Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

31 outubro 2012

Seria tão fácil, estenderes-me a mão, alcançares-me. Falares-me, dizeres-me uma e outra vez o que for que sentes, se sentes. Tranquilizares-me os medos, apaziguares-me as ânsias, acalmar-me as inseguranças agudizadas pelo tempo que te escapa das mãos através dos dias e das noites que passas longe. Seria tão fácil, se o quisesses, se não quisesses a distância a que me queres manter. Se não  quisesses tão desoladamente deixares-me do lado de fora da redoma em que te queres trancar, em que queres tecer essa manta de passados sem futuro, para depois a trancares numa gaveta no fundo de ti, que só abrirás para te aquecer a vontade de doçura, de ternura, que quiseste perder, afastar, arrumar e trancar, dizendo que era o que tinha de ser, que o frio é a tua casa, que é o que tem de ser. Não é por ter já repetido vezes sem conta que te quero, que te sinto a falta, que o meu sítio no mundo é o teu colo, que o meu lugar é o teu olhar e que o meu tempo és tu, que deixo de o repetir, que deixarei de o dizer. E nunca guardarei cosido ao meu silêncio tudo isto e outro tanto que fosse preciso para te deixar melhor, para que não me duvides e do quanto te tenho dentro, o quanto de mim és tu, e sem o que não sei viver, mesmo trancada. Seria tão fácil, mas mais fácil é o silêncio e as tuas mãos trancadas com o bilhete premiado por levantar dentro (ainda te lembras de dizer que te tinha saído a sorte grande??).

29 outubro 2012

Miiiiaaauuuuuu....
ahahhahahah muito boa!!!

...
deito-me à sombra das tuas pernas
e o corpo arde em todos os movimentos
que não ousaste prolongar
na toalha branca da minha pele

deste lado a dor
é completamente minha
e por assim dizer inútil

era capaz de jurar
que nem me viste
...

Alice Vieira

[era capaz de jurar que nunca me viste. Era capaz de jurar que nunca me viram. Era capaz de jurar que de me olharem, pensam que me vêem. Era capaz de jurar.]


"O sucesso nunca é definitivo e o fracasso nunca é fatal. 
É a coragem que conta."
George F. Tiltonood


"A única maneira de nos livrarmos de uma tentação é cedermos-lhe. Se lhe resistirmos, a nossa alma adoece com o anseio das coisas que se proibiu, com o desejo daquilo que as suas monstruosas leis tornaram monstruoso e ilegal. Já se disse que os grandes acontecimentos do mundo ocorrem no cérebro. É também no cérebro, e apenas neste, que ocorrem os grandes pecados do mundo."

Oscar Wilde, in 'O Retrato de Dorian Gray'


(portas fechadas que temos vontade de abrir e não abrimos, são lugares que não chegámos a ver, e que nos perseguirão nos pesadelos dos sonhos que tivemos medo de sonhar, mais ainda de viver. Não lhes abrimos a porta. Mas há quem ainda bata à porta, e como as crianças, depois foge. Nunca pensaram em entrar. Nunca cresceram)
Un caffé per favore!!!
...que saudades de ouvir esta língua... o italiano derrete-me, embala-me, acorda-me...
enfim...desorienta-me...
talvez ouvir sussurrado ao ouvido numa voz quente, ainda que só "un caffé per favore", 
já me animasse a manhã que parece ter acordado difícil...
aiiiiiiiii Itália... tenho de voltar aí depressa!!! 
(e devia era ficar, acho que fui italiana noutra vida... só pode!!)
Buon Giorno!!!


28 outubro 2012



Porque os outros se mascaram mas tu não

Porque os outros usam a virtude 
Para comprar o que não tem perdão. 
Porque os outros têm medo mas tu não. 
Porque os outros são os túmulos caiados

Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia Mello Breyner


[por isso vais sempre sofrer, pela verdade, com a verdade, pela falta de te calculares e aos outros, mas também com a mais pura verdade da tristeza e a mágoa e até a revolta...pudesse eu conseguir usar uma máscara e confundir-me no meio dos mascarados, mil vezes o escolheria, se o conseguisse escolher...só não seria eu, mas neste momento apetecia-me ser qualquer uma menos eu. Não vejo vantagem, só desvantagem, e muita]

27 outubro 2012



Lua às sete da tarde.
 A lua no inverno entra-nos na alma muito mais cedo. 
E no céu também.

