Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

28 fevereiro 2015


Uns ovos mexidos, cogumelos com ervas, umas torradas, iogurte e duas laranjas. Agora um café, à janela, a ver os carros passar e a chuva a cair, e eu quieta, a beber um café quente. Quente, ainda de pijama, de preguiça impregnada, de ronha entranhada. Depois do café, talvez um filme, talvez ler, manta de certeza, chá de certeza, sofá quase certo. Apetece lareira, mas a lenha é pouca e não posso ir buscar. E desta vez nem é preguiça... Podia ser, podia, mas não é. 
O pior pesadelo é a ideia do sonho, como a nossa infelicidade acontece pela ideia de felicidade. Falta-nos quando queremos mais, porque na verdade cada um só precisa do que tem para (sobre)viver. Mas há uma altura em que conhece mais, que vê mais, que sente melhor, e já nada menos que isso lhe serve. E com o mesmo com que não eramos os infelizes tornamo-nos miseravelmente infelizes, à custa da ideia de felicidade, ideia que experimentamos, que vivemos, que sentimos, mas que depois se tornou, ficou apenas, no campo das ideias e do coração - baú dos sonhos que acalentam mas doem.
Hoje à noite sonhei, sonhei coisas boas, lindas. Eu estava feliz e tu estavas feliz, estávamos bem, abraçados, a rir, virados para uma paisagem cheia de horizontes, eu nos teus braços, tu com o peito colado as minhas costas, os dois virados para o horizonte, abraçados, felizes, com vontade, a rir, a brincar, a conversar. Tínhamos chegado de viagem, saímos do carro e tu abraçaste-me por trás e ficámos assim. Depois virei-me para ti e deixámo-nos continuar como sempre na brincadeira e nos beijos. Acordei. Não sei porquê, mas acordei. E acordei cheia de vontade de estar assim, de estar bem, de brincar, de beijar, de namorar. E não quero, não quero esperar nada, não quero sonhos de que se acorda, não quero horizontes que fogem, que não são partilhados na mesma vontade, não quero a ansiedade que se transforma sempre em desilusão, não quero a expectativa de ser o que nunca serei, nunca fui, não quero. Porque custa, custa acordar e querer ver-te, querer ouvir-te, tocar-te, falar-te, beijar-te e não ter nada a que me agarrar, nem a esperança de algum dia ter. Aliás a certeza de que nunca te terei, e nunca sequer te cheguei a perder. Não quero sonhar porque a tua ausência dói mais assim, não quero sonhar porque sonho sempre sozinha, e acordo sozinha para esse pesadelo de não te ter, de nunca te ter tido, de te saber desapaixonado e distante noutra vida, que por momentos, enquanto sonhei, foi nossa. 
Não quero. 
Sonhar acorda-me em pesadelos de ansiedade de te querer, de te querer ao alcance das mãos, da boca, do abraço apertado, e não posso, porque não me queres. E eu agora só queria poder encostar-me a ti, e esquecer-me que isso é um sonho.

27 fevereiro 2015

E agora, por ver uma apresentação dum concerto, dei por mim à lembrar-me de outras ocasiões, de outros concertos, de outros programas, e de me dizerem - como se nada fosse, ou como se isso justificasse alguma coisa - "eu tenho de ter vida, não é?" É, pois é. Pois tens, tens de ter vida, é isso que se faz, escolher a vida que se tem. Tu escolheste. E depois lembrei-me doutra, talvez por isso, por me lembrar de programas a não perder e coisas que se gostam: "não tenho razão para dizer que não". E se tu não tens, não ia ser eu que tas ia dar. Não faria sentido. Mas estas frases tiram sentido a tudo o resto que me diziam...

(Foto @aurelycerise)
... O que me apetecia um café ao sol, sentir o sol na pele, 
com sossego por dentro e por fora, os óculos de sol a ajeitar o mundo 
e as mãos dadas a quem nos quer bem e quer estar perto. 
Por sermos tanto extensão dele como ele nossa.
Não pode ser, como sempre, não pode ser. 
Toma-se café sozinha na cozinha, 
a ver o sol lá fora e a desejar dias melhores...

Bom Dia
A vantagem do facebook é uma pessoa acordar as cinco e meia e não conseguindo dormir entreter-se a ler umas coisas, até que alguém na outra ponta do mundo está acordado e conversa-se um bocado, damos-lhes as últimas novidades de hoje, e depois dizem-me  que aguento tudo, que sou como a mãe dele. E eu tento explicar aquela coisa da falta de alternativa... Aguentamos o que temos de aguentar por falta de alternativa que possamos escolher, é simples!! Como agora, se pudesse escolher estava encostada no peito que eu quero a fazer barulhinhos de golfinho, que na verdade nunca fiz, mas pronto. Mas isto era se eu pudesse escolher... Não posso. Não posso, e não devia escolher assim, se esse peito escolhe não estar aqui, eu nem devia ponderar escolhê-lo se pudesse, mesmo que esteja muito a precisar desse miminho, desse carinho, desse encostar de alma. Mas a realidade é que nao posso escolher. Tenho de estar sozinha e aguentar-me. Ora pois. É perguntar-me o que virá a seguir...

26 fevereiro 2015


Quando se gosta de alguém - gostar a sério - e essa pessoa não está bem, fazemos tudo o que podemos para á ver melhor, para a pôr melhor, ou no mínimo, se nada se puder fazer, ficamos ao seu lado, acarinhamos, mimamos, cuidamos. Dizer que se gosta, e depois ficar longe, por escolha própria, quando o outro não está bem isso não é sequer gostar, quanto mais amar. Suponho que amor se escreve para todos com as mesmas letras, mas nem todos a pronunciam da mesma forma. Nem para todos quer dizer o mesmo. Devem pensar que são só letras...
...A sério até estou curiosa com o que a vida me irá trazer a seguir... É extraordinária a capacidade de a vida nos surpreender, de as coisas poderem sempre  piorar, por muito mal que estejam... Estou um bocado farto desta vida, estou. E nada melhora, não há nenhuma luz ao fundo do túnel, nada. Este ano, até agora, só me trouxe coisas muito más, até podia dizer que parece  que me rogaram uma praga, se isto ao menos fosse sobre mim só, mas não é. Enfim, um dia a  vida muda e melhora, é o que me dizem, eu só vejo o contrário... E sozinha, sempre sozinha no meio disto tudo. Tenho amigos, valha-me isso, gente que telefona e pergunta do que preciso, o que podem fazer, ajudar. Isso tenho é valorizo. Sempre os mesmos. Sempre os presentes, sempre os mesmos ausentes. Nada muda. Para melhor, pelo menos.
Boa Noite

25 fevereiro 2015

... Ora bolas!!  Sempre me disseram que eram maçãs!!!
Anda uma pessoa enganada uma vida inteira... E ninguém avisa!!...



