Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

22 junho 2014

E aqui estou eu a tentar comer o tempo entre cigarros, posts e leituras. À espera que a cama me chame com vontade, mas nada. Depois ponho-me a pensar que é difícil comer o tempo, porque tem de ser mastigado e engolido, e eu queria só engoli-lo. Mas para quê? Nem eu sei. Porque não sei nada, nunca sei. O tempo trará alguma coisa? Engolir este para chegar lá à frente, e lá à frente será que está alguma coisa? Será que alguma coisa vai mudar? Dou por mim descrente e a enterrar os pés no chão, a não querer  pensar, a querer não crer, nem querer nada, nem engolir o tempo que não sei que tempo trará à frente. À frente do tempo estão sempre saudades. Só isso eu sei e tenho medo de o saber mais, mais à frente.

"demorava a língua sem hesitação, pela astúcia do pescoço, pelo carnaval de arrepios que te dançava em várias repetições de desejos. (nunca se fala quando se avança sobre a pele e se rompe o corpo todo, para lá do desabafo do beijo, do silêncio que se conhece no começo dos dedos). deixavas-me, sem interrupção, a ser capaz de tudo. mas nunca se volta ao sitio onde se foi tempo e memória inventada, onde só os corpos estão, sem explicação, num estar sem limite, sem necessidade de haver mais depois. quando a noite caía a espaços prolongados de cor, ia ter contigo. gostava de te provar àquela hora. não num ritual, isso era haver razão. demorava a língua no desejo fundo do teu corpo, mantinha-te viva, arrastava-te para longe de qualquer lugar. sem ordem nos gestos. mantinha-te viva em várias repetições de desejos. e tu perdias-te e passavas do teu mundo para o meu. Trocávamos linguagens em que podíamos ser horas e dias e um universo que não se adivinha. (nunca se volta ao sitio onde se foi tempo e memória inventada, onde não constam nomes nem geometrias fixas). anjos e asas de demónio vermelhas. onde não sobra silêncio no movimento excitado das mãos. anjos sobre o tecto, demónios sobre a cama. demorava-me num estilo nu, sem procura nem destino, fundia-me em ti. mantinha-te viva. não num ritual, isso era haver razão e razão, só para lá do fim.
gostava de voltar a sentir a noite."

Daniel Camacho, página do facebook

[sem razão... e essa ser a razão. de tudo. a melhor de todas. a do porque sim.]
Boa Noite