Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

09 agosto 2014


..esteve-se bem aqui, com a areia nos pés e o sol a aquecer a pele. Os pés já salgados e bem no chão. 
A conversa pára uns instantes, e a olhar o ir e vir do mar pertinho de mim, penso que o que me vai custar é perdoar-me, é desculpar a minha estupidez, a minha crença, o sentir que me sentiam duma forma parecida com o que eu sentia. Devia ter sempre sabido que não era possível, não aquela pessoa e não por mim. Devia sempre ter tido a certeza e nunca duvidado, mesmo quando naqueles silêncios em que os olhares falavam, a pele sussurrava e os lábios mudos gritavam pela outra boca, em ternura ou em desejo, havia de tudo. Mesmo aí, devia saber que era coisa só minha, porque nunca houve atitudes que sequer fizessem adivinhar o contrário, pelo contrário, bem pelo contrário.
E agora com os pés no chão, com tudo o que tenho sabido e visto,  saber que tudo era mentira, tudo foi sempre uma qualquer mentira com o propósito apenas de tentar trazer alguém a outro alguém que nunca a pareceu querer realmente, até achar que tudo era um jogo e não podia perder. Há pessoas que se têm em tão grande conta que não podem perder em nada porque são o máximo em tudo, principalmente no que sempre acharam controlado. E afinal sempre acharam bem, não se enganaram, comprova-se. Por outro lado temos alguém que não se importa, e até gosta ao que parece, de o quererem apenas como troféu, como prova irrefutável para toda a gente que se continua e sempre foi, vitorioso. A mim o que me custará é perceber que fui demasiado inocente, demasiado ingénua e sempre demasiado genuína. Fui fraca e burra. Fui apanhada no meio dum jogo que não sabia que se estava a jogar e não teria outra maneira de sair senão mal, magoada e com uma imagem de mim mesma tão fraca, tão enganada. O difícil vai ser perdoar-me, não por quem eu queria não me ter querido o que é o risco de toda a gente que gosta e se entrega, mas por me ter enganado tanto com alguém. Alguém que não se importa de me ter magoado, ou de me continuar indirectamente a magoar, escudado naquele seu egoísmo, do estar a fazer pela vida e os outros que se danem.  E nesta história os outros que se danem fui sempre eu. Nunca me deram folga do papel.
Penso isto, e de repente percebo que a conversa já tinha retomado e eu nem ouvia o que me diziam. E agora chego aqui e lembro-me disto mas não da conversa.