Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

06 janeiro 2015

Porque é que a lua é tão redonda? se o redondo não pica,  mas o luar brilhante espeta-se assombrado num coração aluado?
Humm?
Corre-se tantas vezes debaixo da lua sem o luar cair em nós... Outras vezes o luar tropeça-nos no andar e a lua engole-nos o caminho.
Como agora.

“Ponho-me, às vezes, a olhar para o espelho e a examinar-me, feição por feição: os olhos, a boca, o modelado da fronte, a curva das pálpebras, a linha da face… E esta amálgama grosseira e feia, grotesca e miserável, saberia fazer versos? Ah, não! Existe outra coisa… mas o quê? Afinal, para que pensar? Viver é não saber que se vive. Procurar o sentido da vida, sem mesmo saber se algum sentido tem, é tarefa de poetas e de neurasténicos. Só uma visão de conjunto pode aproximar-se da verdade. Examinar em detalhe é criar novos detalhes. Por debaixo da cor está o desenho firme e só se encontra o que se não procura. Porque me não esqueço eu de viver… para viver?”

Florbela Espanca

[ quantas vezes já não pensei quase exactamente isto?
com palavras quase exactamente parecidas.
Só não sei exactamente porquê... mas as palavras de Florbela sempre me pareceram raízes minhas. palavras dela que seriam minhas antes de o ser, por serem dela mas falarem de mim. ]
Que alguma coisa nos faça rir, porr@!!
Egeheheh
Bom dia!

“Irreconhecível

Me procuro lenta

Nos teus escuros.

Como te chamas, breu?

Tempo.”

Hilda Hilst 

[O tempo vive no passado, só coube tempo no que foi, no que sabemos ter sido. Amanhã não sabemos se há tempo para caber o que ainda não foi. Para a frente a escuridão come-nos o olhar. O depois não se sabe, não se vê, não se adivinha. O futuro não é uma tela em branco, é uma tela em negro. Ausência de luz, ausência de cor. Para se ver branco tem de haver luz, tem de se ver - a escuridão é não ver, não saber. E só sabemos do tempo que foi nosso. Do que foi, do que fomos, do quanto fomos o que somos - do que agora sabemos poder ser. 
Amanhã é escuridão, a única luz é a memória. A memória somos nós. Escureçam-me esta luz, apaguem-na, para eu não saber do tempo em que, inteira, me perdi do medo do escuro. 
Só depois da luz se teme a escuridão.]