Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

27 novembro 2014


"É tão fácil não gostar. Não querer. Não correr. Permanecer naquilo que já conhecemos. Que não nos surpreende. Saber de cor os dias. e ter as noites controladas. Ter o passo seguinte traçado e o caminho meio rabiscado. É tão simples prescindir e não lutar. É tão fácil querer viver no vazio. É simples esquecer sentir. Optar não tentar.
É tão parvo não gostar quando se gosta. É idiota não querer quando se quer. É estúpido não arriscar. É triste o medo ganhar.
É pequenino não querer ser grande."

Rita Leston

[será tudo isso tão simples? não a essas coisas todas? não sei. 
Será tão mau assim preferir o cómodo e não arriscar? não sei. 
...não arriscam a pele, não arriscam perdê-la por deixar de senti-la, ainda que ela continue no seu lugar, intacta; não hipotecam a alma sem saber quando a recuperarão, ainda que a saibam sua. Nunca são verdadeiramente infelizes nessa comodidade acomodada, nem nunca saberão o que é poder perder a felicidade que se tem, que se sente, que nos mostra como a vida pode correr nas veias e o coração saltar obstáculos. Mas também quem é que quer isso? Essa aposta alta de vida? Essa roleta russa contra as probabilidades?...é tão melhor um seguro da vida que não se chega a viver e uns chinelos amarfanhados, de quem anda na guerra, ainda que pouco gastos onde chamam casa, e onde nunca sentimos estar com os dois pés. 
Não sei o que é melhor. Não fiz o seguro, e a minha guerra é procurar os chinelos para os dois pés quando não quero andar descalça.
Talvez um dia. Depois saberei. ]

Aceitar o dia. O que vier.
Atravessar mais ruas do que casas,
mais gente do que ruas. Atravessar
a pele até ao outro lado. Enquanto
faço e desfaço o dia. O teu coração
dorme comigo. Agasalha-me as noites
e as manhãs são frias quando me levanto.
E pergunto sempre onde estás e porque
as ruas deixaram de ser rios. Às vezes
uma gota de água cai ao chão
como se fosse uma lágrima. Às vezes
não há chão que baste para a enxugar.

Rosa Alice Branco
[Aceitar o que vier, e o que não vier também. 
Atravessarmo-nos até ao outro lado de nós, onde já estamos e nos esperamos sem saber o que esperar de nós, mas sabendo que lá chegaremos, que não nos faltaremos no que de nós sempre resta. Que nos chegaremos, que nos bastaremos, e que isso chega para respirarmos dia a dia, o dia que vem e tudo o que vai. Respirar até um dia - e pode ser mesmo só um dia - o dia nos respirar e a vida nos encher os pulmões da alma que sabemos que sente, que foi feita para sentir, e isso nada nos tira, pode adormecer, pode até adoecer, mas o que é verdadeiramente nosso não se perde, nem nos podem roubar. Mesmo que nos roubem o chão que nos enxuga as lágrimas, as lágrimas são nossas, o sorriso que as seca também, como a alma que nos habita e não nos morre. A alma é o que somos, é o nosso último reduto, a nossa essência, o que fica quando tudo o que pode ir vai, quando nada mais nos acresce além de nós. E há dias em que nos basta para aceitar o dia e agasalhar as noites. Sabermos quem somos. Mesmo que nos pareça pouco, nos pareça pequeno, nos pareça frágil. Mesmo que não consigamos ver em nós o que nos vêem. 
Nos dias em que não se acredita, aceitar. O que vier, e o que não vier também.]

Bom Dia

"-Vou guardar as tuas mãos na paixão que tenho por ti,
mas não te posso revelar o meu nome, nem precisas de o saber.
Chama-me o que quiseres, dá-me um nome para que possamos amarmo-nos.
Aquele que tinha perdi-o no caminho até aqui.
Pertencia a outra paixão, e já a esqueci.
Dá-me tu um nome para eu poder ficar contigo..."

Al berto

[dá-me um nome,
um que seja meu,
que sinta meu,
que seja eu,
eu pelos teus olhos
e que seja eu.
Que sejam os meus olhos,
o meu olhar,
a minha pele
e a tua sede de vida.
Chama-me com paixão,
sussurra-me de ternura,
berra o teu grito por mim, por ti.
Agarra-me pelo nome,
chama-me pelas mãos.
Chama-me como me queres.
Chama-me o que quiseres,
mas chama-me tua,
a tua vontade,
o teu desejo,
o teu sonho,
o teu amor.
Chama-me.]

Boa Noite