Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

02 dezembro 2014

...preciso tanto de me pirar daqui, deixar a estrada pegar-me e segui-la sem pensar no onde ou no porquê. Eu, um bom livro e alguma coisa para escrever. Tenho tantas palavras para me gastar, e ando a guardá-las para me desperdiçar no tempo de nunca as chegar a entender. Tenho coisas para tentar escrever, assim consiga vencer a preguiça da inércia e convencer-me que me despejarei nesse por escrever depois de escrito. 
Preciso de me pirar daqui, só comigo, e trazer um sorriso cheio de palavras por dentro da boca que quebraram o silêncio pelos dedos.... Ahhhh 2015 se te apanho fujo contigo. Contigo, comigo, com um livro na mão e palavras nascidas por nascer. 

... sim, e então o ressabiamento aparece. E bolas, um homem ressabiado é 1000 vezes pior que uma mulher, e uma mulher ressabiada já é insuportável mesmo à distância, imagine-se ter de lidar com um homem ressabiado, que de repente se acha.. se acha tanto, se acha melhor, se acha tanto que nunca chegou a ser, mas tenta atirar para cima dos outros o que pensa que é, em contraposição às grandes falhas que gostaria de ver, ou que acha que vê, nos outros.... e onde estava ele quando tinha medo da própria sombra? onde estava ele quando acreditava mais no Pai Natal do que nele próprio e nas suas capacidades? onde estava ele quando não sabia que a sua cabeça era uma coisa que funcionava autonomamente? Caramba, porque é que me dou ao trabalho de fazer crescer as pessoas, de as tentar fazer ver o que são e o que valem, e valem sempre mais do que pensam, e a paga que tenho numas é umas costas voltadas e indiferença e desprezo, e noutras é o ressabiamento que me quer esfregar na cara que são tão melhores, mais responsáveis, mais zelosos do que eu... eu, a irresponsável que o ajudei a crescer e a chegar donde agora me fala com sobranceria, e eu só tenho pena, na verdade não tenho mais nada senão pena de as pessoas serem assim e não terem vergonha disso. Tenho tantos, tantos defeitos, mas irresponsável não me parece que seja um deles, e que fosse, talvez merecesse que mo fosse apontado com menos ressabiamento e ar de superioridade. Afinal de contas tanto zelo extremoso agora, que só se revelou depois de conhecerem a porta apenas do lado de fora. De eu a ter fechado por dentro, com o que não queria mais a ficar trancado do lado de fora... deve ser difícil de compreender por quem se acha tanto, tendo tanta dificuldade em encontrar alguma coisa (se se desse ao trabalho de procurar) daquelas coisas que não se vendo, fazem toda a diferença no que encontram em nós. Lamento não ajudar, já não me atinges, só me feres de pena de ti e dos teus ares de superioridade tão ocos e bacocos.  És melhor do que isso - ou quero continuar a acreditar que sim-, pena que não o vejas e principalmente que não o pratiques, mas falta-te alguém que te faça ver o que não se vê, mas que faz crescer. Maturidade, equilíbrio, estabilidade, densidade no ser. E a mim, a mim também me falta alguém ao lado para me colmatar os defeitos, me fazer sentir que não serão tão graves assim, que tenho coisas boas, fazer-me rir de mim, alguém que valorize, sem sombra de dúvidas, muito mais as qualidades que eu possa ter (ou ele vê-las), do que as falhas que me falham a cada dia, tanto e tanto, e eu não nego. Alguém que possa ser às vezes o apoio que parece ser o que todos vêem em mim, antes de virar costas, por opção ou obrigados. Alguém que me faça crescer, rir, amadurecer, tranquilizar e equilibrar, que goste de gostar e de ser gostado, e que me dê paciência para aturar meninos ressabiados com ares de adultos ofendidos. Não há pachorra.