Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

30 setembro 2010


- Há coisas que um homem não controla mesmo!!
- É, é, não há nada que um par de estalos não controle, quer apostar?

-Pois, pois, 'tá bem, claro...
-Não me irrite senão eu paro o carro e vou-lhe aí espetar um beijo.
-Tá bem.
[mas não foi só um]

29 setembro 2010

Nunca percebi quando me dizia que dava pouco, nunca senti as coisas assim. Dava-me o que eu precisava sempre que podia, como poderia eu pedir mais? O que me dava não era pouco, o que não quer dizer que não me soubesse sempre a pouco. Porque sabia, sempre, e queria sempre tanto mais. Quando estávamos juntos dava-ma até o que eu não imaginava precisar, fazia-me sentir completa, só estando, só poisando o seu olhar no meu, conversando com o meu, alimentando o meu, dando-me a vida que me via dentro sem perceber. Como poderia achar que me dava pouco, se me deu tanta coisa nova em mim que eu não sabia ter? se me descobriu tão bem? se me deixou vê-lo aos poucos, e adivinhá-lo um pouco, deixando-me devagarinho, pé ante pé, entrar no seu mundo. Disse-me que eu lhe dava tanto nunca pedindo nada em troca, mas como pedir quando se vê que dão tão bem sempre que podem?
Eu é que lhe queria dar mais, eu é que tinha vontade de o mimar sempre que podia, surpreender sempre que via oportunidade, eu é que por nada deste mundo trocava a tarefa de lhe tirar o peso da voz e do olhar, e não descansava enquanto não o fizesse, mas de uma forma muito egoísta, não o fazia por ele, sempre o fiz por mim, pela alegria que sentia em senti-lo melhor, em fazê-lo rir mesmo quando fechava a cara e alma, e depois se esquecia. Ainda hoje me apetece fazê-lo, não o posso imaginar com a voz que às vezes lhe ouvia, com a falta de ânimo que o consumia às vezes, ou só o cansaço. A minha felicidade era trocar-lhe os humores e as voltas, espicaçando-o e regateando uma gargalhada que teimava em aparecer, mas que não era mais teimosa que eu. Nunca foi.
Lembro-me de lhe dizer que um dia ia sentir mais a minha falta que eu a dele, que ia sentir falta do telefone a tocar ao fim do dia, ou da companhia nas viagens, ou das mensagens inesperadamente ridículas, em que lhe dizia de todas as maneiras que me lembrasse que me lembrava dele, ou só para fazê-lo sorrir a meio do trabalho, ou para lhe puxar as orelhas que mais tarde ia trincar com carinho. Talvez me fizesse mais presente por a presença dele me fazer tanta falta, e a sua ausência me encolher a alma e me escurecer a vida, mas logo a sua presença levava arrastada todo o tipo de ausências que lhe sentia, abarcava-me a vida e devolvia-ma muito mais luminosa, mais doce, mais bonita, ou pelo menos, assim a sentia. Sempre.
Não, de certeza que não sente mais a minha falta que eu a dele. Nunca.

-Eu não quero um carro topo de gama ou uma casa enorme, ou.. ou... eu queria o melhor beijo do mundo todos os dias. [também eu]

27 setembro 2010

Stupid girl


Eu bem gostava de perceber, talvez assim me sentisse completamente conformada. Mas não percebo, por muito que tente, não percebo. Não percebo as coisas como mas dizem, só percebo assumindo que não se gosta, porque no meu mundinho, a coisa mais estúpida que pode existir são duas pessoas que se gostam, que estão bem juntas, que se sentem para lá de bem uma com a outra, que falam quando se olham nos olhos, que falam nas músicas e nos silêncios, e que por uma razão que se diz racional, se separam, e ficam os dois mal, para lá de mal, muito dificil, dizem. Dificil devia ser fazer uma coisa destas, dificil deveria ser ficar junto, se as duas pessoas juntas não estão bem, não o contrário, mas isto sou eu, que sou estúpida. Mas pelos vistos não é dificil, é fácil, é apenas conformarmo-nos que nem sempre podemos ter o queremos, mesmo que seja uma coisa rara, mesmo que seja uma realidade que até se pensava dificil de existir, mas não, deve ser fácil, porque fácil é deita-la pela janela fora, como a beata dum cigarro que já se fumou, e temos de nos conformar que acabou. E anda-se para a frente a fazer de conta que não se viu nada, que não se sentiu nada, que não se perdeu nada. E quem consegue fazer isto é porque não perdeu mesmo nada, eu é que sou estúpida.

