Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

31 dezembro 2014

Pois sim....
... Só não sei se isso é indiscutivelmente uma coisa boa. 
... Para mim.
Para vocês, um óptimo ano de 2015!!
Com muita saúde, sorte e rodeados de quem gostam!
Até p'ro ano, então!
Divirtam-se.

... E tanta gente sem-abrigo... 
Sem saber onde pára o coração. 
Alguns nem o sentem.
 E há coisas que só existem se se sentirem. 
Como o coração. Como o lar.

Boa Noite

30 dezembro 2014


... hoje que todos falam no ano que está a acabar, e que a renovação se espera e deseja, eu vejo esta imagem, e o que sugere é a ideia perfeita que faço do próximo ano. 
Eu, que em tão poucas coisas sou supersticiosa, sempre o fui com a passagem de ano, como se a visse como um prenúncio de como o ano vai correr. Se estiver bem, animada, e rodeada das pessoas que me fazem risos e sorrisos, e eu com vontade de futuro fico com a sensação que posso ter esperança, que o ano vai ser uma lufada de ar fresco, e que pelo menos essa sensação nos renova um bocadinho... mesmo que seja apenas uma espécie de jogo mental, uma espécie de mentirinha motivadora inocente, porque o certo é que os dias nascem uns dos outros sem nada que uma data modifique significativamente, mas se nos mudar a nós um bocadinho, pode ser nós mudemos também o que está à nossa volta, o que fazemos, e o que deixamos de fazer. 
Este ano parece que nem dou pelo fim do ano, ou melhor, não dou pelo começo de outro, não dou por começos, não dou por nada, não dou nada, tudo me parece meio amorfo e igual, parado, mas no fundo está tudo diferente, e do que se avizinha mudar nada é para melhor. 
2015 parece-me apenas um barril de pólvora a brincar com fósforos. E eu a ver.
Veremos.

[adoro esta música, talvez tenha sido esta música,
 ou os últimos dias do ano, o que fica o que vai, não sei...]

O caminho é o mesmo... faz-se todos os dias mas nenhum dia é o mesmo. 
Hoje não sei porquê, talvez uma parte do caminho, as cores que se assemelharam, qualquer coisa, que não sei o quê, me levou para àquele dia. Fazia este mesmo caminho, cheia de medo e feliz. Tão feliz quanto o medo me deixava, me prendia nas garras que se sentem quando nos sentimos grandes e leves, mas não seguros. Era talvez medo da felicidade que sentia e não queria sentir, por medo. E disse-o - pela primeira vez assumi abertamente a alguém que estava com medo -, não um medo vago, medo de acreditar na pessoa, medo dele e de tudo aquilo: do que me dizia, da certeza que aparentava, do discurso todo diferente, mas seria diferente?...e nem sei o que sinto quando percebo o que fizeram com isso, como pegaram nesse medo, o multiplicaram, o enraizaram em mim, o semearam para sempre (será para sempre ou parece só que é para sempre??), medo das pessoas, de acreditar, de me entregar às pessoas, ao Amor, à esperança na felicidade. Mataram-me o medo, substituíram-no pela certeza de não esperar, não acreditar, de ver mentira onde se devia confiar no sentir, no querer, no abraço que me deram, no meio do nada, dum sítio perto de coisa nenhuma, mas perto um do outro. Onde me disse que se sentiu em casa quando me abraçou, o abraço como um lar que acolhe com doçura,  onde disse que teve a certeza, onde concluiu dizendo que não conseguia estar sem mim, que tinha saudades, que queria ficar comigo... onde me perguntou se eu tinha saudades e se o queria, e brincámos por eu não querer responder, porque fiquei tantas vezes sem resposta a tanta coisa que também ele teria de saber o que era trocar uma pergunta, o querer saber, por silêncio. Por incerteza, por insegurança, por medo de não saber do outro. E falámos de férias e de viver junto, de ele querer um futuro, porque sem mim não conseguia. Sem mim nada fazia sentido. E hoje o caminho fez-se, sem sentido, na confusão de sentidos e sentimentos sentidos que não se desembrulha de mim, dos dias que passam, do caminho igual todos os dias, da música que se percebe que se ouve no meio de tudo isto, de todas as imagens e sons que hoje o caminho me trouxe, tendo-me deixado no meio do nada com os carros parados, há meses atrás, num abraço que foi uma casa que alguém quis muito para abandonar. No meio do nada, com nada.
Chego ao destino e penso no destino de me teres esquecido e de eu por momentos me ter esquecido de te esquecer. Por momentos. Amanhã o caminho será o mesmo, mas será diferente. Não o teu destino, mas o meu.

