Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

30 abril 2012


O mapa do meu coração tem sítios a que não quero voltar. Ontem transportou-me a um desses sítios, tirei o pin que o marcava, arranquei uma parte dum sonho, enterrei vontades a que quero perder o rasto. Não quero peregrinações a lugares onde não posso estar, onde não caibo, onde não posso viver, nem de visita. Há muito que o dia de ontem estava marcado como uma porta, em que se passa ou se fecha. Nnguém bateu a essa porta, ninguém entrou. Nem de visita.

28 abril 2012

Por longe que estejas: posso ainda te ver,
Por longe que estejas: tu permanecerás
Qual presença que não pode empalidecer,
Qual paisagem, a mim sempre contornarás.
Se tuas margens eu jamais tivesse tocado,


Mesmo assim saberia tua imensidão:
Ondas de meus sonhos me teriam levado
À beira de tua infindável solidão 


Rainier Maria Rilke
Estou farta.
Mesmo.
Cansada. Não vejo futuro. Acho que estou nesta fase da vida há demasiado tempo em que não consigo ver o futuro à minha frente, porque não tem luz, está tudo numa escuridão fechada. Não sei o que ela encerra, e não tenho qualquer vontade de saber. 
Os hoje são desprovidos de amanhãs. 
Viver assim, não é bem viver, é morrer a cada amanhã que nos parece faltar, a vontade que nos parece faltar hoje para tudo e não queremos repetir amanhã, não queremos que ele chegue a chegar...
E quando pensamos que só nós somos atingidas por este marasmo, esta tristeza estranha, dá-nos vontade de virar a mesa, de usar um sorriso postiço, um homem postiço, uma vida postiça e uma raiva muito genuína disfarçada em tanto postiço. 
Até a vingança genuína será postiça. 
Mas sentir-se-á na pele.
Frase da noite:
"O Amor é cego mas a amizade não."
(portanto oiçam os amigos quando estão estupidificados de Amor).
Outra frase que ouvi e não repliquei porque não me apetecia sair do meu mundo foi:
"se o meu sonho fosse casar e ter filhos nunca poderia estar com este homem, teria de estar com outro"
Eu percebo a ideia, mas não concordo. Porque a razão para se estar com alguém não é medido em alíneas de satisfação, de objectivos definidos, como uma check list com resultado percentual. Gosta-se ou não se gosta, e gostar é que é a razão para escolher quem se tem ao lado. Claro que os objectivos de vida pesam, e muito, claro que os projectos comuns ajudam, ou podem complicar muito, caso não sejam coincidentes, mas ou se gosta ou não se gosta, o resto é contexto. Temos de trabalhá-lo. Porque não há sonho maior para a vida do que o Amor ( com "a" maíusculo), os outros ao pé dele são mais terrenos, menos mágicos e podem ser trabalhados, acordados, resolvidos, o que não há é amar mais ou menos, amar assim assim. Ou se ama, ou não se ama.
(e são estas coisas em que me ponho a pensar quando oiço algumas frases e fico calada como se mergulhasse para dentro de mim, eu não percebo porque sou assim, eu acho que estou certa, mas estaria de certeza muito melhor se pensasse doutra maneira, se tivesse uma check list meia aprovada, ou assim. E não soubesse que isso não é nada, que listas é para o supermercado e pouco mais. Agora vou ali só descabelar-me um bocadinho mais...)

27 abril 2012

(...)
-O campeonato é internacional?
- Não sei, é europeu ou mundial.
-Então deve ser internacional, não??

(quase tão boa como uma que me disseram uma vez: "amanhã vai estar sol durante o dia", ao que respondi, "pelo menos durante o dia... porque à noite é que era!!!")
Está quase!!!
E não fosse a minha malfadada conta bancária a chatear-me, e a pôr-me dilemas como ou ir jantar, ou ir para a noite, ou pintar o cabelo (porque estou farta de mim e apetece-me mudar), e eu poderia experimentar este ar descansado e prazenteiro...
Acho que vou prescindir do jantar... e vou levar mesmo a minha cabeleira para a noite, para quem não a conhecer é como nova!!
I don't (I didn´t), but I could... And then WHAT???
Gostei da ideia.
Fotografar gente de livro em punho entretido a ler... por aí...
A mim seria tão fácil apanharem-me, se o dia for de sol e de não trabalhar... As nossas esplanadas são tão boas, as varandas, os bancos de jardim, eu sei lá... e os livros, os livros também!!
Are you flirting with me???? Hummmm??? I'm a tutu man, behave yourself!!

