Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

24 junho 2015


[foto de Christopher Peddecord]

"Há mulheres que procuram um homem que lhes abra o mundo. 
Outras buscam um que as tire do mundo. 
A maior parte, porém, acaba se unindo a alguém que lhes tira o mundo."

Mia Couto

Já tive estes homens todos no mesmo homem.
Só quem nos pode dar um mundo novo, só quem nos tira deste mundo para uma redoma íntima, cúmplice, exilada dos dias cinzentos e amorfos, e tão nossa, nos pode tirar o mundo, aquilo que fizemos mundo, de que fizemos o nosso dia, a nossa casa, o nosso respirar fundo noutro olhar que não deixa de ser o nosso por estar noutros olhos. Outros olhos onde mora o nosso olhar sempre, mesmo que ele não nos traga dentro. 
E no fim de tudo, não nos devolve quem fomos antes, quem éramos antes de nos descobrirmos mais nós, antes de termos aberto os olhos para dentro dos nossos melhores recantos, antes de nos conhecermos mais inteiros num mundo tão nosso, mundo que perdemos para alguém que nem conhecemos. Que já não conhecemos. Que não sabemos se alguma vez chegámos a conhecer na realidade dum mundo que não existiu.
 E no entanto só se perde o que não nos é parte, nem todo. 

Bom Dia. 

Hoje não me apetece dizer mais nada. Estou em silêncio há horas.
Falar, agora, só se fosse assim.
Não sendo, vou tentar sonhar que falo. 
Mas a dormir, que acordada já não sonho nem falo. Não vale a pena.

Boa Noite