Bom Dia

"Todo o meu corpo está a arder quando chamo o teu nome e tu estás nua dentro dessas sílabas.
É então que mais quero fazer amor, para confirmar que os teus braços fazem parte de uma luz antiga que despe o meu olhar."

Joaquim Pessoa

Boa Noite

29 dezembro 2014

eheheheh
...está boa, sim senhor...
e também se aplica no masculino.

Bom Dia



"Encontrei isto num livro: os rios arrastam com eles a imagem das cidades que atravessam. 
Amo-te, 
Mário."

Al Berto, "Os Jardins do Paraíso"

[tem piada saber que alguém ficou desde ontem a pensar nesta frase porque antes de lhe oferecer o livro pedi que lesse dois ou três paragrafos, e parou nesta frase... A dizer "esta frase tem qualquer coisa..." E eu perguntei-lhe de jacto "e o que achas que ela quer dizer?"
Porque me lembrei que me disse que faço poesia com o meu dia-a-dia nas minhas descrições rápidas impensadas, e que lhe ensinei a ler poesia, a sentir o além palavras que as palavras dizem sem dizer, que está na poesia.   Que é a poesia. Sentir mais que perceber. 
Oferecer um livro dum autor que gosto, cuja escrita transpira poesia, mesmo que prosa, e a pergunta, reguila quase em desafio, para ver se tinha aprendido realmente. E ri-me, e não respondeu. Hoje, há pouco, disse-me que a frase não lhe saiu da cabeça. E não descansou enquanto não respondi à minha própria pergunta, que recebeu de cara estampada de quase espanto... Acrescentando, fartei-me de pensar e tinha muitas hipóteses de interpretação naquele contexto, nenhuma era essa, mas bolas tens razão. Acabo sempre a dar-te razão. E eu ri-me. Pensei em todas as vezes que não quis ter razão e ma deram, ou a vida acabou por ma estampar na cara. E eu sabendo-o era como se nunca o esperasse, sabendo estar sempre à espera. 
A vida tem uma ironia fina a que sempre tiro o chapéu. E o sorriso.]

Boa Noite

28 dezembro 2014


... E eu agora vou ali remendar-me um bocadinho 
enquanto me coso a um café!!
... Que parece-me que já são horas...

Bom Dia
Meiga e viva, sim.
Magoo- me e cicatrizo. 
Assim espero.
Há coisas boas, a vida - quando se sente nas veias e a dar trabalho ao coração -, é uma delas.
Assim seja, e continue assim.
Com o dia a entrar-me pelas janelas agora e o dia a invadir-me a retina, quente e quase sorridente, vou fechar os olhos e esperar que amanhã seja pelo menos tão bom como hoje. Chorei e ri.
É bom poder ser eu até aos ossos e não ter medo disso.
Medo que cedam, que mos partam ou torçam.
É bom. Ser eu. Só.
Há coisas boas. Ainda. 

Boa noite

27 dezembro 2014

....hummmm tomar um café? 
Ao sol e com este frio, a cama fugirá de certeza...

Bom Dia



Se me tocassem agora
Não iriam além de aflorar a armadura
Nem mesmo tu
Que me tocaste despida de pele
Que me desfloraste a alma
Me desarmarias
Armaram-me armadilha
Ao desamor devir.
Desamaram-me demais
Desarmar-me agora só amar-me
Demais

[há sempre tempo para mais um cigarro que fala o silêncio e eu escrevo]


"Não procuro vantagem nem me interessa
tirar qualquer benefício
de te amar.
Apenas busco um ombro onde a cabeça
retome o exercício
de acreditar.

E não desejo outro ofício
em que me ocupar."

Torquato da Luz

[... "o exercício de acreditar"... Será um exercício, uma vocação, um defeito ou uma virtude?
Era bom que fosse um exercício, uma prática, que se pudesse desenvolver, ou até partilhar, mas como tantas coisas, parece-me que não se exercita, nao se procura, não se força, ou não funciona. Ou se acredita ou não, sem razão aparente ou fundamentada, é uma questão de fé. Fé no coração do ombro que a nossa cabeça quer. Sem razão aparente ou fundamentada.]

Boa Noite

26 dezembro 2014


"O Destino, esse nome que por vezes damos às coisas aleatórias, diz o que nos acontece, não nos diz como reagir. A nossa vida é tão fruto do destino como da vontade, cada um deles agindo de forma distinta sobre coisas diferentes, às vezes sobre as mesmas coisas, em momentos diferentes.

É também do destino e do acaso que falo de cada vez que digo que há coisas que não se procuram, só se encontram. E o amor é uma dessas, talvez a principal. Por mais que o procuremos em toda a parte, é ele que nos encontra, por vezes sem sabermos como, por uma série de coincidências impossível de provocar. Mas a sobrevivência das coisas, aleatórias ou predestinadas, não nasce do acaso, mas da capacidade de se adaptar ao mundo, à vida, à realidade, a nós. E isso não o torna, de uma forma ou de outra, menos mágico, menos belo, menos feliz, nem menos importante.

