Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

23 junho 2015

[os três últimos posts que escrevi, percebi agora, têm todos a mesma etiqueta. tonta. é coisa para estar para acontecer alguma coisa tonta, só pode... e não era mau, eu gosto de coisas tontas às vezes, quando são tontas e com piada. o que não quer dizer que seja o caso dos posts, que até não é, mas ainda hoje dei uma resposta tonta, e agora a ver estas etiquetas, lembrei-me disso... às vezes sou realmente tonta...]
Tinha dois vestidos pendurados por estrear, um tem cerca de um ano, ou talvez, sim,  precisamente, um ano, o outro tem mais. O que lá repousa há mais tempo vai ser estreado, foi a minha mãe que mo deu, não me deixou sair da loja sem ele porque disse que era giro e me ficava bem, por muito que dissesse que não tinha onde, ou por que, o vestir e ainda menos quem mo despisse, comprou-mo na mesma e disse que era doidinha e sem juízo. Se calhar tinha esperança, mais do que eu, de que não ficasse pendurada no cabide. E o vestido também. E o vestido, ao que parece, vai sair do cabide, tenho um baptizado daqui a uns tempos. O outro vestido ainda não sei, ainda não tem nada, é uma indumentária sem planos de vida. Foi comprado com um certo destino, ou melhor, com um certo pensamento, mas o destino dele foi ficar pendurado, como eu, aliás. Ainda tem a etiqueta (eu já não). Ainda não teve por que ser vestido, ainda não tive ninguém que eu quisesse que mo despisse, por isso não o vesti. Ainda. Entretanto, no fim de semana passado comprei outro, também preto, mas diferente: justo, mais curto, mas também liso. Esse parece que já tem dia marcado para ser estreado, um jantar de amigos e pessoas por conhecer, e um bom destino para ele seria o chão, pensamento é de certeza bom... Mas às tantas vai ser ficar pendurado no cabide. Sempre fazemos companhia uns aos outros.

Ontem fiquei até às três da manhã à conversa com um amigo, ele a tentar-me fazer ver que afinal sirvo para alguma coisa, que vale a pena andar por cá, e ia apontado as alturas em que no último ano eu o tinha puxado para cima sempre que se começava a deixar cair... porque lhe dizia que uma coisa que nunca senti foi que tivessem orgulho em mim, e que aceito e até entendo, não tenho nada demais para que sintam orgulho em mim, não fiz nada, não consegui nada, para ser merecedora disso. E enquanto falava com ele lembrava-me dum post que aqui escrevi em que falava nisso, em que dizia que quem ama sente orgulho, mesmo sem grandes razões palpáveis e concretas, apenas porque vê o outro assim... como uma coisa maravilhosa, linda, extraordinária, mesmo que seja a coisinha mais corriqueira do mundo. E era isso que eu, também, e entre outras coisas, gostava de ver no olhar que me olhasse. O que no fundo me deixa alguma esperança. Pode-se ter o maior orgulho na coisa mais corriqueira do mundo, só é extraordinária porque a vemos assim, porque a amamos assim... E então ele continuava, que eu devia perceber que o carácter que tenho, a minha maneira de ser, a maneira de ver as coisas, me deviam deixar orgulhosa, porque era bom e era raro, e etc etc, e que não devia precisar do reconhecimento ou orgulho de ninguém. E por muito que perceba a lógica, não chego lá, nunca cheguei (se calhar nem a mim me chego, não é só não chegar para os outros... lá está, eles têm alguma razão, está visto...até os percebo). E eu dizia: "mas isso não me faz chegar a lado nenhum (nem me faz sentir extraordinária porque me falta aquele olhar que me olha assim como se eu fosse o mundo... mas isto eu não disse, só pensei), atingir nada, ser nada... quanto muito a ter alguns amigos,  poucos e verdadeiros, e só." E então perguntei-lhe como me descreveria ele a alguém? e ele respondeu:

" um mundo de contrastes que não se está à espera; por um lado, pernas e património de categoria; por outro uma cabeça que funciona de forma notável; nada que o mundo nos ensine ser fácil de encontrar. assim de raspão, maior qualidade a honestidade; maior defeito ter dificuldade em receber com a mesma naturalidade com que dás, o resto fica para um dos nossos serões "

... e eu tive de me rir, pois, e depois fui dormir. E hoje foi muito sono de manhã.

(sono e toda partidinha... uma pessoa sabe que está a ficar velha quando uma caminhada, de cerca de meia praia, à beira mar, nos deixa com dores nas pernas, coxas, património e cansaço generalizado para pelo menos dois dias... irra!. Tenho mesmo de começar a fazer exercício... credo)

Bom Dia