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)


Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente.)

Sylvia Plath
Boa noite

26 outubro 2012



Talvez eu seja
O sonho de mim mesma.
Criatura-ninguém
Espelhismo de outra
Tão em sigilo e extrema
Tão sem medida
Densa e clandestina

Hilda Hilst

(é o que ultimamente sinto, sinto-me intensamente clandestina do mundo, e tão sem molde e sem medida, de tão densa de mim ao mesmo tempo. Um sonho de mim mesma que nunca sonhei, uma criatura-ninguém...)

Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

Florbela Espanca


[amar, só por amar...uma alvorada a cada noite, perdermo-nos, ou nunca nos encontraremos.]
O que é que queres dizer com isso????
...sim, a vontade de trabalhar é imensa.. o que é que estão a pensar...hummm???


“Não ser amado é falta de sorte, mas não amar é a própria infelicidade.”

( Albert Camus )

[fui à procura desta frase por causa dum comentário da Dri, e cá está ela. É mesmo verdade Dri, não ser amado é triste, não amar é só desperdicio de vida, é só vazio. bom era amar e ser amado, mas isso...)
As conversas são como as cerejas.
Os beijos também.
(não gosto nada de coraçõezinhos, acho do mais piroso e tal, não é nada o meu estilo, 
mas este apanhei-o agora e fez-me lembrar isto... e sorrir, por isso fica aqui)

Boa noite

25 outubro 2012



“A felicidade está onde o coração encontra repouso."

Ditado Navajo


"Maybe…you’ll fall in love with me all over again.”
“Hell,” I said, “I love you enough now. What do you want to do? Ruin me?”
“Yes. I want to ruin you.”
“Good,” I said. “That’s what I want too."
Ernest Hemingway, A Farewell to Arms 


I want you to fall in love with me all over again... I want to ruin you...
Bom Dia!!!
O dia está péssimo por isso está bom!!!
Vou ao café, com licença...

24 outubro 2012

Boa Noite

I do.
Combino mais com o Outono e Inverno do que com o Verão...
Mas também gosto de dias de Outono com sol, de aproveitar as esplanadas, mesmo que encasacada e de óculos de sol. E gosto de dias de chuva em que nos guardamos em casa, enroscadas numa manta em frente à lareira, a bebericar uma chávena de chá quente, enquanto se olha pela janela e vê a chuva miudinha a cair lá fora. Gosto. E gosto de apanhar chuva. E já hoje de manhã a chuva me apanhou, e eu sorrio a correr para o carro. Não gosto de chapéus de chuva, tenho tendência a deixá-los esquecidos por todo o lado, só não me esqueço do que trago agarrado a mim. 
Bom Dia!!


23 outubro 2012

Tantos momentos, o mesmo carinho, a mesma ternura, a mesma vontade. Tu.
Boa noite.


22 outubro 2012


Vou te dizer o que sinto: sabe o que é você dormir pensando em alguém e acordar com esse mesmo alguém na sua cabeça? Como se já não bastasse o meu coração que acelera só quando falo contigo, tinha que dominar também os meus pensamentos? E os meus ouvidos? Parece coligados com minha alma, todo bom som e toda boa música, me traz você. E os meus olhos, estes são deslumbrados por ti, porque quando os fecho, o seu rosto é a única coisa que consigo ver, de um jeito só meu, um jeito que tive que criar na tentativa de saciar a vontade de te ter. Minha boca já nem mais me obedece, vive falando seu nome sem me deixar perceber. E os meus lábios? Estes vivem na espera de encontrar os seus.


(Caio F. Abreu)


"Há noites em que eu não consigo dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer."