Maktub só se escreve no passado. Só no passado conseguimos encontrar os pontos que, unidos, nos trazem, por vezes sem saber como, ao lugar em que estamos. E sim, acredito, e é possível, que o que nos uniu seja o destino. Mas o que nos vai fazer ficar juntos é a vontade."

Pela mão do Menino

[alguém me dizia há uns dias que era o karma. O meu karma, esta coisa de passar assim pelas coisas, por andar há tempos com a vida a cair-me ao chão aos bocadinhos, a escorrer-me aos soluços pela pele, de dentro para fora, a evaporar-se entre um dia e outro. É karma, dizem-me, esta coisa de andar assim há tanto tempo, que o universo equilibra tudo e terei feito mal a alguém para andar a penar assim... e eu fiquei a pensar, juro que fiquei, aliás como fico quando normalmente me dizem algo que não entendo, que não me encaixa, ainda mais se vindo de alguém que considero, que oiço. E fiquei-me a pensar, a moer, e não entendo. Não entendo que se for suposto um equilíbrio, o meu karma seja este, partindo do pressuposto agradável - quase doce e prazeroso -, de que o mundo é justo e as energias se equilibram, o bem e o mal, o que eu duvido e cada vez mais, e quase sempre que olho à minha volta. A ideia encanta-me, porque pela amostra, o que estaria por vir seria muito bom, tenho uns créditos acumulados... bastantes, mesmo. Porque realmente posso ter feito sofrer alguém, sim, mas só tenho consciência de ter magoado uma pessoa, e não com esse propósito ou intenção, não faço nada para prejudicar ou magoar ninguém conscientemente, mas há vezes em que as nossas acções poderão magoar e não havendo alternativa melhor, têm de ser feitas sob pena de todos ficarmos pior. E tenho a certeza, e a plena consciência, de que essa pessoa agora está muito melhor, melhor duma maneira que não poderia estar comigo, porque eu não era a pessoa certa para aquela vida. Eu já não estava bem onde estava, não estava feliz, e não estando feliz não poderia fazer ninguém feliz. Insistir nisso só faria toda a gente mais infeliz durante mais tempo. Sofreu, talvez, mas eu também sofri para chegar ao ponto de saber que ali já não estava bem, já não era feliz, sentia-me vazia e fora de mim, calçada nuns sapatos que não me cabiam. Já tinha sofrido demasiada desilusão, já me tentara moldar demais, já tinha dado tudo o que tinha, e nunca nada parecia chegar, até que encolhi os ombros e deixei de tentar, abri os olhos e vi que já não estava ali, já não era eu, nem nada do que queria para mim. Sofri, sofri até chegar a esse ponto e sofri muito depois também, mas, ou talvez por isso mesmo, virei a vida - toda, mesmo toda, e em todos os quadrantes - do avesso, e hoje sei que não estou feliz, mas não estou amarrada a uma infelicidade que me sufoca e prende os sorrisos onde deviam nascer. Não estou feliz, mas estou livre para a poder encontrar em qualquer esquina, a qualquer momento desavisado, porque estou despojada daquelas grilhetas que prendem mesmo quando já nada nos faz sentir presos: os afectos, o gostar, o querer, o ansiar estar junto. Só isso prende alguém, o resto são armas de fazer reféns, opressoras de vida se o permitirmos. Mas temos escolha, por isso escolhemos, por isso escolhi. Houve sofrimentos de parte a parte, acho que se o karma é essa coisa do equilíbrio, nós os dois devemos estar quites, por isso... lá está, não entendo. Porque se entretanto mais alguém sofreu não foi culpa minha, não foi nada do que possa ter feito, porque não fiz nada, fui vivendo a minha vida sem ter de dar satisfações a ninguém - sem grilhetas nem justificações-, e sendo assim não se pode magoar ninguém. Nós só podemos ser magoados realmente por quem nos está perto, por isso esta coisa de magoar os outros por dentro, com a vida, os (des)afectos, as palavras e as atitudes, é comparada sempre a guerras corpo a corpo, para se apunhalar é preciso estar ao alcance da mão. É preciso estar perto para magoar por dentro da pele, onde se chora baixinho, berrando a todo o coração. Se alguém magoou alguém não fui eu, mas a mim magoaram-me bastante, e eu deixei porque me mantive perto, ao alcance da mão que magoa por dentro enquanto esvazia os sonhos e os bolsos do amor. Tive a minha culpa, que assumo, na minha mágoa, aliás só me culpo mesmo a mim e à minha estupidez por ter sido magoada tanto tempo, a mais ninguém... mas agora onde está o equilíbrio? quem mais, e mais gente, fez sofrer é quem melhor está. E ainda bem, não lhe quero mal, só não percebo porque raio este mecanismo, esta coisa do karma, só comigo, e com quem me está perto, é que acha que ainda tem de fazer penar mais e mais... para equilibrar o quê? o quê senhores??????.... 
....Karma, a sério, deslarga-me pahhh... estou farta, sim? irraaa!!... não há pachorra!! ou então, sei lá, na loucura,  muda de flanco e começa a dar coisas boas...  ]

