Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

26 setembro 2010

Há dias em que me apetece mandar tudo à merda. Hoje é o dia. Apetece-me atirar para os braços do primeiro que se me atravessar à frente, que já se atravessou, e que já mandei passear, não me apetecem aqueles braços. Por muito que gostasse de ser doutra maneira, não sou, não sou capaz. Agora volta a insistir, sem perceber que não quero o que ele quer, que na verdade não quero nada. Quero ficar sozinha, quero dormir e esquecer. Esquecer-me que existi sem saber como ou porquê, esquecer-me porque não quero tomar café com quem insiste em se me atravessar à frente, sem perceber que não me diz nada, que quero ficar no meu canto e fazer de mulherzinha fraquinha a quem tudo derruba e tira vontade, a quem tudo faz desmanchar sem saber refazer, e hoje, sem saber até disfarçar. Detesto essas mulherzinhas.
Senta-te aqui ao meu lado, onde tantas vezes estiveste e seca-me esta tristeza que não descansa, senta-te como tantas vezes fizeste e deixa-me encostar a ti, beber-te o olhar e sentir-te o mimo de que não me canso. Senta-te aqui onde estou, onde ainda estás sem saberes, onde não consigo deixar de sentir-te, de ver-te, de querer-te. As recordações invadem-me o corpo sem saber que pontes queimar e que pontes passar, mas ganham-me sempre. Aqui sentada ao lado de ti, sem ti.

A kiss to build a dream on

Tempo, dizem que o tempo cura tudo, mas o tempo não cura nada, o tempo não faz passar, o tempo passa por nós e não nos leva o que se sente, apenas nos faz mastigar o que vivemos, faz-nos recordar e reviver, até que essa vida se torne mais distante, mais arrumada em nós, num sítio mais dificilmente alcançável, mais fundo, onde é mais dificl tocar-nos, mas não apaga, dá-nos apenas uma perspectiva diferente, dá-nos o olhar para trás e acomoda-nos vagarosamente na realidade presente. Obriga-nos a isso, a conformarmo-nos com o que não foi. O tempo reorganiza-nos o espaço interior e dá-nos espaço para nos protegermos até de nós, dos pensamentos, imagens, sons, conversas, momentos que não voltarão. Mas quem uma vez nos habitou bem o coração, jamais de lá sai porque o tempo passa, fica sempre. Um grande amor só deixa de o ser com outro grande amor. E esse pode acontecer, quando a nossa alma se reorganizar e acomodar, quando conseguir conformar-se com a realidade cada vez mais distante do que recordamos ainda e sempre com um sorriso especial. Se não houver um novo grande amor, qualquer coisa, um olhar, um gesto, uma palavra, um passo em falso faz reacender aquele que ainda nos habita, arrumadinho e calado, por muito tímido que seja esse reacender. O tempo não é a cura, mas tem de passar para que outro amor seja possível, sendo possível que nunca aconteça.