Mário Quintana

Eu não, é coisa que não tenho. Deixar de fazer o que queria, o que acreditava, o que tinha vontade e gostava. Há coisas que se não se fazem nos perseguem toda a vida, porque nunca saberemos qual a diferença que a tentativa de o fazer traria à nossa vida. Podemos ficar pior, mas ficamos com a certeza de que era pior, se o for, e não que falhámos o que poderia ser o melhor que nos puseram no caminho por medo, por comodismo, por falta de vontade de viver, porque mais à frente vamo-nos arrepender. Os "ses" perseguem-nos e torturam a vida que nos restou, e que assim de nada valerá, será uma vida amputada e assombrada, e por responsabilidade nossa - o pior castigo. Para quê a vida dar-nos uma oportunidade se nós não temos coragem de a mudar, de assumir que não estamos bem. E eu não estou bem, mas tenho a certeza de fazer tudo o que posso para ficar e que não recuso nada do que quero por medo ou comodismo. Há coisas que deixo de fazer porque na verdade não as quero fazer, mesmo que se calhar fossem as mais acertadas para mim. Poderei morrer muitas vezes durante a vida por muita coisa, mas não de remorso ou de arrependimento pelo que não fiz.

21 outubro 2012


"De que são feitos os dias?
De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças"

Cecília Meireles

18 outubro 2012

"-Se não fosse parva, o que gostaria de ser?
 - Amada, amada seria bom, amada seria uma boa variação."

(parva serei sempre, parece-me. Amada como gostaria de ser, parece-me que nunca...)

14 outubro 2012

"...porque era bonita, porventura não a mais bonita entre a assistência feminina, mas bonita de um modo indefinível, particular, não explicável por palavras, como um verso cujo sentido último, se é que tal coisa existe num verso, continuamente escapa ao tradutor."

"O camarote estava vazio. Atrasou-se, disse consigo mesmo, deverá estar a ponto de chegar, ainda há pessoas a entrar na sala. Era certo, pedindo desculpa pelo incómodo de fazer levantar os que já estavam sentados os retardatários iam ocupando as suas cadeiras, mas a mulher não apareceu. Talvez no intervalo. Nada. O camarote permaneceu vazio até ao fim da função. Contudo, ainda havia uma esperança razoável, a de que, tendo-lhe sido impossível vir ao espectáculo por motivos que já explicaria, estivesse à sua espera lá fora, na porta dos artistas. Não estava. E como as esperanças têm esse fado que cumprir, nascer umas das outras, por isso é que apesar de tantas decepções, ainda não se acabaram no mundo, poderia ser que ela o aguardasse à entrada do prédio com um sorriso nos lábios e a carta na mão. Aqui a tem, o prometido é devido. Também não estava. O violoncelista entrou em casa como um autómato, dos antigos, dos da primeira geração, daqueles que tinham de pedir licença a uma perna para poderem mover a outra. Empurrou o cão que o viera saudar, largou o violoncelo onde calhou e foi-se estender em cima da cama. Aprende pensava, aprende de uma vez, pedaço de estúpido, portaste-te como um 'perfeito imbecil, puseste os significados que desejavas em palavras que afinal de contas tinham outros sentidos, e mesmo esses não os conheces nem conhecerás, acreditaste em sorrisos que não passavam de meras e deliberadas contracções musculares, esqueceste-te que levas quinhentos anos às costas apesar de caridosamente to haverem recordado, e agora eis-te aí, como um trapo, deitado na cama onde esperavas recebê-la, enquanto ela se está rindo da triste figura que fizeste e da tua incurável parvoíce."

in As Intermitências da Morte, José Saramago

Um dos melhores retratos que me lembro de ter lido ultimamente, ou que mais me impressionou e encaixou, do estado de paixão, do apaixonarmo-nos, de quanta parvoíce se pode fazer e pensar. E isso, da esperança que nasce dela própria, que nasce até, ou apesar, de todas as decepções, e da parvoíce disso também. Tudo parvoíces das boas, das melhores, mas ainda parvoíces. Como dizia alguém "o amor é para os parvos". E eu sou uma parva. E espero continuar a ser, ainda que cada vez mais descrente, ainda que tantas vezes me deixe amargar por momentos, ainda que a vida me aconteça em nódoas negras que vou coleccionando na alma, essa continua à espera que venha alguém e que a faça esquecer de todas elas, e de todas as cicatrizes que não se curam, apenas se aprende a viver com elas, e às vezes, às vezes, conseguimos esquecer-nos delas. Essa é a parvoíce da minha esperança.

[ando muito preguiçosa nas minhas leituras tenho de voltar à carga, agora não sei quem será o senhor que se segue...]

05 outubro 2012