... Preciso de mimo e colo e de não ter esta constipação, nem febre.
E de um Ben já agora... 
Ben-u-ron, Ben-u-ron, era isso....

Boa Noite

24 fevereiro 2015

E há pouco, de repente, sem pensar - sem saber que o pensava -, vi-te naquela cama, moribundo, mas não eras tu que sofrias, não eras tu que morrias, era eu em ti. Deixavas-me morrer e senti-me sofrer por isso, morrer nisso. Eras tu que eu via nesta cama, mas era eu que me sentia morrer mais um pouco. Como se houvesse sempre mais para morrer do que se sabe viver. Sempre mais um pouco de morte, das mortes que não sabemos ter, mas nos encontram. De repente foste tu naquela cama, mas quem morre sempre sou eu. Morro em ti mas sobrevivo para o ver - para te sentir a indiferença de deixares-me morrer em ti por nunca te ter sido vida. Posso morrer-te que nada em ti morre. Só em mim, só eu. 
[finalmente dorme, e eu despejo-me.]
... O Kafka espera-me...

Boa Noite.
" Nunca estiveste realmente onde não te tenhas perdido, onde não tenhas amado nem beijado nem sofrido, onde não tenhas sorvido o frio da noite, o céu da manhã. 
São diferentes os lugares que se aprendem dos lugares em que o corpo se ensopou."


[Talvez quem não se ensope não saiba perder-se, não saiba que só perdido se reconhece na alma a casa onde somos. Onde sofremos, amamos e beijamos; onde nos aquecemos, porque sentimos o frio da noite, mas não medo. Onde acordamos por podermos adormecer ensopados em nós, no que somos, onde estamos.]

23 fevereiro 2015

Há finais de dia que são vontade de pegar no telefone e ouvir a voz que queríamos do outro lado, e sentirmos assim alguém ao lado, do nosso lado. Mas não o fazemos, nunca o fiz e não farei, não serei mulherzinha para descer a esse ponto. Não mo permito e não quero, mas a vontade, o impulso, grita-me por dentro dos ouvidos, só o consigo calar dizendo-lhe, com a calma da razão, que se alguém quisesse estar ao meu lado, do outro lado da minha voz, estaria. Se eu estivesse entranhada no lado de dentro de alguém, estaria.  Se não está, se não me sabe, nem quer saber, não tenho vontade de ouvir voz nenhuma. Ao meu lado não está ninguém, ou estaria. Saberia que hoje ao fim da tarde teria vontade de ligar e falar. Simples. Não posso querer falar com quem não me quer saber. Claro. A vontade cala-se, mas esperneia. Eu fico quieta. Calada.
Boa Noite.
(que traga um bom dia... que não traga mais coisas más e tristes,
 e nos ensine a lidar melhor com as que temos... se não for pedir muito...)

22 fevereiro 2015


Chegou ao quarto e já não estava na cama, encontrou-o em frente aos roupeiros no chão, a fazer flexões.
Ela ainda de cabelo despenteado e descalça, naquele ar matinal desarrumado, chega de mansinho com um sorriso domingueiro e deita-se no chão ao lado dele que se deu conta dela sem saber o que contar...
-a exercitar o corpinho hoje, é? Não há preguiça por aí?
- preguiçoso ando eu...
E continuava, já com meio sorriso. Ela rasteja para debaixo daquele corpo, encaixa os ombros entre as maos dele apoiadas no chão, entre o vai vem dos exercícios com falta de preguiça. Ele chama-lhe jibóia, e ri-se a um palmo de distância da boca de peixe pedinchona dela:
- vá, faz de mim uma mulher sem preguiça no corpo... Vamos lá exercitar...
Abraça-o com pernas, braços e mergulha-lhe nos olhos enquanto o puxa para ela...
-olha o preguiçoso...

(Eheheh tontices, pois sim, já sei, coisas parvas e doces que só as palavras lambem. Ainda não aprendi a descoser a pele da doçura tonta que já não se usa. Pode ser que um dia consiga separar as águas...)





Ando com uma cena na cabeça desde manhã, nao sei porquê apareceu-me, passou à frente dos meus olhos, entrou-me alma adentro e dei por mim a sorrir... Feita estúpida, pois. Ainda não a escrevi, é uma coisa meia tonta, mas que me fica a bailar na cabeça e nos dedos enquanto não a deixar escrita. Só é pena que estas minhas imaginações macacas só dêem para escrever, em vez de as coser com linhas da vida à alma, aos dias que me escapam pelas mãos sem rir, sem fazer rir, sem abraçar e encher de beijos... 
E ainda não vai ser agora que a escrevo, parei hoje pela primeira vez agora, vou beber o meu café no silêncio dos barulhos que me rodeiam. Estou cansada, doem-me agora os ossos debaixo do olhar já cansado há tanto tempo...

Bom Dia

Boa Noite.
(ou...assim seria...com um beijo destes de fim de noite...
ou de começo de noite, ou de dia, ou de vida, ou de qualquer coisa...)

21 fevereiro 2015

A noite tem uma pestana que lhe enche o olhar de melancolia.
(é o que dá dar voltas na cidade sem destino debaixo deste céu, aparecem-me frases que tenho de deixar nalgum lado... talvez seja essa a minha chegada ao destino)
Já se respira. O friozinho até sabe bem a acompanhar o cigarro. Percebo que tenho fome e ponho-me a pensar nas pessoas que têm uma vida normal, entraram no ano sem chamar para dentro nomes a ninguem, que celebraram a esperança dum novo ano, dum recomeço, e depois outras comemorações, o dia destinado aos apaixonados e os jantares apinhados de normalidade corrente, o carnaval e os risos, o aproveitar cada coisa e todas as coisas. As pessoas que não chegam ao fim do dia a tentar fazer sentido dum ano que começou sem coisa nenhuma ter acabado, um ano que por mim acabaria já, e tarde. A normalidade essa coisa de toque diário e corrente ou o que seja esse conceito redondo que rebola para onde o mandarmos, ou quase, essa não se aproxima desta Eva, que acende mais um cigarro depois do descafeinado bebido, esperando que a cafeína acorde o ano que dizem que é novo, ou era. Não sei quando é que a normalidade dirá que o ano já não é novo...
Aqui o ar é pesado, dum quente ressequido, saturado, e eu saturada de o respirar. Quase a acabar o turno. Quase. Apetecia-me tratar de mim, um bocadinho que fosse. Ando a sonhar com uma tarde de ficar de papo para o ar a tratarem de mim: cara, mãos, pés, se puderem tratar da alma também agradeço, mas isso duvido... Mas no fim uma massagem. Isso sim era uma tarde. Depois ir para casa, para a lareira com uma garrafa de tinto, boa música e um livro que nos afunde nele, sem deixar levantar cabeça. Precisava disto tudo, à falta de tudo o resto, isto agora servia-me. Está quase a acabar o meu turno, preciso de pelo menos espairecer, fumar um cigarro, dar voltas na cidade, qualquer coisa que pareça assemelhar-se com descanso ou da família... Também vinha a calhar um jantar bem disposto com quem gosta de nos usufruir a companhia com uma conversa pós repasto e uma garrafa de vinho, ou duas, na loucura. Enfim sonhar ainda não paga imposto. E eu ando mesmo a precisar duns dias longe daqui, e nem sonhar consigo de quando o poderei fazer... Enfim, o turno deve estar quase a acabar. Preciso dum cigarro e de ar. De respirar e sentir ar...