26 setembro 2010

Há dias em que me apetece mandar tudo à merda. Hoje é o dia. Apetece-me atirar para os braços do primeiro que se me atravessar à frente, que já se atravessou, e que já mandei passear, não me apetecem aqueles braços. Por muito que gostasse de ser doutra maneira, não sou, não sou capaz. Agora volta a insistir, sem perceber que não quero o que ele quer, que na verdade não quero nada. Quero ficar sozinha, quero dormir e esquecer. Esquecer-me que existi sem saber como ou porquê, esquecer-me porque não quero tomar café com quem insiste em se me atravessar à frente, sem perceber que não me diz nada, que quero ficar no meu canto e fazer de mulherzinha fraquinha a quem tudo derruba e tira vontade, a quem tudo faz desmanchar sem saber refazer, e hoje, sem saber até disfarçar. Detesto essas mulherzinhas.
Senta-te aqui ao meu lado, onde tantas vezes estiveste e seca-me esta tristeza que não descansa, senta-te como tantas vezes fizeste e deixa-me encostar a ti, beber-te o olhar e sentir-te o mimo de que não me canso. Senta-te aqui onde estou, onde ainda estás sem saberes, onde não consigo deixar de sentir-te, de ver-te, de querer-te. As recordações invadem-me o corpo sem saber que pontes queimar e que pontes passar, mas ganham-me sempre. Aqui sentada ao lado de ti, sem ti.

A kiss to build a dream on

Tempo, dizem que o tempo cura tudo, mas o tempo não cura nada, o tempo não faz passar, o tempo passa por nós e não nos leva o que se sente, apenas nos faz mastigar o que vivemos, faz-nos recordar e reviver, até que essa vida se torne mais distante, mais arrumada em nós, num sítio mais dificilmente alcançável, mais fundo, onde é mais dificl tocar-nos, mas não apaga, dá-nos apenas uma perspectiva diferente, dá-nos o olhar para trás e acomoda-nos vagarosamente na realidade presente. Obriga-nos a isso, a conformarmo-nos com o que não foi. O tempo reorganiza-nos o espaço interior e dá-nos espaço para nos protegermos até de nós, dos pensamentos, imagens, sons, conversas, momentos que não voltarão. Mas quem uma vez nos habitou bem o coração, jamais de lá sai porque o tempo passa, fica sempre. Um grande amor só deixa de o ser com outro grande amor. E esse pode acontecer, quando a nossa alma se reorganizar e acomodar, quando conseguir conformar-se com a realidade cada vez mais distante do que recordamos ainda e sempre com um sorriso especial. Se não houver um novo grande amor, qualquer coisa, um olhar, um gesto, uma palavra, um passo em falso faz reacender aquele que ainda nos habita, arrumadinho e calado, por muito tímido que seja esse reacender. O tempo não é a cura, mas tem de passar para que outro amor seja possível, sendo possível que nunca aconteça.

25 setembro 2010

Depois do jantar de amigos, não sei quantos copos de vinho e algumas gargalhadas, aqui volto para despejar o que já não comporto, não me importa que não me comporte, queria agora fechar-me do mundo e fechar-me no nosso. Queria essa sua boca para mim, e puxa-lo e chegar-me a si e ficar-me, queria essas mãos onde a imaginação não chega, queria deitar-me, chegar-me, encaixar-me e deixa-lo desenhar-me as costas, os ombros e as curvas que encontrasse, queria olha-lo no fundo desses olhos sem fim e encontrar-me lá, intacta, cheia de amor, ternura e carinho para lhe dar, e que não aprendi a dar a mais ninguém assim. Queria esquecer a cabeça e toda a razão que me sobrevive, queria esquecer-me de mim e deixar-me morrer em si, porque é a melhor maneira de viver a vida que trago ainda dentro. Queria sabe-lo meu e sua, e aproveitar a vida que todos os dias começa, mas que só sinto começar a viver nos seus braços, no seu mimo, no seu beijo carregado de ternura ou desejo, nos seus braços que me endoidecem, protegem, e abarcam os sonhos que tenho medo de sonhar. A realidade pode ser tão melhor que os sonhos sonhados, como renegar o que é óbvio? Como não ver o que se sente? como não sentir o que se nos crava na alma mais que na pele? Como deixa-lo quando já me deixou?... sem norte, sem vida, sem vontade, sem o seu abraço, sem a sua voz meiga e gargalhada desconcertante? Como viver, morrendo a cada dia o que nos faz acordar? O que nos faz esperar algo da vida, o que lhe dê sentido? A vida só tem sentido se a sentirmos, e sentimo-la mais quando se nos escapa. Quando nos escapou o sonho por entre as frestas crueis da realidade. Como agora. Como roubar a vida ainda não vivida que nos escapou? Como compensar o que não se teve, se o tivemos na mão? Como justificar um dia, quando os olhos se nos fecharem de cansaço que a vida que tivemos nos braços, não vivemos, não a sentimos ou aproveitámos como podíamos, como é dever de quem alguma vez a encontra? Há tantas obrigações, mas a quem daremos contas, quando um dia tivermos de justificar a obrigação de viver a nossa vida e passarmos ao lado? A quem?

