Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

05 dezembro 2014


"(...)E não são as palavras que apagam as distâncias, e não são as respostas que apagam as perguntas. Gosto do enigma de não saber da infância, do milagre de um beijo. Até o paraíso precisa de morte. Gosto do toque perigoso do teu suor, da respiração de víbora do desejo. A catástrofe é o abraço. E só as catástrofes me fascinam."

António de Deus-Rosto

[...deve ser isso, eu devo ser catastrófica, uma queda para a catástrofe, digamos assim. 
A verdadeira catástrofe, para mim pelo menos, é todos acharem uma catástrofe essa queda, em vez de caírem em mim e eu numa outra catástrofe parecida de alguém. Mas não, eles caem sempre neles, e eu sou obrigada apenas a cair em mim. E uma catástrofe que podia ser uma queda tão boa... uma queda no abraço que se sente casa, no beijo que nos esfuma os dias, no desejo que morde os sorrisos por dentro, no suor de tocar a pele certa. O desejo explodido como uma pequena morte feita paraíso. Uma catástrofe.]

"Eu a amava, em suma.
E era infeliz.
Mas como poderia ela algum dia entender essa minha infelicidade?
Há aqueles que se condenam ao cinzento da vida mais medíocre porque tiveram alguma dor, alguma desgraça; mas há também aqueles que o fazem porque tiveram mais sorte do que poderiam suportar..."

Ítalo Calvino

[Não consigo entender esta lógica, este princípio de vida que me parece mais um fim da vida, lento e em agonia. Cinzento por opção, paz podre por escolha cómoda, zona de conforto infeliz. Não entendo, ainda não entendo, e tenho esperança de nunca, mas nunca, vir a entender. Ainda menos quando o fazem por medo de serem felizes, de não saberem se conseguem, ou sabem, ser felizes. Pelo medo de poderem descobrir que afinal tudo era uma ilusão que um dia nos cai pela cabeça abaixo, feita desilusão que nos arrasta, como se escolher a agonia não fosse já essa certeza, essa desilusão já mais que amargada, medida, testada e assegurada. Essa miséria bem encaixilhada, não mais que uma miséria em que nos habituámos a viver, a lidar, onde já não esperamos perder nada, porque simplesmente já não esperamos nada. De nada. Onde a cobardia de fugir à possível dor da desilusão se torna na coragem mal maquilhada do sacrifício duma vida por viver, em nome de algo que não conhecemos nem pelo nome.

Adquiri dois livros deste senhor, um para oferecer (à espera de o ler na mesma, claro...), e outro para consumo pessoal. Aconselharam-me este senhor, que era bom e eu ia gostar... depois digo. Agora ainda ando aos saltos no Rayuela, que gosto, gosto muito. Anda-me a apetecer outra vez ler, ler muito. É sempre a mesma coisa... mergulhar na vida onde a há, se não na minha na que vivo através das histórias que alguém escreve e que vivemos pela mão de alguém mas na primeira pessoa. Aprende-se na mesma, sofre-se também, e pensa-se, pensa-se muito sobre aquela história e a nossa e as que não chegaram a ser nossas, mas de as pensarmos já o são, um pouco pelo menos. E pensamo-nos e conhecemo-nos, e às vezes somos felizes fora de nós, ainda que por dentro da nossa visão duma história que fazemos nossa pelo olhar, e que nos faz fechar o livro e os olhos tantas vezes para nos imaginarmos, nos pormos na história, sermos a história sem deixarmos de ser quem somos. E eu voltei a isso. Sem vida é que não sei viver. Cada um a arranja onde pode, é o que é!!...]
... uma vez disseram-me:
"virar a mesa é muito diferente de virar apenas um guardanapo. 
E o que tu estás a querer é virar a mesa..."
Há uns tempos voltei a falar com ele sobre esta frase, e disse-me que quando mo tinha dito nunca pensou que eu o fizesse realmente, que o conseguisse, fizesse e assumisse.
Fiz, virei a mesa. 
Virei a vida do avesso. 
Ouvi os conselhos sensatos dos outros e  optei  pelos meus conselhos, ainda que pouco sensatos, de mesas viradas e vidas do avesso e corações de pernas para o ar.
Fiz, fiz o que sentia, e gosto muito da mesa virada e o avesso é talvez o meu direito,
 e o direito de o ser. Permiti-me, não fugir dos conselhos sensatos, não, não foi isso, foi apenas seguir-me, seguir o que sentia, ser eu. Onde estava não era mais eu, não me sentia mais eu.
 Arrisquei a felicidade, não a ganhei, 
mas o que perdi também não foi felicidade. 
E ganhei-me, ainda que para me perder, mas ganhei-me.  Inteira.
Às vezes temos de nos encontrar perdidos para nos descobrirmos inteiros e autênticos.
Vale a pena. Ainda assim, vale a pena tentarmos viver como somos, tentar agarrar a felicidade que nos faz felizes.
E enquanto for assim ainda estamos vivos e acreditamos que podemos viver melhor. E vivemos esse sonho, de arriscar realidades.

Bom Dia


"O amor é – tem de ser – presente com esperança de futuro; preferir e bastar; não é passado."

Preferir e bastar. 
Preferir o presente porque o passado já não se sujeita a preferências. É o que foi, preferência acabada, e basta-se assim. 
Para o futuro ser bastante não basta preferir no presente, mas preferir o presente.
Preferir e bastar, é isso, isso basta. 
Basta-me.
Preferir-me presente.
Fazer-me futuro.
Presente com futuro.
Amor.]