... Ronha....
E o resto da vida à espera. E eu espero até à última para ignorá-la... E agora chega, não pode ser mais. E hoje, hoje, vendo bem as coisas nem é fim de semana, ou quase não é. Acabou agora.

Bom dia!
... Terá sido isso?
Também isso?

20 fevereiro 2015


"Preciso de alguém, e é tão urgente o que digo. Perdoem excessivas, obscenas carências, pieguices, subjetivismos, mas preciso tanto e tanto. Perdoem a bandeira desfraldada, mas é assim que as coisas são-estão dentro-fora de mim: secas. Tão só nesta hora tardia - eu, patético detrito pós-moderno com resquícios de Werther e farrapos de versos de Jim Morrison, Abaporu heavy-metal -, só sei falar dessas ausências que ressecam as palmas das mãos de carícias não dadas.
Preciso de alguém que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar. Que tenha boca para, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor. E um grande silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver. Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como - eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da conha que você habita, e da qual te salvo, meu amor, apenas porque te estendo a minha mão.
No meio da fome, do comício, da crise, no meio do vírus, da noite e do deserto - preciso de alguém para dividir comigo esta sede. Para olhar seus olhos que não adivinho castanhos nem verdes nem azuis e dizer assim: que longa e áspera sede, meu amor. Que vontade, que vontade enorme de dizer outra vez meu amor, depois de tanto tempo e tanto medo. Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio - tão cansado, tão causado - qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um Caminho. Esse, simples mas proibido agora: o de tocar no outro. Querer um futuro só porque você estará lá, meu amor. O caminho de encontrar num outro humano o mais humilde de nós. Então direi da boca luminosa de ilusão: te amo tanto. E te beijarei fundo molhado, em puro engano de instantes enganosos transitórios - que importa?
Mas finjo de adulto, digo coisas falsamente sábias, faço caras sérias, responsáveis. Engano, mistifico. Disfarço esta sede de ti, meu amor que nunca veio - viria? virá? - e minto não, já não preciso.)
Preciso sim, preciso tanto. Alguém que aceite tanto meus sonos demorados quanto minhas insônias insuportáveis. Tanto meu ciclo ascético Francisco de Assis quanto meu ciclo etílico bukovskiano. Que me desperte com um beijo, abra a janela para o sol ou a penumbra. Tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma coisa como eu sou o outro ser conjunto ao teu, mas não sou tu, e quero adoçar tua vida. Preciso do teu beijo de mel na minha boca de areia seca, preciso da tua mão de seda no couro da minha mão crispada de solidão. Preciso dessa emoção que os antigos chamavam de amor, quando sexo não era morte e as pessoas não tinham medo disso que fazia a gente dissolver o próprio ego no ego do outro e misturar coxas e espíritos no fundo do outro-você, outro-espelho, outro-igual-sedento-de-não-solidão, bicho-carente, tigre e lótus. Preciso de você que eu tanto amo e nunca encontrei. Para continuar vivendo, preciso da parte de mim que não está em mim, mas guardada em você que eu não conheço.
Tenho urgência de ti, meu amor. Para me salvar da lama movediça de mim mesmo. Para me tocar, para me tocar e no toque me salvar. Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura. Ah, imenso amor desconhecido. Para não morrer de sede, preciso de você agora, antes destas palavras todas cairem no abismo dos jornais não lidos ou jogados sem piedade no lixo. Do sonho, do engano, da possível treva e também da luz, do jogo, do embuste: preciso de você para dizer eu te amo outra e outra vez. Como se fosse possível, como se fosse verdade, como se fosse ontem e amanhã.
Meu nome é Caio F.
Moro no segundo andar, 
mas nunca encontrei você na escada. " 

Caio F. Abreu

[preciso, e talvez precise porque conheço. Ou talvez tenha conhecido porque precisava. E nem sabia... Agora sei e conheço e preciso. E podia ser assim - um colo, mas no sofá com a chuva lá fora e a lareira cá dentro. Sei que podia.]





Paradoxo da pele : precisar tanto de ser tocada e não suportar a ideia de alguém me tocar.

Li algures que a pele tem memória, e é verdade, só pode ser verdade - ainda que nem para todos, ou cada um terá a sua memória selectiva, talvez. Tenho esperado a amnésia da pele, o perder o norte dos caminhos que a ponta dos meus dedos percorria de olhos fechados, o desbotar dos trilhos que me sulcaram a memória, que por tantas vezes terem sido percorridos na pele ficaram lá, ainda os sei e quase os sinto. Não fui abençoada com essa amnésia, bem com muitas outras, ao contrário de tanta gente que tão facilmente, tão rapidamente, muda a pele que toca, que nem a ponta dos dedos chega a notar diferença, como se já nada sentissem, ou como se tudo fosse o mesmo - todas as peles, todos os corpos, o mesmo corpo indistinto, que não lhes mergulha na memória, no ser, não invade a casa e a torna sua. Como deve ser triste não ter um rosto de que sentir saudades, como deve ser pobre, em tanta pele não sentir nenhuma como casa. Deve ser uma solidão cheia de gente sem rosto, sem pele com alma, sem ternura para beber na ponta dos dedos. Prefiro a minha solidão cheia de saudades, o meu corpo esculpido de memórias, ainda que anseie pela amnésia que me deixará, pé ante pé, sair da solidão e permitir conhecer novos caminhos, que não fujam de mim e me deixem na saudade da minha pele - de a sentir-, e da pele que não é minha. Que não me levem aquele recanto no meio do peito que reclamei para mim, onde os meus dedos se perdiam na inconsciência de terem chegado a casa, bocadinho que elegi universalmente para mim, e que declararam meu, mas que terá sido tão meu como de toda a gente que não deixou saudades. Que não deixou nada. Bendita amnésia do que não precisa de ser esquecido.