"podes levar os dias que trouxeste

os pássaros soterraram agosto
e sem lugar um homem cega pela janela
o mar que jura ter tocado com o sangue

podia ter sido o amor se não tivesse vindo
tão directamente da sede
um duplo rosto de enganos e os braços
que saíram desertos
o eco da morte reverbera na pele
com que vejo a tua ausência encher as ruas
um choro de papel cai pela terra
e nunca foi tão tarde ser depois

daqui onde o grito surdo incendeia
a refutação da madrugada
donde o crânio esmaga o coração
um homem corta pela janela
a própria certeza de ter sido

não, é tarde demais para uma manhã
que foi a enterrar em tantas noites

as escadas morreram de sede
a terra caiu em nunca

podes levar os dias que trouxeste"


Pedro Sena-Lino

[... "Nunca foi tão tarde ser depois", tarde até para levares o que for, nada do que pudesses levar me parece teu, e tu nunca trouxeste nada. hoje - particularmente hoje, amanhã não sei - parece-me que nunca trouxeste nada, apenas vieste buscar tudo o que tinha, tudo o que tinha de melhor, tudo o que tinha meu de teu, talvez. Levaste tudo, não me restaste nada, não me trouxeste nada, apenas, qual sanguessuga, vieste à procura do que precisavas, do que querias, e nunca fui eu, mas a vida que me corria nas veias, o brilho que iluminava o olhar de quem ama. Era sempre a tua sobrevivência, o teu equilíbrio, as tuas faltas, as tuas sedes, as tuas fomes. O que levaste foi-se daqui e nem tu o guardas, esfumou-se. Já desapareceu no sorriso que agora sorris e trocas por dias-a-dias, nas mãos que dás, nos abraços que apertas, e trocas por amnésias de noite, ou insônias a toda hora, não sei. Não quero saber, hoje não quero saber nada. Só sei que podias levar os dias que trouxeste, se não os tivesses enterrado antes de nascerem, levaste dias que eu pensava que trazias, tiraste noites que eu pensava que me davas, esgotaste-me as perguntas sem resposta, e nunca me perguntaste nada, não trouxeste nada, não quiseste nada, deixaste ficar tudo, foi sempre tudo meu. Nada teu. ]

Boa Noite

25 dezembro 2014


A primeira lareira feita em minha casa este inverno. 
Algum dia tinha de ser. Foi hoje. 
Pés quentes e leituras, silêncio e chá. 
No silêncio cabe tudo, hoje até eu.

"gostos de filmes que são espelho. daqueles em que me vejo no ecrã. daqueles filmes que nos fazem pensar na nossa vida, em que passamos mais tempo dentro das personagens, do que apenas a olhar a história. no ultimo que vi, mr jarvis cocker sai-se com uma observação filosófica: 'a vida é igual para todos, o que nos distingue é a dose de imaginação que cada um põe nela'. tão simples. e é para isso que servem os filmes, quase uma forma de nos vermos nas palavras dos outros, na forma de viver de outros. e, se pensar um pouco, se calhar é assim que faço nos dias: ando sempre por perto dos espelhos em que gosto de me ver. é um bom conceito.
com o que vemos no reflexo das pessoas, definimo-nos, não pelo que queremos ser, mas pelo que somos de verdade. não pela intenção, mas pelo resultado dessa coisa tão delicada que se chama intimidade. são mais tristes as pessoas que não têm espelhos. ou que os evitam porque não se querem ver. ou pior, porque não gostam de se ver. porque custa confiar no vidro. é frágil. e às vezes os espelhos partem, e por mais que se cole, que se remende, fica lá sempre aquele risco, feito cicatriz, a cortar a imagem limpa. faz parte do jogo. aliás, é aqui que entendo que muito do que somos, devemos aos outros. porque há pessoas que me fazem mais - mais divertido, mais leve, mais homem. há pessoas que me tornam um ser melhor, apenas pela forma como me entendem, me percebem, pela forma como tornam fácil partilhar essa intimidade. são espelhos em que nos fazemos bonitos. deve ser por isso, que gosto tanto de te dizer: 'és tu, quem me faz mais inteiro..' 
mas, o que vibro mesmo, é ser o espelho das pessoas que gosto. saber que em mim sorriem, choram, descobrem, emocionam-se, excitam-se, amam. vivem. quase vício, é um privilégio sermos o reflexo de alguém. quase emoção, é ver alguém a ganhar expressão por nós, a ter aquele briho nos olhos quando nos vê, a soltar aquele sorriso tonto, feito berro, quando dizemos uma tolice. a escorrer uma lágrima por nossa causa, daquelas boas, quando se sabe que não se pode ser mais feliz, do que ali, naquele momento. mas curioso, nos espelhos "humanos" não vemos o nossa imagem reflexo. pelo contrário, vemos apenas o que a nossa presença provoca nos outros. é menos narcísico e muito mais doce. porque é isso amar: é projectar no outro todo o bem que lhe queremos. e sermos realizados assim. "em ti, faço-me feliz!" - deve ser a frase mais bonita, não de se dizer a alguém, mas de se sentir em alguém.."


