Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

28 janeiro 2011

Abri a porta devagar, como sempre abri o coração, menos a ele a quem não senti entrar. Ainda às escuras sinto os seus lábios assentarem perfeitamente na minha testa, e sem sequer me dar conta não consegui evitar o sorriso nos lábios que não beijou. Dois ou três passos depois e solidifica-se o silêncio num abraço terno, sinto-lhe o corpo tremer de frio por dentro e por fora, a alma treme-lhe num olhar triste, e percebo que todos os ruídos da minha cabeça se sumiram, fugiram quando a porta se fechou atrás de nós. Agora só a vontade de o aquecer, de o apaziguar, de o acalmar por dentro e aclarar o olhar. Ficámos assim. Não sei quanto tempo, o suficiente. Corpos juntos, respirações coladas, conversas emudecidas, a paz a entrar devagarinho, o calor a vestir-nos por dentro.
Tudo o resto perde sentido quando sentir é tudo o que se consegue.
Agora, estou às escuras, a porta continua fechada, a cabeça repovoada de ruídos e só sinto a minha alma a tremer, mas não se vê e ninguém sente.