Boa Noite



19 fevereiro 2015

(... Não viro princesa mas quem sabe insistindo...)

Estas tardes assim dão-me tempo para divagar de pensamento em pensamento. E dou por mim a achar que certas coisas não terem dado me livra de preocupações, preocupações estúpidas, mas ainda assim preocupações (ciumeira, pronto). Sempre que vejo alguma mocinha interessante dou logo por mim a mentalmente chamar nomes a alguém, e não, não é a elas. Há dias estive com uma dessas criaturas e dá-me para pensar que, realmente, entre uma e outra não haveria dúvidas. Eu não teria. O que me chateia, porque assim nao dá para criticar condignamente (mas dá para chamar nomes, muitos). É que há mulherões do caraças (em todos os sentidos) e depois há uns caraças de mulherzinhas (peço desculpa pela terminologia, mas não me apetece pensar noutra maneira de dizer o que se diz assim). E perceber que isso é fácil de perceber por quem não nos apetece que o perceba, dá para dar largas ao vocabulário cabeludo português... Que até tem enriquecido nos últimos dias, nesses termos tão finos e lisonjeadores, tais são as coisas que oiço a uma distância de metros... Hoje  a meio da tarde, ouvi de tudo, o que vale é que entre o espanto e o nojo dá-me para rir... E para chamar muitos nomes nos entretantos...

Há dias em que se consegue fechar os olhos à  vida. Fechar os olhos e não ver o que nos rodeia, onde estamos. Fechar os olhos, e ver só o que por dentro temos de mundo, como se fosse a realidade, para fugir à realidade. Há dias em que se fechar os olhos me consigo rir, e ver luz, e achar que as coisas não estão tão más assim. Nunca dura muito, nunca fecho os olhos muito tempo, a realidade tem uma maneira de nos acordar. Ou nós uma maneira de não nos deixarmos adormecer profundamente. Umas vezes mais cruel, outras menos. Nem sempre sabemos como, ou por que, nos acorda, mas de repente já o riso nos escapou e a luz se esfumou. Como agora, ao pensar em amanhã, e nos dias que se seguirão, e não me apetece; não apetece ser invadida e acordada por dentro por este mundo, onde a luz apagada faz abrir mais os olhos para melhor discernir a nossa escuridão.

Boa Noite 

18 fevereiro 2015


... E isto lembra-me uma pergunta que eu costumava fazer, e a resposta que dava quando me diziam que não... Sinto falta dessas brincadeiras, dessas, e doutras, de todas... E daquelas mãos, e daquela cara a olhar para mim com olhos a sorrir, enquanto a ponta dos meus dedos, vagarosamente, faziam o reconhecimento daquele território, daquela pele. Decoraram o mapa todo, tenho na ponta dos dedos todos os caminhos onde me perdi, e donde ainda não voltei inteira. Talvez ainda ecoe em mim aquela outra pergunta, parecida com esta, que me faziam, e que nunca deixava de me fazer rir. E não, há tanto tempo que não me dizem nada disso. Tenho saudades, também, de me rir com essa pergunta, mesmo quando era feita para distrair as atenções doutras coisas nada lindas... Ou principalmente nessas alturas.
ahahahahah...
... temos de rir, temos de rir, senhores..
e eu já me mascarei várias vezes de bruxinha... 
é para variar do docinho que sou ihihiihih
e não, nunca sai de moda, 
quem é bruxa todos os dias é do mais fashion que há, deve ser isso... eheheh

Bom Dia!

What about??
Hummmm??...
Nummm  hááá!!....
....buáááaaaaa...
Snif Snif
(depois dos últimos dias, só tentando brincar mesmo é que se aguenta... para aliviar... E agora o último cigarro da praxe, sem luz, a ver se o cansaço dos ossos e dos olhos fraqueja e me dá uma trégua...)

Boa noite

17 fevereiro 2015

Pode ser que dê jeito para quem tiver dúvidas... Ou não queira ver, se está, ou não, apaixonado, essa coisa maluca que acontece para nos fazer felizes (ou não, ou não...)

"Saber se está realmente apaixonado não é tarefa fácil. É uma questão que pode influenciar muitas pessoas e relacionamentos, para a qual obter uma resposta é complicado.

Muitos não sabem ‘ler os sinais’ interiores e, para ajudar, a psicóloga e professora universitária Theresa E. DiDonato fez uma lista de mudanças que ocorrem quando se está apaixonado:

1. Está “viciado” nessa pessoa

Nem toda a gente sabe, mas o amor influencia o cérebro. A euforia que as pessoas costumam sentir, no início de uma relação, é visível através do aumento da actividade neurológica em áreas ricas em dopamina e ligadas ao sistema de recompensas. Segundo o estudo de Aron, Fisher, Mashek, Strong, & Brown (2005), outra das áreas que é afectada é o giro cingular, por norma ligada ao pensamento obsessivo.
À medida que o tempo passa e o relacionamento se vai tornando mais sério, pensar no seu parceiro activa os centros de recompensa e áreas cerebrais relativas às ligações, e não tanto ao pensamento obsessivo.

2. Quer muito que os seus amigos e familiares o conheçam

Estudos recentes demonstram que muitas pessoas precisam do apoio/aprovação das pessoas com quem estão. Outras investigações já demonstraram que o círculo social de uma pessoa tem um papel muito importante no sucesso de um relacionamento.
Precisar da opinião ou aprovação dos seus amigos ou familiares não é algo negativo, quer antes dizer que está cada vez mais ligado ao seu companheiro.

3. Fica contente com as vitórias dessa pessoa (mesmo que você tenha falhado)

Segundo o estudo Lockwood & Pinkus (2014), quando se está apaixonado, a ligação amorosa que existe entre os dois faz com que fique feliz com o êxito da pessoa que está ao seu lado, mesmo que você não tenha conseguido alcançar o mesmo grau de sucesso.
O orgulho no seu companheiro ultrapassa sentimentos negativos ou de inferioridade.

4. Sente muito a sua falta quando estão longe um do outro.

As saudades que sente de alguém reflectem o tipo de relação e de dependência que tem relativamente a essa pessoa. Se tem dúvidas se estará efectivamente apaixonado por alguém, questione-se se sente a sua falta quando não estão juntos.
Estudos referem que a intensidade da saudade está directamente relacionada com o grau de compromisso numa dada relação.

