Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

27 março 2014


"Porque nos apaixonamos?

(...)
De cada vez, pensas que estás apaixonado pela mulher, mas depois percebes que estavas apaixonado por outra coisa.
Apaixonas-te pela idéia de estar apaixonado, pela idéia de Amor; pela simplicidade das relações sem compromisso; ou pela imagem que os têm de ti, pelo facto de quase te idolatrarem; por uma sintonia de gostos e de poetas e de autores e de coisas que gostam de fazer; por uma idéia e um conceito e um plano de “família”; por uma afinidade de histórias de vida e pela capacidade de rir juntos.



E um dia percebes que te apaixonaste e desta vez não sabes porquê. Um dia, se tiveres sorte, estás apaixonado sem o saber explicar. Sem perceber porque aconteceu nem como aconteceu, sem conseguir pensar em uma ou em três ou em cinco razões para sentires o que sentes.
E o tempo não te ajuda a perceber razões – porque nessa altura o tempo não te dá distância, apaixonas-te novamente todos os dias.
Talvez as coisas que não têm razões sejam as que são feitas de todas as razões.
Talvez estejas realmente apaixonado por alguém exactamente quando não saibas escolher uma ou duas ou três coisas de que gostas nela. 
Talvez seja mesmo assim quando se ama; não é por causa “disto”, nem apesar “daquilo”."


Já tantas vezes disse isto, do gostar sem razão, gostar sem saber qual a razão, sem saber enumerar as razões, e essa, ser a melhor razão de todas. Aliás, acho que a única quando se fala em estar realmente apaixonado, quando se fala em gostar realmente de alguém. Mas a sério. Gostar a sério.
É por isso que fico tão triste quando me apontam qualidades, quando gostam de mim por isto ou aquilo, porque gostam de estar comigo, porque dizem que nos damos bem, porque comunicamos, porque assim e assado - em vez de dizer "eu gosto dela, ponto final", espraiam-se em razões (que mais parecem justificações) tão gizadas a regra e esquadro, e racionalizam o que se quer selvagem e sem fronteiras definidas, porque quando se gosta, se barreiras havia, desfizeram-se no caminho, caíram por terra. E o que se ergue em força, de pedra e cal, é isso: o gostar, ponto final.
Amar, afinal.