Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

19 dezembro 2013

Não ando com vontade de escrever. Estou farta. Não de escrever, que sempre gostei e é o meu sistema de purga; estou farta é do que escrevo, do que penso, do que sinto há tanto tempo, sem ter tempo de sequer respirar esse sentimento. Tempo, não, condições. Não me deixam respirar, sinto-me confinada a um espaço exíguo, onde tantas vezes só pareço caber eu e o que sinto, e é pouco, e é talvez por isso que não respire, nem cresça. Falta alguém que sinta comigo e que tenha vontade de crescer comigo. Estou farta. Farta disto, de pensar sempre isto, escrever isto e sentir sempre isto, como se o tempo não passasse. Como se o tempo tivesse parado nesse espaço exíguo onde me encaixo e sobrevivo há anos. E agora lembro-me: hoje tive um sonho estranho. Estava na praia, o dia estava cinzento e frio, de repente o mar foge, recua muito, tanto que quase deixo de ver a beira mar. Percebi que se esperava um maremoto, olhei o horizonte e vi uma espécie de neblina por cima do mar, meio desfocado. Percebi que tinha razão e tinha pouco tempo para me salvar, dei por mim a pensar: salvar-te? E tu queres? E dei por mim a ter a certeza que pelo menos é minha obrigação tentar, comecei a correr, a subir por onde pudesse, apanho um carro velho- muito velho - e arranquei, dei graças a deus por não ter a criança comigo porque não saberia se a conseguiria salvar - e a ela eu tinha de salvar, sempre e de qualquer maneira. A mim, para mim, bastava-me saber que tentei. Acelerei sempre até que cheguei ao ponto mais alto: um farol, antigo pelo aspecto. Tentei abrir a porta pesada e não consegui. Desespero. Acordo. Não sei se me salvei.