5. Mudou desde que conheceu essa pessoa

Muitas vezes quando estamos apaixonados, temos a sensação que mudámos. Isto é, já não somos a mesma pessoa que éramos. Consciente ou inconscientemente, as coisas pelas quais tínhamos interesse, os nossos hábitos, a forma como ocupamos o nosso tempo mudaram desde que essa pessoa entrou na nossa vida."

Apanhado aqui.

(realmente, não há dúvidas, desapaixonada não estou. Ainda. Ao contrário de tanta gente... E realmente olha pode ser que dê jeito para comprovar o que já se sabe. Confere.)

(o artigo original em inglês tem mais uns pozinhos engraçados... Aqui)


(...) Nem sempre me incendeiam o acordar das ervas e a estrela
despenhada de sua órbita viva.
- Porém, tu sempre me incendeias. (...)

Herberto Helder

[acordas-me do mundo, incendeias-me de vida, quando tudo que me habita são cinzas. Agora não acordo do mundo e uma brisa espalha-me pelo ar, desfaço-me a cada respiração. Já não espero acordar, já não espero que me incendeies. E eu sou feita de fogo, ou de memórias dele. Ou de memórias de nós, onde faltas tu.]


Apago as luzes pego num cigarro, o último do dia, espero.
Sento-me à janela donde vem luz e movimento, na varanda está demasiado frio para o cansaço que trago nos ombros, para o frio que tenho dentro. Penso nas pessoas que têm um amor tão grande que não lhes cabe nas mãos, que nem sabem dizê-lo, mas sabem estar sempre que é preciso, sabem apoiar, dar e sofrer quando as horas apertam (porque amar é muito - tanto - feito desse estar, dando; desse cuidar, estando; dizê-lo é fácil - é só preciso pronunciar palavras, juntando letras, sons). Pessoas que são muito doces por dentro e endurecidas por fora. A vida, as desilusões, as dores que cicatrizaram em carapaça impenetrável. Mas que guardam amores ternos, verdadeiros, duma generosidade imensa que escaparia aos olhos mais incautos. E é também nestas alturas que me sinto orgulhosa, e agradecida, e tão aquém de quem me está tão próximo, quem me é. E um peso doloroso de culpa imensa por não conseguir ser assim, por não ter em mim tamanha generosidade, para lhe poder aliviar o peso das obrigações que também são minhas, e de que ele não quer partilhar o peso. Poupa todos menos a ele. Hoje em dia é o único homem que me protege. E tenho orgulho nisso, ainda que nunca lho tenha dito. Mas acho que ele sabe.
Agora vou fechar a tela branca e fumar o último cigarro numa paz cansada, e esperar que amanhã seja um dia melhor, mais calmo, menos dorido, mais normal, menos avassaladoramente assustador. Mas se for, acordaremos amanhã para ele. Seja. Até que deixe de ser.

Boa noite.

16 fevereiro 2015

Quatro horas em pé sem cadeiras por perto, sete horas sem comer, e agora dor de pés, pernas e estômago, às voltas na cidade à procura dum sossego que não existe. Paro o carro porque não me apetece casa, não me apetece nada. As mãos vazias sem outras com que se entrelaçarem, sem um ombro que oiça, ou que apenas nos deixe encostar. O silêncio de tudo o que grita por dentro e ensurdece. A vontade de adormecer, só. E as mãos vazias, cheias de tudo o que não podem fazer.

Às vezes olho para estas fotos que vou apanhando e pergunto-me quando será que vou voltar a deixar-me cair num sono tranquilo, depois de um, ou vários, beijos de boa noite. 
Quando é que voltarei a adormecer a sentir as minhas costas aquecidas pelo peito que dentro guarda a minha vontade de acordar. 
A vontade do amanhã, de acordar e poder dar um beijo de bom dia que faz logo um dia bom.
Às vezes olho e pergunto-me muitas coisas assim. Deve ser por estas e por outras que me dizem que tenho perguntas a mais... 

Boa noite
Olha olha deve ser um dia de sorte... Outro filme com o Kevin e agora a moça até  é pouco mais velha que eu (acho eu)...Eheh... E ele acabou de fazer uma pergunta que me pôs a rir... Este é daqueles românticos light fast food... Deve ser do que estou a precisar é não deixa pensar, além de contribuir para estupidificar... Só coisas boas, portanto...

15 fevereiro 2015

"Mais triste que estar só, 
é ter alguém ao nosso lado a impedir que a solidão nos abandone,
 que alguém nos resgate."

João Morgado


[...encontrei esta frase e resume uma parte da minha vida, e a justificação de decisões que tomei. Eu não o diria melhor*. Não queria, não podia, ter ninguém ao lado a impedir-me de poder vir a não estar só. A impedir que alguém me resgatasse da solidão e me fizesse usar de tudo o que me faz, e que sou, na essência. Alguns recantos de mim precisam de alguém que os faça respirar. Descobri que são talvez o melhor de mim, e com que me sinto melhor. Talvez não se trate de ser inteira (ainda que se sintam certas ausências como amputações, do que sendo nosso, de repente deixamos de poder  chegar-lhes) apenas quando se tem alguém ao lado que nos acrescenta em tanta coisa, mas de sentirmos a plenitude de nós, do que podemos ser. E isto talvez seja uma coisa que tenho vindo a aprender e a compreender - sozinha, sem estar só, sou inteira, mas não plena. E a diferença, depois de a conhecer, é tremenda. Dá saudades de nós, como dum quarto fechado à chave na casa que habitamos, que é nossa, mas a chave está num bolso que não está em nossa casa, que não temos. Essa chave abre-se em gargalhadas que já não ouvimos, em olhares que falam coisas impronunciaveis, em toques que chegam à alma, em brincadeiras que são a coisa mais séria da vida: vivê-la respirando a nossa essência.]

*há também uma frase de Nietzsche que nunca me esqueci "Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia."