Quem disser que as loucuras que se fazem por Amor têm limites nunca amou.
Não há fronteira que não se salte, nem problema que não se assalte de peito aberto para fazer o outro bem, estar bem, a sorrir. A história aqui ou aqui.  
Há projectos que valem a pena, e amores que valem tudo.
De manhã, atrasada como sempre, como sempre a correr, paro o carro mal parado, em cima do passeio. Dou a volta ao carro para tirar o meu rebento, abro-lhe a porta, e enquanto a ajudo a sair do carro, um outro pai, pára à nossa espera no passeio.. sorri e diz-me, sem que me dê temnpo para lhe pedir desculpa por impedir a passagem, "não se preocupe eu não estou com pressa." Agradeci e despachei o mais que pude, sai a míuda do carro e diz ele..."ahhh que gira, esta miuda é mesmo gira" e eu respondo "gira, e sempre atrasada!!", depois, a olhar para mim, e com aquele sorriso malandro/sacana que só os homens conseguem ter, diz-me "não sei a quem sairá assim tão gira, não sei não..." Finalmente fecho o carro, pego na miuda e digo-lhe, vá diz adeus ao senhor..."Adeus".
E pronto, foi assim que comecei o dia, podia ser pior, mas o outro pai podia ser assim qualquer coisa que se aproveitasse olhar, ou qualquer coisa, mas não, nadita, não tenho sorte nenhuma, ficou o piropo...e eu ligeiramente corada...eheheh
[às vezes é bom ouvir estas coisas, é bom para começar o dia]


Respiro o teu corpo:
... sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.

Eugénio de Andrade

[espectacular...tropecei nele há bocadinho mesmo, ando numa fase de poesia, está visto...]

E agora vou-me fazer de inesquecível em sonhos (em sonhos pode ser que funcione),
que acabaram-se-me os cigarros... e assim não pode ser...
Ahahahahah...aqui a ver fotos e afins e deparei-me com esta!!!
(linha com piada para os meninos...)

26 abril 2012



A chair is still a chair, even when there's no one sittin' there

But a chair is not a house and a house is not a home
When there's no one there to hold you tight
And no one there you can kiss goodnight

A room is a still a room, even when there's nothin' there but gloom

But a room is not a house and a house is not a home
When the two of us are far apart
And one of us has a broken heart


Now and then I call your name
And suddenly your face appears
But it's just a crazy game
When it ends, it ends in tears


Pretty little darling, have a heart, don't let one mistake keep us apart
I'm not meant to live alone, turn this house into a home
When I climb the stairs and turn the key
Oh, please be there, sayin' that you're still in love with me, yeah...


I'm not meant to live alone, turn this house into a home
When I climb the stairs and turn the key
Oh, please be there, still in love


I said still in love
Still in love with you...yeah...


Are you gonna be in love with me
I want you and need to be, yeah
Still in love with me
Say you're gonna be in love with me
It's drivin' me crazy to think that my baby

(...)

25 abril 2012

Boa noite.

Que boca há de roer o tempo? Que rosto
Há de chegar depois do meu? Quantas vezes
O tule do meu sopro há de pousar
Sobre a brancura fremente do teu dorso?

Atravessaremos juntos as grandes espirais
A artéria estendida do silêncio, o vão
O patamar do tempo?

Quantas vezezs dirás: vida, vésper, magna-marinha
E quantas vezes direi: és meu. E as distendidas
Tardes, as largas luas, as madrugadas agônicas
Sem poder tocar-te. Quantas vezes, amor

Uma nova vertente há de nascer em ti
E quantas vezes em mim há de morrer.

Hilda Hilst


Are you talking to me????
No????
Then you should start... right away.