22 setembro 2010

Ando à procura do que dizer, do que estou a sentir e não encontro, não por falta de sentir, mas por falta de horizonte para o sentir que trago. Falta-me direcção, falta-me vontade de acordar, falta-me razão de ser, falta-me querer outra coisa, falta-me. Quando deixará de me faltar, estando tão aqui como sempre? Deixará de me faltar quando não o encontrar aqui, nas músicas, nas coisas, nos sonhos, nos pensamentos, nos meus sorrisos fugidos de mim, nos suspiros da memória, quando, enfim, já não o encontrar em mim. Quando o tempo me convencer de que nunca saiu de onde está, que nunca saiu de si, que nunca estive em si, como está em mim.

21 setembro 2010

O amor não se repete

Sentimos sempre diferente, o amor não se repete. Tem razão. Não se repete porque não há duas pessoas iguais, e o que sentimos é também diferente. Quem gosta é uma só pessoa, mas nunca gosta da mesma maneira, porque na verdade o sentimento é nosso mas é parte do outro, são bocadinhos que roubamos ao outro e guardamos em nós. Eu roubei tanto de si que guardo mais de si do que mim, aliás, não sei já qual a parte de mim que é minha, e qual a parte de mim que não sou eu. Mas sei que há partes de mim que só conheci porque o conheci, e que agora valorizo tanto. Olho-me dentro e vejo o quão incompleta teria ficado, desconhecida de mim, sem si. Nada mais houvesse e saberia que não escolheria nunca uma vida mais pobre por um caminho mais fácil, menos doloroso, mas que me mostrou cores, cheiros, emoções e uma vontade de me dar que não conhecia, de que nem me sabia capaz. Gosto mais de mim agora pelo bocado de si que me ficou dentro e que agora é meu, que agora também sou eu. Está em mim mas sinto-lhe a falta. Tanto.

18 setembro 2010

Não sei que pense mas pergunto-me o que pensará, se pensará. Estou numa confusão só, donde não estou a conseguir sair, perco-me em labirintos de pensamentos, fórmulas para tentar perceber o que não vejo, ao mesmo tempo que me tento convencer que nada há para pensar, nada há para ver, senão o que está à frente dos olhos: nada. Muitas vezes o caminho mais curto, mais direito é o mais certo, andar em círculos labirinticos passa o tempo mas não o resolve. E tempo é coisa que já passou o suficiente para se ver alguma coisa, ou há ou não há. Quando muito tem que se pensar é porque a falha é no sentir, tão simples quanto isso. Quando se sente mesmo, sabe-se, olha-se para dentro e as respostas estão lá para as vermos e assumirmos, nem que apenas para nós mesmos. Ainda que muitas vezes seja preciso coragem para ver para dentro e assumir o que se vê, porque não é cómodo, dói sabermo-nos no estado em que nos vemos quando para isso temos coragem. É tão mais fácil não nos virarmos do avesso, olhar só para fora e apenas o de fora interessar, apenas o mundo dos outros nos reger, como que nos desresponsabilizando de nós próprios, e deixando-nos caminhar pelos dias sem viver, sobrevivendo uma vida que não é nossa.

02 setembro 2010

Não, não percebes, eu sei.
Não percebes o que digo, não percebes o que se conjugou para dar o que deu.
Se calhar nem sabes o que deu.
O que me deu.
O que eu sinto por dentro.
Não chegas lá.
Porque não sentes e porque não se explica,
Não se explica o labirinto em que me perco,
Em que me abandono de mim, para te encontrar
E me encontro sem me entender.
Não percebes as saudades que ainda são depois de terem sido.
Não percebes as saudades que já são antes de o serem. E tanto.
Não percebes como se tentam matar saudades atrasadas.
E ao mesmo tempo as já antecipadas
Só se pode entender por dentro, sentindo.
E tu nunca vais entender, e vais fugir-me.
Por isso a ansiedade de ti
Por isso a vontade de nós
Deste nós que nunca me chega
E a que nunca chegas