[... E se nos rodearmos de pessoas que não são o nosso espelho? Onde não nos vemos? Onde não nos sentimos? Começaremos o tornar-nos espelhos do que nos rodeia? Dos que nos rodeiam? Para que a imagem que vemos reflectida se torne real? Ainda que não realmente nós? 
Penso que isto me aconteceu durante muito tempo, tentar ser o que me viam, ou queriam ver. Corresponder ao que deveria ser o meu espelho sem o ser, tornar-me uma imagem de mim que não me abarcava, pelo menos não o todo que sou, que posso ser. Ainda que quisesse ser como queriam que eu fosse, porque me faziam crer, ou eu pensava, que aquele reflexo era o melhor de mim, mas o melhor de mim tem partes que me queriam abafar, ou então, asfixiavam-no, mesmo sem querer. Não sei, sei que continuamos o processo para não desiludir, para não partir o (suposto) espelho, porque parece mais seguro sermos quem esperam que sejamos. E evitamos o olhar de desilusão de não sermos o que esperavam, o medo de sermos piores, de nos acharem piores, sem perceber que diferente do que esperam pode não ser pior, apenas diferente, mas verdadeiro porque mais inteiro, mais nós. E que aquele não é o nosso espelho, enganaram-se, enganámo-nos nós também se o pensámos ser. E um dia abrimos brechas, ficamos riscados, partidos, sentimo-nos aprisionados nesse espelho que não é nosso afinal, no entanto, a quem nos vê, parecemos intactos, mas por dentro, em nós, percebemos que é o espelho intacto em que nos têm que nos faz partir, prender, perder partes de nós que precisamos, abdicando da inteireza do ser. Normalmente é quando nos deparamos com um espelho que de facto nos vê, nos vê inteiros, e de repente podemos ser felizes assim: inteiros e nós, com espelhos à volta que nos vêem, que nos querem ver, e que nos fazem mais e melhor. 
Hoje, e desde que voltei a escrever, penso que me rodeio muito mais dos espelhos que me reflectem, e espero que vejam o mesmo em mim, que os faça verem-se a si mesmos no melhor que têm e são, e que é também por isso que os mantenho perto. Porque essa intimidade mo pede e mo permite. Porque me vêem como sou, como quero ser, e ficam. Os que ficam. ]

24 dezembro 2014

Fumar um cigarro à janela, a ver as antigas árvores novamente despidas. Despedem-se todos os anos das folhas que deixam de ser novas, e que todos os anos nascem novas embora diferentes, e sempre na mesma as perdem. E eu aqui, a fumar outro cigarro como há muitos anos atrás, na mesma janela mas com um copo de vinho a acompanhar o cigarro de refúgio na solidão apetecida. Acaba-se o cigarro com as árvores um pouco mais despidas e o copo um pouco mais vazio. Tudo o resto na mesma. Ou quase.

... Coisa mais doce...
Queria isto assim, um dia. Esta doçura cheia de ternura.

... Haja um bocadinho de sol para se tomar um café no meio das sombras.
Sombras onde me refugio das minhas.
Bom Natal a todos. 
Que o partilhem com quem gostam e querem, com saúde e boas gargalhadas.
Que aproveitem tudo à que têm direito.
E pronto, o meu espírito natalício não dá para mais que isto. Estou falida de palavras e sentimentos bons, espero que aqueles a que eu teria direito, e não chegaram cá, ou eu os perdi, ou pronto, desapareceram-me, tenham ido para alguém que os mereça e os aproveite.

Bom dia, Feliz Natal.