"Ainda bem que quando me olham só podem ver quanto te amo, e não o quanto te desejo; podem ver como me encantas e te admiro como és e por quem és, só não sabem a tesão que tenho ao ver o teu olhar e o teu sorriso. E mesmo que intuam a empatia, que pressintam quão grande é a cumplicidade, ainda bem que não imaginam que penso na tua cona quarenta vezes por dia, que sonho acordado com a tua boca, os teus lábios, a tua língua.
(...)
( (...) Sim, por vezes creio que possam duvidar: que achem que isto que lhes digo, de o amor ser mais por dentro, é coisa fácil de afirmar quando se ama a mais bonita. Se o disserem, não o desminto; apenas penso que ainda bem que o coração não tem janelas, que não podem ver por elas o quanto penso em ti despida, que não sabem que ao reunir-me nas longas mesas polidas só penso em foder-te nelas. Atrai-me o teu feitio, tua perspicácia, inteligência. E deve haver quem não entenda isto – há quem diga “personalidade” e isso queira dizer “mamas”, mas em ti excitam-me as duas, as duas mamas e as duas coisas, todas as coisas em ti, todas as coisas de que és feita.)
(...)
E o sangue das minhas veias, que é finito e limitado, foge-me do cérebro, vai-me para o caralho. E a culpa é tua."

O S. Valentim do Menino... Muito bom, como sempre.

E eu, de todas as culpas que poderia ter, aquela última não me importava nada, nada, de ter 
(desde que o destino do sangue for pertença da pessoa que eu quero, entenda-se, e que tivesse por mim uma coisa, pelo menos parecida, com aquilo que o menino descreve - do querer tudo, de não saber distinguir onde começa o de fora e acaba o de dentro, qual apaixona mais. Porque tudo é aquela pessoa, a nossa pessoa.)
Bom, e agora vou ao banho, parece-me que são horas do dia começar com obrigações, chatices e tristezas, além das outras que já temos cosidas por dentro... Mas um banho ajuda sempre, dizem (pelo menos à limpeza e ao cheirinho bom, ajuda, vá...)

.... Nope... E agora tenho aqui o Kevin Kostner à minha frente num filme lamechas, lamechas... Mesmo a combinar com o dia melancólico (vou acabar a maldizer a minha vida, estou mesmo a ver). Sempre gostei deste moço, não é bonito mas tem qualquer coisa de gajo normal, com charme mas sem grandes manias e um ar doce e reservado. Gosto... Enfim não há gajos assim, só a ideia deles na minha cabeça... Ninguém entende os gajos, ou eu não, e ontem comprovei-o mais uma vez. 
Enfim...
Bom dia.

14 fevereiro 2015

"Ainda assim, em casa dos seus pais havia uma situação pouco comum para a época: a sua mãe tinha uma profissão. Melhor, uma carreira. A atriz e cantora Maria Clara não era a típica dona de casa, numa altura em que isso era a norma. Como é que o seu pai via isso?

- O meu pai tinha um ouvido catastrófico, como o meu, mas tinha um orgulho extraordinário nela. Tinha 40 anos quando casou com a minha mãe, 14 anos mais nova. E conquistar a atriz de sucesso terá sido, para ele, um feito. Ele tinha fama de pinga-amor, mas foi por ela que se apaixonou perdidamente. Durante anos e anos, quando a minha mãe chegava dos espetáculos em Lisboa, o meu pai esperava-a com um enorme ramo de flores. Apesar de a minha mãe não gostar particularmente de flores. Mas ele não sabia e ela não queria dizer-lhe. O meu pai, como de costume, depois ia para os livros e a minha mãe perguntava-me: «E agora, o que é que eu faço a isto?» "


Ouvia muitas vezes um dos programas de rádio deste senhor, apanhava ao final da tarde e muitas vezes aconteceu, depois, não ser capaz de sair do carro antes de o programa acabar. Lembro-me de num programa o ouvir confessar que tinha tido a sorte de ser um filho que chegava a ter ciúmes do amor que os pais tinham um pelo outro, ao ponto de, mesmo sendo filho, às vezes se sentir um pouco a mais, um pouco intruso, daquele amor. Eu achei delicioso, e secretamente desejei que os meus filhos o pudessem também vir a dizer. Principalmente porque o amor, como modo de vida, é  também um exemplo. Um exemplo de como deve ser, ou deveria ser, um mundo muito próprio, uma união muito cúmplice, cosido com respeito, bordado com linhas de ternura e carinho. Para que não se dê o exemplo de que qualquer coisa serve para chamar de amor, que qualquer coisa chega para alimentar a vida.

...porque o tempo está tão murchito 
(agora não se pode dizer cinzento, não vão pensar em sombras e afins...) 
aqui fica o meu contributo para animar o dia.
...e bom.... pode dar jeito a quem tiver um touro em casa para (se) entreter, sei lá. 
E no fim, se ele não se conseguir levantar da cadeira... bom sentem-se vocês - ao colo... eheheheh

E para as pessoas que pensaram isto hoje, ou ontem, ou há alguns dias, ou mesmo que não o digam,  olham para o outro e têm a certeza de que a escolheriam sempre e todos os dias de novo, apesar das coisas más, apesar das chatices e algumas zangas... Para vocês que ainda se ilumina um sorriso no rosto quando observam o outro sem ele saber, na sua forma mais pura, mais genuína, e isso dá-vos uma espécie de orgulho misturado com muita vontade de abraçar, agarrar e encher de beijos e risos... Bom, para vocês um bom dia. 
(se puderem hoje surpreendam o outro com uma coisa engraçada, ou só parva, ou meia tonta, uma coisa muito vossa, pronto, hoje têm um pretexto para exagerar um bocadinho o que fazem sem dia marcado.... Aproveitem, aproveitem-se.)
Para os outros que andam sozinhos com alguém pela mão, um bom dia dos namorados. 
Para os que não se incluem nas hipóteses anteriores: olhem, leiam um bom livro, vão a uma esplanada beber um café... como alguém me dizia ontem... No resto dos dias do ano também ninguém gosta de nós, mesmo. Hoje não é pior, né? 
Bom dia para nós, então!!