Ela sentiu umas cócegas no ombro, mas duvidava se o tinha sentido mesmo. Insistiram, e ela teve a certeza de que tinha acordado, virou-se devagar, com o sorriso já desperto, e encontrou o olhar dele a acordá-la com carinho. Ele não disse nada, afastou-lhe o cabelo da cara e deu-lhe um beijo na testa. Ela afogou-se no pescoço dele e abraçou e tudo o que conseguiu, com pernas e braços, e ficou assim, só abraçada, à espera que acordassem para o mundo. Ele sussurrou-lhe ao ouvido que gostava de a ver dormir, e ela respondeu que gostava de o ver mal acordava. O olhar dele era o seu sol, enquanto não o visse não era dia nela. Ficaram assim enquanto o tempo parou, depois o tempo pareceu ter passado porque a fome deu horas. Deu-lhe um beijo e num salto anunciou a hora do banho. Lá foram, a água quente na pele do corpo já quente sabia bem, ele abraçava-a por trás com um braço que a envolvia pela cintura e que acabava no seu peito, a outra mão a percorrer-lhe as costas, e então deixou de haver tempo, e deixou de haver estomâgo, mas a fome tornou-se urgente, e ela gosta sempre dessa urgência, de a sentir, de a querer também, de a devorar enquanto sorri e sente apenas o toque, o carinho, o desejo, a vontade. Sente-se tão bem a vontade num toque, um toque pode ter a palete de cores mais extensa e viva, um só toque pode conter tudo e dizer tudo, ou pode ser vazio, não ter nada que vá além da epiderme. O toque dele ia-lhe além epiderme até à medula da alma, e era lá que a fazia completa. Era seu, ela era dele, naqueles instantes tinha certeza disso, sentia isso, em todo o resto do tempo duvidava e tinha medo, e sabia que enquanto fosse assim era bom, quando deixasse de ter medo, quando deixasse de duvidar, quando deixasse de querer, pouco mais restaria. Virou-se para ele, encostou-o à parede percorreu-o a par com a água que caía quente, desceu, subiu, adorava o seu corpo, cada milimetro dele, não se cansava de o ver e de o percorrer, com boca, pele e mãos,de se encaixar e amar a cada vez. Ficaram presos num beijo até ser a vez dele pegar nela e a encostar à parede enquanto a invadia e a água corria, fria para a temperatura dos corpos, acelerados, molhados, ligados. As respirações a compasso largo, os dedos a enterrarem-se na carne, os olhos a penetrarem-se e então abandonaram-se e os corpos tomaram conta da explosão que se dava, que acabava com eles abraçados, encaixados, com as bocas coladas num sorriso só. E um olhar que nos descobre por dentro. Ficaram assim algum tempo.
"Anda vamos ver a Toscana da Rascóia, que vai ser uma rambóia." -  ele deu uma gargalhada das que lhe enchiam a alma, e ela sabia que também ali ele era dela, mas em pouco tempo já não saberia nada, porque as certezas são coisas de pequenos instantes enganadores. Não há certezas, a única coisa que sentia por certa era querer continuar a ter medo, medo de o perder, medo que ele não fosse dela, que não se sentisse parte dela, porque isso era amá-lo ainda e tanto. Isso era certo. Só se perguntava se ele pensaria o mesmo. E se não pensasse, não era.

23 abril 2012

Ainda só é segunda feira e eu já me sinto assim...
Vamos lá contar até 10 e fingir que nos podemos teletransportar e esquecer a estupidez de algumas pessoas, que ironicamente viram-se para nós e dizem "eu devo estar a ser burra, mas..." e pronto às vezes têm razão, mas dessas não lha podemos dar... o que é uma pena!!!
...não tenho paciência, a sério, trocam as cores ao mapa e as pessoas não conseguem racicionar, a matemática e a lógica depende das cores, e não de si própria... meu deus!!! e eu é que estou virada do avesso e sem paciência, mas ainda consigo no meio do meu caos raciocinar e conter-me e não dizer..."pois estás..."
Tirem-me deste filme, e mergulhem-me neste aqui de cima.. pode ser??...
ou digam-me que sim que há esperança, e um dia as coisas melhoram, e farão sentido, um qualquer sentido...(e que não dependa de cores, porque se as trocam ou desaparecem, é o fim do mundo)
E que vou deixar de me lembrar de perguntas estúpidas, porque não, hoje ainda ninguém me perguntou nada disso que me faz rir nas sombras de mim sem que ninguém veja.

