Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

15 agosto 2013


Sinto-me terreno abandonado, árido, ao sol: nada brota, nada nasce, nem sequer morre. Nada semeia, nada colhe. O corpo parece morto, ressequido, esquecido, inerte, como um deserto seco de sombras. E é encharcada da escuridão das sombras que estou: falta-me a luz do olhar das tuas mãos, o toque quente do teu olhar; falta-me o sol dos teus lábios para me aquecer a pele, para beber a vida que me plantas, e que só tu sabes colher: faltas-me. E é este deserto que atravesso, e este deserto sou só eu, e onde os pés se cravam a fazer caminho - e que tantas vezes me engole -, é o que sinto.
Quando às vezes me acho menos só: quando acho que a distância me traz sozinha, mas não me leva na volta a tua ausência, descubro que é miragem: a realidade é o deserto.
O deserto sou eu com os pés cravados na areia que me escalda.