Boa Noite
Há uns anos, já nem sei quantos, a esta hora estava a publicar um post para alguém, sem saber se o iria ver ou não. Viu, e respondeu-me, com o mundo de permeio, que o que viu o emocionou. Estávamos longe como acontecia de tempos a tempos, porque assim alguém (que não eu) escolhia, mas ainda assim eu a esta hora mais ou menos estava a publicar uma coisa a pensar nessa pessoa, como que para chegar a essa pessoa sem saber se chegaria. Só chegaria se o fosse procurar. Não fiz a pensar se iria ter retorno, se alguém o faria por mim, ou a querer que fizessem algo parecido por mim. Não, fiz pelo prazer de o fazer e pelo prazer de fazer feliz quem queremos ver bem, com um sorriso que enche a alma porque nasce na alma. Não pensamos se vão fazer alguma coisa por nós, para nós, parecido, ou não, pensamos - ou nem sequer pensamos, é uma coisa que não se chega a materializar em pensamentos - que só queremos que alguém goste, que fique bem, bem disposto, e que isso nos faz felizes. Muito. Que recebemos com o efeito no outro do que damos.
Hoje olho para trás e percebo que a única coisa que queria, era que o bem de alguém fosse o meu bem, a sua felicidade a minha felicidade. E não, não foi nada assim. Não houve eco, eu queria-o feliz e fazer feliz, e com isso sentir-me (e sentia) feliz, esperando - sim, talvez esperando - que do outro lado houvesse vontade do mesmo: ser feliz tentando fazer-me feliz, fazendo-me estar bem. Com pequenas coisas, com brincadeiras, com gestos, com atitudes, com o querer cuidar, mimar e ver bem, feliz, tratar bem. Amar. Não houve eco, não houve atitudes. Não houve nada, a não ser, afinal, perceber que não, que não conseguia, que não queria. Nada. Abandono, só. Sempre.
E agora estou aqui, e parece que nem o mundo está de permeio, porque não está ninguém do outro lado. E parece-me que, como eu pensei que estava, nunca esteve. Tanto, que só eu vou à procura duma coisa de há anos atrás, só eu fui ver, só eu me lembro disto, só eu.

13 fevereiro 2015

"É uma sensação esquisita... De vazio. Não sei explicar..."

Nem eu, nem eu sei explicar mas sei que olhei para o lado e o muro segredou-me estas palavras. Não sei explicar.
ehehehheh
pois, nem de graça, quanto mais...
e ontem alguém me perguntava dos meus planos para o dia de amanhã, 
respondi que não tinha... não me acreditaram, 
acham que tenho uma fila de mocinhos à porta... 
...e eu só penso que o raio da fila se existe, não anda... empancou, irra!! 
(mas o pior mesmo, é que não existe...)

Bom Diqa!





... Depois de meia garrafa de vinho, era o que caía bem...
Mas não pode ser, então, não é, 
Ficamo-nos por 
uma almofada para nos encostarmos e fecharmos do mundo...
 Já que a melhor almofada de sempre foi sequestrada pelo nunca, 
e me deixou órfã de mimo, carinho, ternura e colo. 
Hoje apetecia-me o cheiro, sim o cheiro, e o calor e o sabor da pele a saber a nós.
Hoje quero sonhar, mas sonhar longe do sonho de te ter perto e sentir-me bem, ao colo, mimada por alguém que não me deixe sempre por herança a fria e dura orfandade.
Alguém que chegue sempre sem partir. 
Alguém que não volte por nunca me ter abandonado.
Alguém que me traga dentro e goste, que queira e goste que o traga também por dentro.
Por dentro de mim, dos dias e do sorriso quente sem razão.
E me mime, me acarinhe, me respire, me toque -
que não me prove à colher, mas que lamba os dedos de tanta doçura.
Que me beije com a pele e me ame com a alma toda.

Boa noite.

12 fevereiro 2015

E quando nos beijávamos......
E eu perdia a respiração e, entre suspiros, perguntava: Em que dia nasceste? E me respondias com voz trémula:
Estou nascendo agora...

Mia Couto
[...e agora morrendo por cada um que demos, e não tenho, e me falta. Tanto ainda.]

Não nas nuvens, mas debaixo das nuvens. Mesmo debaixo das nuvens, em frente ao mar, com uma banda sonora doce para os ouvidos e sol na pele. Há coisas piores. Muitas vezes o pouco sabe-nos a tanto.

Bom dia!

11 fevereiro 2015


... E quem paga sou eu, o que não melhora nadinha...
Irra que dia...
A viagem de manhã não é a mesma se não for no nosso carrinho, as coisas que são nossas fazem-nos falta, é verdade. Até entendo isso. Não entendo que se sobreponha a coisas mais importantes, eu não teria de pensar muito no assunto. Mas hoje à noite já a música será minha e o motor aquele que já me conhece os pés. E isso, parecendo que não, é uma coisa boa, não fosse a parte de ter ficado com a carteira tão mais leve... Enfim é a minha sorte...
 E se nós pensarmos o dia inteiro em alguém?
e sorrismos e tudo, também... 
(às vezes também lhe partimos os dentinhos todos, 
mas talvez não interesse muito referir essa parte... digo eu)...
... essa pessoa é nossa?
Não??... 
pois também me parecia...
e sorrir, até devem sorrir, e muito, 
só não por se lembrarem que eu existo, quanto mais pensarem em mim...
Bahhhh...

Bom Dia
... Que nem uma lapa.
Parece-me bem, tão bem.
Ahhhh... coisa boa.

Boa Noite

10 fevereiro 2015


Sim, agora era um colinho. 
Antes de fazer o jantar. 
Podia ser na cozinha, podia ser em qualquer lado,
 desde que fosse um colo que desse colo. Doce. Tranquilo. Cheio de mimo.
...e agora ganhar coragem para mais uma viagem. 
Mais um regresso. 
Não me apetece ir onde tenho de ir, 
não me apetece voltar de lá como sempre volto.
Não me apetece, pronto.
Mas tem de ser, eu sei. 
Do vazio brota sempre uma escuridão nova.
Seja.

hum hum...
... é isto.
Bom Dia!


Boa Noite

09 fevereiro 2015

E não sei porquê, lembrei-me agora daquele fim de noite, já pintado com as cores frias da manhã, em que te vi ao longe... vi a cena toda de longe, não querias ir, não querias entrar no carro. Eu a ver-te, e de repente saíam-me da boca para dentro as palavras "não vás. se me amas, não vás". Palavras que nunca te disse, palavras que nunca te diria, que confessei surdas apenas a mim. E as palavras seguiam-se, as mesmas, desenfreadas, tanto quanto seria possível a repetição acelerada sem comer letras, nem futuro. E tu insistias que não querias, não querias entrar no carro, não querias ir, mas foste, mas entraste; vencido pelo cansaço, como sempre, ou pela vontade do mesmo que não muda. Nunca saberei. 
Entraste, eu calei-me para dentro e para fora, engoliste-me o futuro.
Deixaste-me o presente de não me amares para o futuro.
Ou de nunca me teres amado em tempo algum.

