Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

03 novembro 2014

... nunca prendi ninguém, nunca quis prender ninguém. Isto por mais nenhuma razão do que não querer ninguém comigo que não queira realmente estar comigo. Por isso sempre que se quiseram ir embora, eu nada fiz. Ouvi, perguntei o que tinha de perguntar, disse o que queria dizer, vi-o ir-se para as suas obrigações e desculpas várias, e fiquei no meu canto. De todas as vezes. Não prendi, nem fui atrás. Nunca. Por entender que não vale a pena forçar ou insistir, ou se quer ou não se quer - ou se ama, ou não se ama e ponto final (como ele dizia...). Não por achar que é um amor mais puro ou menos, mas por achar que um amor não se pode forçar, que não me serve prender, manipular ou usar de todos os meios para que alguém fique comigo, porque só se fica realmente com alguém quando se quer, quando se gosta, nunca forçando e nunca por obrigação. Mesmo que esteja ao nosso lado, ou quer estar realmente, ou estará longe. Por isso, de todas as vezes que eu estava no meu canto e vieram (de alguma forma) bater-me à porta, eu soube de cada vez que foi por vontade, que foi por querer, que foi por querer estar comigo, por lhe fazer falta. Nunca foi por obrigação de qualquer espécie, ou um qualquer compromisso que alguém assumiu. Nunca foi por eu insistir ou ir atrás, ou vencer alguém pelo cansaço. Não, foi por querer, por vontade, e isso deu-me, e dá-me, a certeza que quando estão comigo e me procuram é porque é a mim que querem, não ao compromisso, não é a obrigação de fazer o que dizem ser certo, não é sequer o que era suposto fazerem, mas sim o que querem fazer. E isto é verdade, e eu sei-o. O que eu também sei, é que não se pode confundir isto com amar, amar é acrescentar a tudo isto o ficar - além do querer ficar, o ficar. O estar, o partilhar o nosso mundo no mundo de todos. Por isso tantas vezes não entendo nada, não sei nada, e estou cansada de tentar, na verdade.
Sempre fui assim, e não quero doutra maneira. Se me mandam embora não precisam insistir a noite toda para os deixar sozinhos, basta dizerem-me uma vez, eu digo o que tenho a dizer e vou. E não vou atrás. Nunca fui. 
Vejo este video e percebo que as razões porque faço o que faço talvez não sejam as budistas (de certeza que não, aliás), mas que o princípio de não prender é o mesmo, é na liberdade que se ama. Nisso eu acredito. Acho que o amor acaba por ser uma espécie de prisão que se escolhe pela ligação que cria, pelo querer sempre ver o outro bem e estar com ele, usufrui-lo, mas é uma prisão que nos liberta, que nos dá aí sim liberdade de sermos quem somos, plenamente. A única verdadeira liberdade. Talvez por saber que alguém nos entende e aceita assim, genuinamente como somos. O que me lembra outra coisa do video: eu não quero que me faça feliz, mas quero que me deixe fazê-lo feliz. Desde que me lembro que é assim. Mas não, não chego ao ponto de conseguir querer, ou desejar, que seja feliz longe de mim, isso não, isso não consigo. Nunca lhe quis, nem quererei, mal, mesmo nos momentos de maior raiva, mas não vou torcer, ou desejar, que seja feliz longe de mim. Longe de mim quero apenas que me seja indiferente. mais nada. Quero que não esteja mal, que não passe mal, mas não sou capaz de desejar a sua felicidade longe de mim, porque há uma coisa em que falho redondamente, ainda me sinto incompleta, ainda sinto que me falto se ele me falta. Ainda que sobreviva na mesma, falta-me vida. Não preciso dele para sobreviver, não sou submissa e nem lhe digo que sem ele não consigo viver, acho isso uma coisa de chantagem de gente pobre e manipulação barata que não me cabe, por muito que se oiçam tantos casos por aí de homens e mulheres a repetir estas coisas à moda dos filmes dramaticos não entendo, eu não sou assim. Não me identifico com essas coisas. Eu não preciso dele, eu sustento-me e respiro um dia a seguir ao outro, não preciso dele para sobreviver, eu quero-o para que a vida faça sentido, o que é tão diferente de precisar.  Precisar é uma utilidade, e a utilidade é subserviente. O amor é autónomo. E menos que isso não me serve.
Não dou para esta coisa budista, está visto!!

Bom Dia.