23 dezembro 2014


Uma pessoa tenta, tenta acreditar naquela coisa do pensa positivo, do bom atrai o bom, aquilo a que eu chamo treta de optimistas, o não querer ver a realidade e substitui-la por uma coisa mais bonitinha e menos amarga, e quando tenta fazer isso percebe que era melhor, muito melhor, a racionalidade dos pessimistas, em que se espera o pior, preparamo-nos para o pior, e talvez a vida não nos consiga arranjar pior que isso, e então lidamos com o que contamos, se tivermos um bocadinho de sorte, com melhor do que o que contávamos. São menos desilusões, menos baldes de realidade amarga pela goela abaixo. Mas eu caí nesse erro, de esperar o melhor, de achar que a vida me daria uma trégua, que me deixaria respirar e restabelecer, que me deixaria voltar a abrir um sorriso sentido antes de me pôr a chorar outra vez, antes de me fazer desabar de novo. E no meio de lágrimas, choradas e por chorar, vem-me à ideia uma frase, completamente fora de contexto, completamente fora do tema que as lágrimas choram, mas de longe a frase sussurra-me perto "se é para tentar tudo, tem de ser tudo, tenho de fazer tudo." É  então que percebo que a vida não é só cruel e péssima de timings, é abusadora e de mau carácter, trai e pisa quem já está no chão, lembra-nos o que queremos esquecer em alturas que só nos apetece fugir. Fugir do sítio para onde vou agora, tenho de ir, é minha obrigação. E só queria um peito onde encostar a cabeça, e uma cabeça para encostar ao meu peito, e esquecer-me que existe vida, cruel, amarga ou o que for, esquecer apenas. Como quem deixa de existir.


“Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. (…) Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. (…) Pretendia apenas lhe contar o meu novo carácter, ou falta de carácter. (…) Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi? Assim fiquei eu… em que pese a dura comparação… Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. (…) Uma amiga, um dia desses, encheu-se de coragem, como ela disse, e me perguntou: você era muito diferente, não era? Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora se disse: ou essa calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com lassidão de mulher de cinquenta anos. (…) o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado. Ouça: respeite a você mais do que aos outros, respeite suas exigências, respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você - pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver.”

Clarice Lispector | Carta a Tânia - Irmã de Clarice - 1947

[... O nó vital, aquele que não deslaça e enlaça o ser. Não se desfaz às circunstâncias, não se faz pelos outros nem nos outros, prende-nos ao que somos, não nos permite desistirmos de nós mesmos. Depois de nos encontrarmos, de olhos abertos nos vermos, nos sabermos, nada fica como dantes, e o nó aperta ainda mais o nós à consciência do que somos e do que queremos. Descobrimos o nó que nos faz nós. E mais nos prende quanto mais se aprende (de nós). ]

Boa noite

22 dezembro 2014



"A solidão não é forçosamente negativa, pelo contrário, até me parece um privilégio. Talvez a minha solidão seja excessiva, mas eu detestei sempre as coisas mundanas. Estar com as pessoas apenas para gastar as horas é-me insuportável."

Eugénio de Andrade, in Rosto Precário

[bem a propósito da solidão, como eu a vejo. Há dias em que não é bem assim, mas mesmo nessas alturas, a companhia que se deseja é sempre da pessoa que se deseja, que se quer perto, de quem ansiamos estar junto, e não encobri-la com uma companhia que apenas faz número e gasta as horas... a parte de gastar as horas é sempre assim: insuportável...]

Bom Dia

21 dezembro 2014

"-Hoje até fiz a barba..
- Ahh estou a ver, vai sair, é?
- Fiz para si, sua parva!"

(as memórias são tramadas e traiçoeiras, sem noção de tempo, de lugar ou de conveniência... Coisas boas, coisas boas que fazem sorrir com um travo amargo. )
.... Pois....
(Não sei quem é está moça, mas tem umas frases giras sim senhora eheheh)

Bom dia 
(...hoje está tanta luz porquê? Que falta de timing pahh...)

20 dezembro 2014


Uma pessoa fica na ronha até esta hora e agora percebe que o sol na varanda está bom, que o frio aqui também não se sente. E continua-se uma espécie de ronha no cadeirão da varanda, de pijama e roupão, e os olhos piscos da luz. E a vontade de mundo: a mesma: nenhuma. 
Mas daqui a nada terá de ser, por enquanto aproveita-se. Como tudo na vida, quando se pode aproveita-se.

Bom Dia!

19 dezembro 2014

Amén.

(Se bem que, na verdade, eu acho que é melhor para selar as pazes, ou para cerimónia inaugural de conversações... pazes, pazes, é a conversar sem ser uma conversa só de pele, que também é conversa - e da boa -, mas em que o único argumento é a vontade do outro e de estar bem; se nas outras conversas houver o mesmo, as pazes fazem-se bem...)

Bom Dia!