“Eu quase consegui abraçar alguém semana passada. Por um milésimo de segundo eu fechei os olhos e senti meu peito esvaziado de você. Foi realmente quase. Acho que estou andando pra frente. Ontem ri tanto no jantar, tanto que quase fui feliz de novo. Ouvi uma história muito engraçada sobre uma diretora de criação maluca que fez os funcionários irem trabalhar de pijama. Mas aí lembrei, no meio da minha gargalhada, como eu queria contar essa história para você. E fiquei triste de novo. Hoje uma pessoa disse que está apaixonada por mim. Quem diria? Alguém gosta de mim. E o mais louco de tudo nem é isso. O mais louco de tudo é que eu também acho que gosto dele. Quase consigo me animar com essa história, mas me animar ou gostar de alguém me lembra você. E fico triste novamente. Eu achei que quando passasse o tempo, eu achei que quando eu finalmente te visse tão livre, tão forte e tão indiferente, eu achei que quando eu sentisse o fim, eu achei que passaria. Não passa nunca, mas quase passa todos os dias. "

Tati Bernardi

[quase. 
quase sempre quase. 
um dia o quase completa-se. e um completo e acabado quase, acaba-se, extingue-se, deixa de ser quase, passa a ser qualquer coisa que ainda vou descobrir. sem "quases". não gosto de "quases". estou farta, não quase farta. farta mesmo. de quases, de quase tudo. de tudo o que é quase. de tudo que quase foi e nunca foi nada. mesmo nada, e não quase nada. mas um nada completo, ainda que não extinto, em mim, só em mim, ou não estaria vazia, quase a abarrotar de espaço ocupado por quem não está.]

... E não é tarefa fácil, essa...
E hoje comecei mesmo, mesmo, bem o dia. Tão bem que me vai custar bem caro... 
E logo este mês...irra!!
Canta, canta, minha linda, que tens muitos males para espantar...
Olhem, para vocês que seja um bom dia...

... Pois. Pois sim.
A ordem não é importante...
...o facto se ser uma ordem já é...
E devia estar acrescido de "right now!"
Bahhhh
(um dia vou arranjar um mocinho obediente para estas ordens, a sério que vou. Um dia)

Boa noite.

08 fevereiro 2015


(Ou acaso... )

"Diz Mallarmé: "o acaso deve ser fixado". Dizer: "amo-te", explicitamente, ou seja, enunciar o amor é, por isso, crucial: porque fixa um acaso, que é o encontro dos dois, num caminho, uma continuação, uma persistência, um destino. É a declaração do amor que transforma o que é potencial, talvez efémero, no que é construído, ou mais ainda, no que é eterno."


[há quem faça de dizer "amo-te" um acaso, há quem o diga sem fazer caso, há quem faça disso um caso bicudo e há até quem não o faça. Parece-me certo que quem o sente realmente está predestinado a dizê-lo, a enunciá-lo, a fazer disso não um acaso, mas uma declaração natural, porque quando se sente o "amo-te", guardá-lo, calá-lo, rebenta-nos pelas costuras. É rebenta todas as costuras, sai, acaba por romper-nos a boca, ou os gestos, ou os dias.  Dizê-lo é não só natural, mas uma necessidade, uma consequência, e até o alívio de mostrar o que se guarda, uma partilha, um destino. Difícil é saber distinguir qual o caso quando se ouve: se foi um acaso, se foi dito sem fazer caso disso, ou se se trata do sério caso de ser sentido. E aí o acidente fixa-se no que nos é eterno.]

Estavam os dois a ouvir a mesma música que o rádio ia debitando na noite, nas salas contíguas onde os dois se sentavam: ela no sofá à volta de palavras num livro, ele à volta de papéis de trabalho. Não era assim sempre, era assim quando calhava, quando tinha de ser, ou quando os dois queriam. A música que começava no rádio fechou-lhe o livro e o espaço para palavras, acordou-lhe o sangue da alma e a dança no corpo. Começa a deixar o corpo falar da música, invadi-la, conquistá-la até a sentir por dentro da pele, a comandar o corpo que deixava de ser seu, e ao mesmo tempo nunca falava tanto por ela, e dela, como quando se deixava dançar assim. Só ela e a música. Havia alturas em que parecia tornar-se uma necessidade, libertar o corpo, soltar a alma; e tudo isso fazer uma música que se sente por dentro, e que somos nós numa forma pura e estranha: essencial. Desfaz-se do casacao e das meias sem medo do frio, espanta o frio no calor dos movimentos que lhe cresciam no corpo, que a música vai roubando ao corpo sem licença de pudor. Tira as meias que se agarravam ao tapete, solta os cabelos quando já tudo corre solto e o sorriso lhe desenha as feições. De olhos fechados entrega a alma à música, deixa-se levar. Nada é tão reconfortante como deixarmo-nos levar sem medos, sem rédeas, sem muros. Abre os olhos e vê, em sobressalto, os dele. À porta, a olhá-la como se a visse pela primeira vez, a apaixonar-se tudo de novo, a querê-la com a urgência dos inícios. Ela reconheceu-lhe o olhar, era o mesmo que ela tinha quando o via a andar na rua, quando o via a trabalhar, de cigarro por acender na boca, a apontar aquele dedo não se sabe para onde quando se queria lembrar dalguma coisa que lhe parecia fugir, depois lembrar-se e "Ahh..." enquanto recolhe o dedo à normalidade absurda de não apontar para nada, quando o via a arrumar a cozinha ou atrás de fios teimosos, quando o via falar com o miúdo do bar quando ia pedir uma bebida - de cada vez, ela olhava-o assim, como agora reconhecia no olhar perdido dele, a meio caminho entre o sorriso e a perdição. Ela só disse "anda"... e estendeu a mão para lhe dar o corpo todo. Ele não sabia, mas ele era a música dela desde que tinha cometido o erro de lhe roubar um beijo, sem ela nunca aceitar que ele o devolvesse. Era ele que dançava nela a cada música que lhe chamava a alma.

Bom dia
(acordei com esta cena, tenham paciência, isto passa)
"O amor deseja, o medo evita. Por causa disso não podemos ser amados e reverenciados pela mesma pessoa, não no mesmo período de tempo, pelo menos. Pois quem reverencia reconhece o poder, isto é, o teme: seu estado é de medo-respeito. Mas o amor não reconhece nenhum poder, nada que separe, distinga, sobreponha ou submeta. E, como ele não reverencia, pessoas ávidas de reverência resistem aberta ou secretamente a serem amadas.”

Friedrich Nietzsche

[amar é, talvez, também entregar as defesas sem recear qualquer ataque, o que será diferente de por não esperar ser atacado baixar as defesas. A diferença está na entrega. Na entrega sem razão, entrega no reconhecimento de outro igual, entrega a quem nos pode tirar tudo sem nos subtrair nada, e, ao mesmo tempo, que nos pode dar tudo o que temos. Mas o único que nos dá a ponte para o que temos de melhor.]

Boa Noite