser feliz
...

[adoro]

Boa Noite

04 abril 2014


Morde-me com o querer-me que tens nos olhos
Despe-te em sonho ante o sonhares-me vendo-te,
Dá-te vária, dá sonhos de ti própria aos molhos
Ao teu pensar-me querendo-te…

Desfolha sonhos teus de dando-te variamente,
Ó perversa, sobre o êxtase da atenção
Que tu em sonhos dás-me… E o teu sonho de mim é quente
No teu olhar absorto ou em abstracção…

Possue-me-te, seja eu em ti meu spasmo e um rocio
De voluptuosos eus na tua coroa de rainha…
Meu amor será o sair de mim do teu ócio
E eu nunca serei teu, ó apenas-minha?

Fernando Pessoa

Boa Noite

02 abril 2014


"É o primeiro beijo o único beijo que importa.
É tudo. É quente e deixa marcas nos lábios da alma.
É o mais forte, o mais intenso.
É o primeiro beijo que conta.

O primeiro beijo não se esquece, não se perde no tempo. Tem sabor a eternidade e não é perfeito na sua perfeita forma de ser.
O primeiro beijo é tão mais que o primeiro beijo. São os toques no cabelo, são os olhos que se encontram de perto pela primeira vez. É o sorriso nervoso e o «quero-te» em silêncio. É a explosão que se dá, é o que damos a quem se dá.
É o medo, é a pressa, é o toque na cara, a mão na cintura e um querer louco que cada segundo dure um pouco mais de um tempo que, a correr, passa tão devagar.

O primeiro beijo nunca é "só" interessante para quem o sente. Nunca é suficiente mas nunca sabe a pouco. É tudo o que importa e é quando tudo acontece. É quando sei que te vou amar uma vida inteira mesmo que dure só uma noite. É a minha boca na tua, o teu calor com o meu, sem nada nos entretantos.
São momentos de vida. Ali. Nossos."

Do miúdo.

Cheio de razão.


Começo a ter disto...mesmo que soubesse explicar, às vezes já não apetece...

[foto de Claudio Montegriffo]

"Não podemos ser o super-herói de alguém que está perdido. Não podemos curar alguém que está quebrado. Não podemos completar alguém que está incompleto. Não podemos realmente salvar alguém. Por muito grande e sincera que seja essa vontade de o fazer. Tomar para nós essa tarefa é uma luta inglória da qual dois seres saem exaustos e confusos. Algumas batalhas tem de ser travadas dentro de nós. Não podemos salvar alguém, podemos apenas amar alguém. Amparar a queda, secar as lágrimas, oferecer o calor de um abraço… e esperar que essa pessoa encontre em si, um dia, a vontade de se curar. Podemos apenas amar alguém… e esperar que aprendam a amar-se também."

Quem tenta ajudar uma borboleta 
a sair do casulo mata-a. 
Quem tenta ajudar um broto 
a sair da semente destrói-o. 
Há certas coisas que não podem ser ajudadas. 
Tem que acontecer de dentro para fora.

Rubem Alves

Roubado ipsis verbis, à semelhança dum crime quase-perfeito :) , DAQUI, texto e citação. 


[...infelizmente parece-me que é verdade, porque estava muito precisada dum super-herói, muito mesmo.]




Preciso de alguém com quem me entenda e me entenda, que pense em mim, 
com quem me dê bem e que me saiba ouvir e me falar, 
preciso de alguém que comunique bem comigo- é o mais importante, dizem.
preciso de quem me varra as angústias com beijos e sussurros que se sentem por baixo da pele, 
preciso de quem me murmure amores aos sentidos da alma.
preciso dum olhar seguro que me aconchegue de Amor.
preciso dum colo que me carregue até voltar a saber andar ao seu lado pelo meu pé.
preciso de alguém que perca o Norte por mim e que me dê um Norte, 
preciso que seja a minha bússola, a apontar sempre, certa e confiante, para o mesmo horizonte: o seu Amor por mim
preciso dum perdidinho por mim que se perca em mim, nunca de mim.
preciso de alguém que não é quem eu quero.
querer é tudo, precisar é pouco.
Agora quero querer pouco.
É preciso.

Boa Noite



Hoje dói-me pensar,
dói-me a mão com que escrevo,
dói-me a palavra que ontem disse
e também a que não disse,
dói-me o mundo.

Há dias que são como espaços preparados
para que tudo doa.

Só deus não me dói hoje.
Será porque ele não existe?

Roberto Juarroz
in Poesia Vertical


[... há dias assim. Há alturas em que só me apetece adormecer sem compromisso de acordar, em que uma pessoa se sente morrer, sem saber se é de dentro para fora ou de fora para dentro, depois percebo que estou pior que morta - muito pior - por ter sobrevivido a tantas mortes sucessivas, e que o que resta não encontra cordão umbilical que me agarre à vida, nem vontade de o agarrar se houvesse. ]