Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

28 janeiro 2015

...sim, é isto...
%&!#?%$#$&%?... caramba já chegava, não?
 o dia ontem esboçou-me um sorriso....
...e pimbas o hoje já me lembrou que os dias sorrirem-me 
é assim coisa para não se tornar um hábito... irra!
Karma, estimo que te fod@s! 
(porque a mim estás farto de me lixar...)
Pronto era isto.

Bom Dia aos restantes mortais mais abençoados!


Hoje ouvi uma frase que me explica e que explica tanta coisa nos meus últimos anos. Já aqui disse e repeti essa mesma ideia, mas ouvi-lo fez-me bem, como se alguém percebesse o que tento dizer e ninguém que me conhece parece entender quando o digo. Como se não encaixasse, como se não encaixasse no que entendem de mim - e eu entendo que deveria entender de mim, mas entendo porque não o consigo entender assim... Foi a propósito do filme sobre a vida de Stephen Hawking, baseado no Iivro que a sua primeira mulher escreveu, a quem perguntavam como é que ela aguentou os tempos em que tinha os filhos pequenos, o marido já com um grau avançado da doença e ainda a fazer o seu doutoramento sobre poesia medieval espanhola (acho que era isto, mas não interessa em quê, eu fiquei a pensar que no meio daquilo era o escape dela), e ela respondeu simplesmente: "porque não tinha alternativa! Que havia de fazer? Matar-me? E o que seria dos meus filhos? e do meu marido? Não podia. Não tinha alternativa".
E é isto. Não conceber alternativa. Eu também não conseguia conceber, a alternativa era matar um eu que eu gostava, que me fazia - que me deixava - ser quem eu gosto de ser. E era sempre matar uma parte de mim com as minhas próprias mãos. Não conseguia conceber essa alternativa, logo não era alternativa. Não havia hipótese de ser considerada alternativa. A única coisa possível era aguentar como podia e me permitia, de acordo com o que sou, com o que penso, e sob a luz dos princípios que me fazem. Não magoar ninguém, não obrigar ninguém a nada, não provocar situações complicadas, mas fazer entender o que sentia e como sentia. Deixava-me no meu canto e aguentava o que houvesse para aguentar, enquanto eu quisesse aguentar, enquanto não concebesse outra alternativa. E se concebesse não era ameaça, não era jogo, não era estratégia, era porque genuinamente tinha, e sentia, uma alternativa àquele aguentar. Como agora não tenho. Agora é só outro aguentar, aguentar coisas diferentes, outras, e mais. Infelizmente mais, e tristes, e complicadas. Mas alternativa não se avista. Atirar-me da ponte não posso - a noção de deixar sobrecarregadissimo alguém quem gosto muito e não merece, só porque não me apetece mais aguentar, é pesada demais para o egoísmo de que sofro. Então não há alternativa senão aguentar. O que me lembra uma frase que alguém me disse há dias, quando perguntei a meia dúzia de pessoas que me conhecem de formas e intensidades diferentes como me descreveriam (as características comuns que atravessam as frases de quem nunca me viu senão pelas letras, e de quem muito me viu, são engraçadas...Mas isso agora não interessa para aqui, pode ser que dê um post um dia) e que dizia
"tu és uma idealista estóica que precisa que lhe ensinem a ser feliz. estoicismo é, acima de tudo, a capacidade de aguentar. de aguentar calado, geralmente. tu aguentas mais calada do que parece. isso do blá blá e da resmunguice é fachada. as coisas a sério tu aguenta-las calada. depois mandas vir é com tudo o resto."
E eu fiquei a pensar nisto por várias razões. Primeiro, nunca me tinha passado pela cabeça que alguém me pudesse tomar por estóica. Depois acho que não me calo muito, e escrever, escrevo até demais de mim, e finalmente porque foi uma coisa que eu ouvi muitas vezes acerca de outra pessoa: que era estoico, que aguentava, e que aguentava cada vez mais, tantas vezes calado, sem se queixar. No fundo, que era obrigado a aguentar. Mas não era. Havia alternativa, e estava nas mãos dele. Acho que ele também nunca concebeu a alternativa. Como eu nunca consegui conceber a alternativa de matar a parte de mim onde ele estava. Onde eu estava com ele, onde estavam estas e outras conversas, onde estava muito do tudo que eu consigo conceber como o todo.
O que é que eu podia fazer? Aguentar.

(o que me lembra uma resposta minha a uma pergunta - "enquanto tu quiseres e eu aguentar." Mas também é daquelas coisas que só eu me lembro, e estou sentada agora precisamente no sítio em que disse isto, só não tenho a lareira à frente, e falta-me o olhar que recebi depois da frase)

Boa Noite