Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

14 dezembro 2014


O relógio marca
quarenta e oito horas sem te ver
sei lá quantas para te esquecer.

Alice Ruiz

[...marca?... Terão sido? Quarenta e oito? Ou setenta e duas? Ou cem?....
 Sem tempo nem horas.... o meu relógio tem as horas partidas... e os minutos todos chegados.
esqueço-me sempre que não tenho relógio, e que o meu tempo não se mede em segundos.
Não servem os relógios para contar infinitos.
O infinito, como o amor, é uma questão de fé.]

Bom Dia

"(...) Fecho os olhos e vejo-te como sei ver: os traços toscos com que tento pintar-te dentro de mim, sem nunca te abarcar. És sempre mais que isso, mais do que vejo, mais do que sei, és sempre mais. És sempre mais inteira e mais completa que os meus traços vagos, os meus traços toscos. Talvez nunca ninguém saiba outro alguém completamente. Talvez nem a nós nos saibamos, que é difícil ver-se inteiro visto de dentro. Pinto cada traço teu a cada gesto, a cada curva, a cada volta, cada traço teu que há por dentro. Dentro de ti és maior que por fora, dentro de ti és um universo e um futuro, dentro de ti és, dia a dia, uma surpresa, a surpresa das coisas pequenas, das coisas grandes, das coisas novas e das coisas repetidas, como um fractal de gente. Por vezes nem sei que te dizer, nem sei que te mostrar para não ser fosco, aborrecido, previsível. Por vezes não sei se sentes o que sinto, o conforto dos silêncios, se encontras calor nos hábitos, nos gestos repetidos.
(...)
Fecho os olhos e vejo-te dormir, a cada respiração és nova, vejo um pormenor de ti que me encanta de novo, como se te visse sempre pela primeira vez. E sei, intimamente sei, que quanto mais me foco em ti menos terei, do mundo externo, coisas para te trazer. Não te sei dizer palavras novas, porque as palavras que aprendo e invento são palavras sobre ti. Sou como um homem que explora um labirinto, e o labirinto apropria-o e consome-o, e à medida que ele aprende caminhos e meandros, é cada vez mais um com o labirinto e cada vez menos um consigo; à medida que os meus olhos se focam mais em ti menos interesse vês em mim, e eu sinto que não sei dizer-te mais sobre mais nada que não sejas tu.(...)"


[fecho os olhos e vejo-te. Sempre foi como te vi melhor. De olhos fechados. Abertos de cegueira. Abertos de mim fechados de mundo. Vê-se o que se sente, o que sinto, o que me fazes sentir, quando de olhos fechados estás à minha frente. É aí que te vejo melhor e talvez não te veja, talvez seja só eu a ver-te.
Fecho os olhos e vejo-te dormir enquanto durmo encostada a ti, com a cabeça no teu peito, a melhor almofada do mundo. E eu de olhos fechados. E vejo-te. Ou sinto-te. Ou sinto, só. Não sei, não quero abrir os olhos.]

Boa noite