Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

07 setembro 2015


... Mas espero ter o meu melhor presente no futuro...
"Na grande maior parte das vezes só vemos aquilo que queremos ver, e sabemos aquilo que queremos saber. 
Fechar os olhos, não querer saber nada que nos acrescente em termos humanistas ou que nos faça evoluir como pessoas, saber não satisfazer "curiosidades negativas", 
melhor, chegar ao ponto de nem sequer ter curiosidades ilegítimas, isto tudo, não só é nível como é verdadeira evolução do espírito. 
A inocência é o que fazemos dela, a vida é como a vemos... 
A vida é bela quando a única coisa que nos preocupa, é o bem estar dos outros e nada mais. 
Porque as pessoas têm o seu espaço, que é seu. 
Vivemos num mundo corrupto."

Este comentário foi aqui deixado ontem. Só vi agora mas tenho alguma dificuldade em perceber o seu conteúdo, de qualquer forma, e porque a resposta se tornou demasiado extensa (eu e a minha capacidade de sintetização...), aqui fica a resposta possível...

Bom, vamos por partes porque não consigo bem seguir a linha de raciocínio do comentário...e até vamos começar pelo fim:

1º - vivemos num mundo com muita gente corrupta - verdade que não merece ser discutida,
poderíamos era discutir o que isso poderia ter a ver com o tema, porque não consegui perceber.

2º - "A vida é bela quando a única coisa que nos preocupa, é o bem estar dos outros e nada mais.
Porque as pessoas têm o seu espaço, que é seu." - mais uma vez, lamento, peço mesmo imensa desculpa pela minha incapacidade, não só de não perceber a ligação ao tema  (as pessoas negarem o que vêem e sabem), mas também de não perceber a lógica de relacionar o encarar-se a felicidade como o ver quem gostamos felizes (o que concordo) com o facto de as pessoas terem um espaço "que é seu"...???? hein?? não percebi.

3º - Concordo plenamente com a vida ser como a vemos, é o nosso olhar que nos define o mundo, sem dúvida, é o nosso filtro, mas quanto à inocência, a inocência não é o que fazemos dela, isso parece indicar uma certa utilização do conceito de inocência, um aproveitamento, uma manipulação,
e isso é tudo menos inocência...
Inocência é, de facto e genuinamente, não saber e não ver, isto no caso que estamos a discutir, ou melhor, sobre que eu escrevi...
Alguém que vê a vida e o mundo achando que a inocência é o que se faz dela tem um olhar sobre o mundo diferente do meu.

4º - Não vejo como evolução do espírito - muito menos "verdadeira evolução" - o saber não satisfazer "curiosidades negativas", nem ter "curiosidades ilegítmas".

Primeiro, não percebo bem o que seja a ilegitimidade duma curiosidade (se for saber da vida dos outros que não têm nada a ver com a nossa, bom, não é nada disso que aqui se trata, e isso para mim não é escolha, não é sequer fechar os olhos a algo que não se queira ver, enquanto escolha, para evitar ser confrontada com o que não me é favorável, é simplesmente não ouvir, não ligar. Não chega a ser "fechar os olhos", não é uma escolha, é simplesmente não me interessar por isso, legítima ou ilegitimamente, não sei, nem me interessa).

Quanto às "curiosidades negativas" penso que é um exemplo básico daquilo que falo (ou tento...) no texto, quando as coisas são "negativas" as pessoas escolhem fingir não saber, fechar os olhos,
(fazerem-se de "inocentes" na linha do comentário que aqui deixaram...), quando na verdade sabem exactamente o que estão a escolher fazer de conta que não vêem, porque não é bom, não lhes é favorável, não é agradável e às vezes até implica tomada de atitudes (ohhh que maçada, essa coisa das atitudes!!.... vamos lá fazermo-nos de "inocentes" que é muito mais cómodo...) - e isto, na minha perspectiva, não é, de todo, uma verdadeira evolução do espírito, ou sequer demonstração de nível, diria até que é o seu oposto.
É fugir de ver a sua própria realidade para não ter de se confrontar com ela e ver-se a si mesmo, aos outros e às situações, como na verdade são. Porque, isto sim, faz-nos evoluir enquanto pessoas adultas e seres humanos - lidar com a verdade, não manipulá-la, não fazer parecer uma coisa bonitinha quando não é. Há demasiada hipocrisia neste querer fazer parecer, é não assumir a realidade como é, para nós mesmos e para os outros.
E há pessoas para quem a imagem que projectam nos outros é fundamental, têm a sua própria imagem como aquilo que querem que os outros vejam e não pelo que são (e nalguns casos eu percebo, de facto se vissem o que realmente algumas pessoas são...enfim.), por isso passam a imagem para os outros duma coisa que não são, e muitas vezes isso implica fazer de conta que não se sabe o que se sabe, para poder passar a imagem duma vida que na realidade só têm quando estão no palco social... uma hipocrisia, portanto...

mas no fundo acho que vai ao encontro da primeira frase do comentário que aqui foi deixado:

"Na grande maior parte das vezes só vemos aquilo que queremos ver, e sabemos aquilo que queremos saber." - nós só queremos saber e só admitimos saber o que nos convém, sabendo exactamente o que estamos a eliminar do nosso conhecimento, ou seja, daquilo que efectivamente sabemos mas não queremos admitir. Sabê-lo colocar-nos-ia numa posição em que nós mesmos não nos queremos colocar. Essa posição, normalmente implica uma qualquer atitude que não queremos tomar,
e, então, em vez de assumirmos que sabemos mas nada fazemos, fingimos que não sabemos, e assim não perdemos a face nem o orgulho por não tomar nenhuma atitude...

É muito mais cómodo manipular o que se sabe da realidade do que enfrentá-la, mas está muito longe de quem o faz ter nível ou ser mais evoluído em termos espirituais, ou humanistas ou o que lhe queiram chamar, mas isto é só como eu vejo as coisas, mais nada.

Eu escrevi o texto que deu origem ao comentário porque durante muito tempo a minha razão dizia-me uma coisa, e o meu coração, pele, e alma diziam-me o contrário, e eu pus-me a pensar se eu, sabendo, não quis ver o que estava à frente dos meus olhos, embora tivesse  também muitas razões para duvidar da razão...    não era nada minimamente na linha do comentário que foi deixado, não tinha a ver com curiosidades, inocência ou corrupção... Respondi da forma que consegui  pelo que entendi do teor do comentário, no entanto, a resposta não tem muito a ver com a razão do texto inicial...