Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

16 junho 2015





"aqui, não há ninguém, nem sequer eu estou cá, nestas ruínas de saudades. Quem assiste de fora, vê tudo à beira mar e as ondas levarem para longe tudo o que foi meu, tudo o que fui eu. Aqui, já não sou nada, nem sequer o vazio absurdo em que me quis, nem a estrada que me leva para o fim..."

Daniel Camacho
(da sua página de facebook)

Leio isto e, mesmo que não queira, lembro-me :"já nada à minha volta faz sentido" ou "tudo à minha volta já pouco me interessa... acordo, vivo, adormeço diariamente consigo"...  como se dizer isto, e repeti-lo das mais variadas formas, fizesse algum sentido, ou, se fosse sequer sentido, de tantas vezes já mo terem dito, já um qualquer sentido se teria composto. Provavelmente foi o que aconteceu. Talvez agora já tudo o resto seja o que realmente interessa, talvez já tudo faça sentido... até o na altura nada ter sido sentido verdadeiramente como falta de sentido. Não sei, se calhar o problema foi sempre ter sido consentido ser dito e repetido, para ser apenas isso:dito e repetido. O problema se calhar foi meu, que sempre soube o sentido que tinha tudo o que eu tinha sentido, e dito.
Cheguei, não estava a perceber nada. Falo contigo sempre num pressuposto, nem me passava pela ideia que fosse diferente. Viro-me para a janela, de costas para ti, abres a janela e atiras uma coisa que trazias lá para fora, para se perder no tempo e no espaço. Abraças-me por trás, de alma nua, enches-me o pescoço de beijos, viro-me para ti com cara de parva, incrédula, cheia de perguntas nos olhos, nas palavras que não me saíam, tu riste-te como já não te oiço rir há muito - com a calma da confiança de que não se duvida. Abraças-me mais do que me beijas, em "beijos pequeninos mas fatais", pelo pescoço, ombros, cara, o que te aparecia à frente, e sempre a sorrir dizes "eu gosto muito da pessoa com quem escolhi ficar". E eu acordo. E não sei que raio perceber desta frase... Mas estávamos felizes. Estranho, muito estranho. Agora convém ir tratar da vida que este sonho já está arrumado, escrito e engavetado. Até porque o que sempre me ocorria quando diziam que gostavam muito, é que gostar muito, eu gosto do meu cão...


Boa Noite