Primeiro foram as mãos que me disseram
que ali havia gente de verdade
depois fugi-te pelo corpo acima
medi-te na boca a intensidade
senti que ali dentro havia um tigre
naquele repouso havia movimento
olhei-te e no sol havia pedras
parámos ambos como se parasse o tempo
parámos ambos como se parasse o tempo

Pedro Barroso

[...e parou.
E agora quem o põe a andar?
Quem mata o tigre?]

Boa noite

18 dezembro 2014


"Cala-te, a luz arde entre os lábios,

e o amor não contempla, sempre

o amor procura, tacteia no escuro,

essa perna é tua?, esse braço?,

subo por ti de ramo em ramo,

respiro rente à tua boca,

abre-se a alma à língua, morreria

agora se mo pedisses, dorme,

nunca o amor foi fácil, nunca,

também a terra morre."


Eugenio de Andrade

[..só não acho que o amor não seja fácil. Não há nada mais fácil que o amor, sente-se e pronto, não se faz nada para sentir, nem sequer pode haver esforço nisso, é e pronto. O amor é fácil, a relação é que pode  não ser; e não raramente a nossa própria relação com o amor, e com o que sentimos, não é pacífica, principalmente quando o tentamos contrariar, quando nos tentamos contrariar... porque se o que sentimos não se controla, tentar contrariar é só frustrarmo-nos... e isso é que nunca é fácil... ]
Pois sim...
mas espero que não seja aquele género de olhar 
e desejar que eu desapareça... assim por magia, sei lá...
Se for isso, nunca tive, mas também é uma ignorância que aprecio... e espero manter.
Se for da outra magia, da que dá estrelinhas no estômago, ou no olhar, ou onde quiserem (cada um com as suas estrelinhas, né?), dessa também nunca tive, mas nessa ignorância não quero morrer... aceitam-se candidaturas, portanto... mas não de ilusionistas, ok?

Bom Dia!

[devia haver uma etiqueta de "como estragar boas frases..." esta era etiquetada de certeza...]


Não tenho tudo, mas não me falta tudo. 
Não tenho tudo o que quero, mas quero tudo o que tenho*.
Daquilo que a vida nos deixa escolher querer ou não querer, de tudo o que não queria livrei-me. Fui deixando pelo caminho, abri a mão deixando cair, ou atirei. O que fica não é tudo o que quero, mas sei que quero o que tenho, e isso, vendo bem, já é alguma coisa, e não é tão pouco como isso. 
Nem toda a gente o pode dizer. 

(* não sei de quem é a frase, não é minha, li-a nalgum sítio e ficou-me, e hoje percebi que a sinto - que hoje senti isto -, e que isso dá uma tranquilidade doce. Como a noção de se ter feito tudo o que estava ao nosso alcance para caminhar para o horizonte que queremos. Que vamos querendo, que acompanha o caminho e o nosso olhar. Não cheguei lá, mas o que guardei, de tudo o que fui recolhendo ao longo do caminho, sinto meu, é meu, e quero-o.)

Boa noite.

17 dezembro 2014


... Lambuzo-me, sim, sempre que puder, e se o caso der até lambo os dedos. E o acaso que me lambuze.
E os acasos, esses grandes malucos, que me dupliquem os dedos para lamber, façam meus mais dedos e façam os meus de mais alguém. Os acasos fazem as vidas encaixar para nos lambuzarmos, se soubermos.

Bom dia!
E há momentos de que se tem saudades, momentos que se recordam com precisão de relógio, como quem esperava a meia-noite para para um beijo sem tempo e umas palavras desfeitas em sorrisos. Momentos em que se lembram os gestos exactos, as palavras no sítio certo dos silêncios, os silêncios correctamente aquecidos na paz do estar, de estar bem. E lembrarmo-nos como se fosse agora, aqui, como foi, como é? Será?... Há momentos em que as saudades são de momentos precisos, no resto do tempo tem-se saudades de tudo. No resto é sempre. E é tudo.

Boa noite

16 dezembro 2014

... e eu que ainda não montei a árvore de Natal este ano....
acho que podia ponderar montar esta, mas dispenso as luzinhas, 
ainda fundem, sei lá...
eheheheheh
Bom Dia!!

(agradecida à B pela ideia ;) ... é bom saber que me rodeio de pessoas tão tontas como eu, sempre rimos juntas, enquanto as árvores não aparecem... )

Há vezes, como hoje, em que uma pessoa sente tanto algumas coisas que parece sentir as paredes da alma arranhadas por um grito mudo a rasgar um momento desavisado, que se prolonga nas garras da memória pelo dia adentro. Como hoje. Sente-se tanto que dá a sensação de que não o estamos a sentir sozinhos, como se parte daquilo não fosse nosso mas chegasse a nós a sentir, como  se do outro lado do grito houvesse outra boca faminta, outra alma que rasga. Sente-se tanto que parece que sentimos por nós e por quem não sente, mas sentimos como se sentissem. É uma coisa que abalroa de dentro, que não se trava, mas que nos cristaliza. Quando ao fim do dia se expõe tudo à luz que o dia engoliu, percebe-se que a sensação é uma realidade inventada, que a sensação é só um engano. Um engano, que de tão sentido, se enganou anos a fio à procura da outra ponta do fio, onde o engano se desenganava e a realidade não se inventava. Vivia-se, a par, num grito de sentir tanto. Tanto engano, afinal.

