Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

07 novembro 2013


(...)
Tu não me pertenceste - e, se uma vez acreditei que
acontecias dentro do meu corpo, das outras vi-te abraçar a
solidão com tanto ardor que concluí ser a memória quem
te mantinha vivo. O meu coração, contudo, sempre

te pertenceu - e a mão desesperada que o procura não
sente bater longe do teu peito. E mesmo os poemas todos
que escrevi não me pertenceram, porque essa vida
que pulsava no papel levaste-a tu contigo na hora
em que te foste - e a que tenho agora é mais
branca e vazia do que a morte, não é vida nem nada

que eu queira alguma vez que me pertença.

Maria do Rosário Pedreira


[não tenho nada do que queria que me pertencesse.
 a mim pertence-me a solidão e a vida que não tenho escolha viver, é a que acorda comigo todos os dias, cada dia que nasce quando os olhos se me abrem, e pareço andar com eles fechados o dia todo, a vida toda. Abri-os uns momentos, vivi, mas depois vieram as tuas mãos e fecharam-mos. 
O que vejo hoje são meros reflexos do que se passa à minha frente. Nada parece chegar cá dentro. Por dentro os olhos fecharam-se. Por dentro já nem pareço respirar. Por dentro, parece que são apenas palavras conjugadas - por dentro de mim é um sítio que já não existe. Morreu. Morreu em ti.]
[mais um descapotável, mais uma viagem que não viajo...]

Depois de dizer que não estou virada para esse lado, depois de dizer que abracinhos e beijos de "amigo" são coisas que não me encaixam na situação... Depois de me explicar - porra, 'tou farta de me explicar!!...em tudo e de tudo, ninguém entende uma linha do meu silêncio nem um parágrafo inteiro do meu discurso...- agora vem um convite para ir a qualquer lado, um fim de semana, Sevilha talvez, eu que escolha que tanto faz, o que interessa é a companhia... 
Sevilha, porra, Sevilha: o pronunciar desta palavra na minha cabeça reme-te para um mail de há muito tempo onde me descreviam um fim de semana para passar a dois. Pegar no carro e ir. Odeceixe, Odiaxere, Tavira, Sevilha.... as noites de Sevilha, coisa muito gira, diziam-me. Eu ia gostar, de certeza. Era a minha cara... 
E eu dou comigo a gargalhar sozinha de puro desespero!!!!... de tudo, por tudo. Desespero do mais puro, por tudo me ser tão duro por dentro: os dias, os últimos dias, todas as noites, algumas em particular particularmente excruciantes, os últimos meses, o último ano. Tudo e tanta coisa que não devia ser tudo, mas que me é tudo.
Depois, por momentos, no meio da minha extrema carência, dou por mim a agradecer - talvez até roçar o gostar -, que alguém me queira, o mostre e o diga, para passar uns dias, um fim de semana, um concerto que seja: qualquer coisa. Porque lhe apetece estar comigo, porque parece-lhe que valho a pena, que está disposto a fazer kms por mim, para um jantar e uns copos, conversa, companhia... Que tenho uma energia boa, que lhe faz bem, que se sente bem ao pé de mim... 
E eu... eu dou por mim realmente, e verdadeiramente, a agradecer, mas a não conseguir deixar de dispensar... 
Por que raio está tudo ao contrário? Quando é que eu volto a aprender a gostar de quem gosta de mim?? e ganho amor próprio? Tenho de vender a alma? Se ao menos tivesse como e a quem... Acho que já me tinha livrado dela... Porque ela já se desfez de mim há muito tempo, está numas mãos que não me pertencem, e que me desfizeram em coisa nenhuma.

Have a nice day...
Vim com a cabeça cheia de coisas, tanta coisa para dizer, tantas perguntas sem resposta, tanta vida por viver, tanta tristeza por purgar... mas não me apetece, estou farta de me explicar, e explicar como vejo as coisas, como elas não deveriam ser. Estou cansada de me magoar, de tentar desfiar a mágoa para a fazer desaparecer, e de tentar explicar o que me magoa e porquê, como se isso servisse de alguma coisa, como se isso importasse a alguém, como se isso fizesse com que evitassem magoar-me. Não, nada. Mas não obrigo ninguém a nada, por princípio, e depois até por hábito. Não acho que alguém fazer o que eu gostaria que fizesse porque eu obrigo, ou porque o faço sentir-se obrigado a isso, valha de alguma coisa, tenha em si alguma valor que me acalente, não me agrada, não me satisfaz: ou se faz o que se faz por vontade, ou então sou eu que fico sem vontade alguma de trazer alguém atrás obrigado... não, obrigado, não me serve. 
Deixo que decidam, que tomem as suas opções, que tenham as atitudes que em entendem em consciência dever ter, mas depois terão de perceber que se magoam os outros - ainda para mais conscientemente-, há que assumir as consequências e a mudança eventual das atitudes dos outros. É a vida, desejo-lhes a todos um óptimo dia e melhores noites, passadas e futuras... mas francamente, às vezes só me apetece mandar tudo e todos.... para bem longe...para não dizer outra coisa...