Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

27 abril 2015

(foto de © Alfred Eisenstaedt roubado no voluptama)
...sair ainda com luz, ter esperança de ainda ter de pôr os óculos de sol a caminho. Ir deixar o carro a casa e depois ir beber um copo antes de um jantar que nos avisaram ser para conversar "daquelas conversas" que gostam de ter comigo... a vida podia ser pior caraças!!... podia, e sei que pode (demasiado bem, aliás). Também sei que pode ser tão, mas tão melhor, mas nos entretantos há que aproveitar o melhor que podemos, o que conseguimos ir tendo. Tentar esquecer o que se não tem e pronto: não é o que fazem todos? Talvez eu também consiga. 
Este fim de semana alguém me dizia que ao mesmo tempo que me achava uma idealista, uma sonhadora romântica, das que têm de pôr os pés mais no chão, por outro lado admirava essa minha faceta de não me contentar com menos do que aquilo que sabia que queria... Mas eu acho que ainda não (me) perceberam, eu não consigo explicar que "depois de se saborear um fillet mignon não é qualquer bifana que nos satisfaz" - ainda que possa matar a fome, é certo, acrescento eu - esta frase não é minha, foi ouvida duma prima que sabe do que fala. Eu ouvi-a e soube exactamente do que estava a falar... e não, não era de "comer" ninguém (embora essa parte também corresponda quando o resto é bom, ou eu acho que é assim, e recuso-me a conceber estar numa relação em que ao final da noite só se "esvaziam os tomates"), era da relação que existindo não nos mata só a fome, mas faz -nos apreciar e agradecer cada refeição como uma bênção, um luxo, uma sorte dos diabos, na verdade... Por isso, não, nem tudo me chega ou enche as medidas, e não tenho medo de ficar sozinha, ou melhor tenho, mas tenho um pavor muito maior de ficar com alguém ao lado que não me arranca a solidão dos ossos e do olhar, e não me faz a pele saber a mel. Não,. não me chega, quero uma coisa que me preencha, que me contente, que me faça querer acordar, que me faça querer começar o dia com um "Bom Dia" e um beijo, um abraço malandro de pernas antes de sair da cama, pelo menos de vez em quando, e uma risada sempre que dê ou for preciso... Não, para menos que isso estou bem sozinha; sozinha e a ouvir pessoas amigas dizer que se sentem bem comigo - não sei, não percebo porquê, mas agora oiço isto muitas vezes, de pessoas diferentes - que as pessoas se sentem bem comigo - sei-as ouvir, se calhar é isso, gosto de ouvir as pessoas, conhecê-las, ajudá-las no que posso, coisa que faço normalmente tentando escolher as perguntas certas para que pensem nas respostas. Talvez por isso gostem de conversar comigo e queiram uma conversa daquelas ao jantar em que se fala de tudo e de nada e se está bem... e sim, está-se bem. 
... Não está mas devia!!!... Se devia!!
Quando será que ganho o Euromilhões?? (Se calhar ajudava jogar de vez em quando...) ou então tenho de arranjar  daqueles amigos maravilha que têm uns milhões para dispensar e dar aos amigos e apartamentos e coiso... Não tenho amigos desses pahhh, o que é uma pena e está mal, muito mal mesmo!!... até estou um bocado desiludida, vocês não sabem seguir os bons exemplos de amizade forte e pura e conveniente, humm?... podia estar agora tão bem na caminha a ouvir a chuva cair sem ter de andar à chuva... Bahhhh 

Bom dia!
Lembro-me de ser miúda e ouvir alguém dizer que dantes, à noite, não havia luz como agora, mas havia a luz da consciência, que se acendia ao final de cada dia. Não percebi aquela coisa e perguntei... "A luz da consciência??", lembro-me de me responderem que a luz da consciência seria uma reflexão sobre o dia, sobre o que se havia feito de bem, e que se tinha feito de mal... (deve ter sido conversa a seguir a uma qualquer asneira minha, pois claro...) e na verdade não entendi na altura e continuo sem perceber muito bem, e pela mesma razão: quando se faz algo de mal sabe-se logo, não é preciso chegar o final do dia para aguardar julgamento da consciência... Talvez por isso os meus finais de dia, de despedida de um dia antes de abrir os olhos para um novo dia, se dedique antes a pensar ou naquilo que me soube bem até hoje - e por isso ir ao caixote de memórias remexer e remoer - ou, em querendo fugir do que se quer fechado e em caixotes arrumado, nos planos para o dia seguinte, a semana seguinte, a vida que teremos de ver cumprida. E é isso que hoje, aqui sentada, na companhia do último cigarro, me dedico a pensar - no caminho que se quer feito, nas tarefas que se querem arrumadas e despachadas. Mais uma semana à porta e tantas coisas por terminar, entretenho-me neste planeamento para fugir ao que não se consegue organizar, para fugir do vazio do futuro que já está terminado, num passado a encerrar todos os dias, a cada dia, enquanto se planeiam as tarefas de amanhã, na tentativa de que mãos ocupadas não se lembrem da falta dos gestos que lhe pesam por fazer.

Boa noite.