22 abril 2012

In killing mode...
Não me chateiem hoje, sim?
Não, não me apetece um cházinho, e não, nem aqui nem em Barcelona. Apetece-me que me deixem em paz! E que não pensem que todas as gajas se confundem com "garotas de programa" quando se lhes acena com um fim de semana em Lisboa, Barcelona ou Munique.. poupem-me!!
"Diz a data que eu trato do resto???"
hein??? Desculpe??? Sim, separei-me, não, não mudei assim tanto.
As pessoas ainda não perceberam que não é o destino que interessa, que o destino e as férias não me compram, e que não me dá prazer nenhum ir para onde quer que seja passear, conhecer, com uma pessoa que conheço mal e sem qualquer vontade de mudar isso, ou que conheço e não me interessa. Prefiria ficar em casa com quem quero do que um mês a viajar pela europa com quem não gosto, só para poder voltar e encher a boca que estive aqui ali e acolá? Aliás pensarem que seria capaz disso envergonha-me. Não me enche isso. E as pessoas não entendem, porquê?
[e agora vou ali passar os ossos por água para pegar num livro e ir tomar café e talvez arrasar um chocolate quente que se come à colher...hmmm]

21 abril 2012

Aqui onde estou sentada vejo a minha sala pelos olhos da janela, da luz que entra, e dou por mim, sem querer, a ver coisas que não estão cá, que estiveram e deixaram apenas a marca do seu vazio. O sofá, de horas intermináveis, de conversas sem fim, de mimo sem horas e de ânsias a toda hora. Vejo o chão onde se improvisaram camas de almofadas para ver o fogo arder enquanto nos consumíamos, ora a leves tragos, ora com a ganância de nos termos inteiros. Lembro-me de quando nos deitámos no chão e puseste música nas colunas do ipod, lembro-me que conversámos muito e que tu bebias às vezes uma cerveja, lembro-me dos amendoins que descascávamos para o outro comer, até nos rirmos porque parecia que tínhamos trocado de mãos, as minhas eram para ti, as tuas eram para mim, os meus amendoins eram teus, e os teus davas-mos na boca.
Estou aqui a ver isto tudo enquanto como o último chocolate que me deste. Apanhou calor, pu-lo no frigorífico, e tenho-o visto lá, sem lhe tocar, hoje apeteceu-me, e apeteceu-me que a cada trinca que dou, estas recordações fossem engolidas, desaparecessem de onde moram, em mim, nesta sala, não sei, desaparecessem, só. Mas aquilo que eram dois dedos de chocolate é agora um, colaram-se, não despegam, o que passaram de calor tornou-o num só chocolate que vou trincando enquanto aqui escrevo. Pus a tua herança no frigorifico, mas o calor que apanhou, que absorveu, já não lho pude tirar, já não saiu dele, da mesma maneira que quando o acabar, esta sala, este chão, esta lareira, vão continuar a contar-me histórias, ainda que eu não queira. Ainda que as queira pôr no frio, e engolir sem dar conta.
[enquanto isto, nos phones, a banda sonora também é do melhor...Tales of love - Wraygunn, que tem só das melhores letras que tenho ouvido para descrever esta coisa...like a punch, only a hundred times stronger... oiçam, vale a pena.] .

18 abril 2012

Preciso de sair daqui.
Preciso de sair de mim, e encontrar o meu caminho para fora de ti.
Porque vou encontrá-lo, eu sei que vou, estou cansada de ser segunda opção, ou simplesmente não ser opção, estou cansada de ter sido sempre desistida, a fácil de desligar e continuar os amanhãs sem mim.
Quero o meu caminho e alguém lá longe, não agora, mas mais à frente quando já for sozinha, que me queira, que me queira a mim, sem dúvidas, sem hipótese de alternativas, sem comparações. Quero ser a sua inevitabilidade, quero que lutem por mim, que me valorizem, que gostem de mim e que possa retribuir esse gostar. Quero poder amar como sei que consigo e sei amar, sem achar sempre que não há eco, que não tem reflexo esse espelho.
Tenho defeitos e muitos e maus, mas tenho também qualidades, coisas boas, não serei a pior nem a melhor, mas estou farta de me fazerem sentir a pior, a última das mulheres, de ser ignorada, desprezada até, desconsiderada sempre que consideração se exigiria. No minimo, já que amor seria pedir demais.
Estou de partida para outro lugar.
Outro lugar de mim, vou pela tua sombra, até que queira o meu sol, e não te queira mais lembrar.
Não te queira mais em mim. 

17 abril 2012

Com o tempo desaprende-se a viver, a saber e sentir o fundamental.
Baralha-se tudo, passa-se a modo de sobrevivência, para garantir mínimos que não são de sobrevivência mas de estupidez.
 Pensamos que estamos a aprender a viver, mas só desaprendemos.
Viver não se aprende, vive-se.