Boa Noite

15 dezembro 2014

[...pelo menos.]

"O fato é que muita gente já morreu alguma vez e nunca desconfiou disso. Inclusive você, não obstante eu. Porque a gente morre quando levanta da cama e já corre para olhar o celular. Morre de monotonia, de inércia, de marasmo, de falta de sonhos e de sonhos não realizados. A gente morre de medo de por o dedo em riste na cara do próprio medo e de pegar a coragem e seguir caminhando.

Morremos de medo de trocar hábitos, de mudar de ideias, convicções, de ver as coisas por outra perspectiva e damos um repeat automático nos comportamentos viciados e ranzinzas. Morremos de medo de olhar para o espelho da consciência e encarar os olhos nada atrativos das verdades de nossa alma, pois os reflexos geralmente são indigestos e desagradáveis. Morremos de medo de colocar em pratos limpos as mazelas de uma relação corroída, mas sustentada, apesar do visível desgaste, devido à insistência do amor que já não é mais o mesmo, mas que poderia voltar a ser ainda melhor se fossemos viscerais e honestos com nós mesmo e com o outro. Morremos na reincidência infinita de conhecidos ranços e defeitos, dos outros, e nossos. Morremos quando não somos coerentes com o que sentimos.
(...)
Na verdade, vivemos cercados de óbitos commoditizados, sem cara nem desejos. E não sabemos de que forma sair de tão grande e paraplégica falta de competência de atitudes. Morremos de frio na alma e de falta de verdades. De amor encoberto e não depurado pela falta de coragem e por excesso de orgulho. De afeto endurecido e estancado. De gentileza não manifestada numa fala que deveria ser doce. Morremos de egoísmo e de falta de sensibilidade. Morremos de silêncios e escapismos. (...) Morre também quem permite que a paixão morra no sexo e que faz amor fingindo prazer, como quem come um mil folhas com o nariz completamente entupido. (...) Urgente! É preciso ter coragem e força de personalidade para olhar para dentro de si e, identificar essas pequenas mortes diárias. Fazer delas o combustível para catarses existenciais que melhorem cada um como ser humano. Que nos possibilite ver e ter uma vida com mais honestidade, ética, sensibilidade, poesia, densidade e amor".


[...é preciso tão pouco para ganhar o dia... e tão pouco para perdê-lo. Basta um olhar para ganhá-lo, ou perdê-lo.]

...deve ser o que estou a precisar...
...sinto a cabeça vazia (sim, é normal, já sei...) 
e à roda ( e não, não bebi nada com álcool, se bem que a ideia é tentadora, muito tentadora...)...
É certo que só fui almoçar, vulgo um folhado e um sumo (sim, sim, foi mesmo sumo)  às três e meia da tarde,
mas não sei se o problema será esse...
O meu único pedido é que se cair para o lado me arranjam um mocinho jeitoso, alto e espadaúdo que me leve a casa e me deposite no leito. Qualquer coisa menos que isso, não quero, e recuso-me a cair para o lado... enquanto puder, pelo menos.
A única vez que caí para o lado, acordar foi uma sensação muito boa, não me importava nada de repetir... mas nem vale a pena pensar nesse acordar, vou pensar é em ir emborcar um café, e ver se a cabeça deixa de rodar, irra!!

(isto anda tudo um bocado maluco, mas pronto, é o que se arranja por aqui, estou farta de tudo, mesmo. Há que animar as hostes, e ainda não é hora de beber uns copos, por isso, só com parvoeiras mesmo... e uma cabeça à roda...)

eheheheheh
... é uma maneira de ver as coisas!!
torna o cônjuge/respectivo uma espécie de meia de lã que aquece os pés...
...e hoje isto está demais de frio!!
está, está!!
...dava jeito assim uma meia quentinha... dava, dava

Bom Dia



"Entender e aceitar todas as dores da existência dá muito trabalho. Pensar resulta em incertezas, falta de respostas e consequentemente em angústias. Quem sofre com tudo isso é a psique, que de tão atormentada, pode posteriormente afetar o comportamento e a personalidade. Nietzsche diz enxergar a vida de forma tão profunda que se sente completamente sozinho. Com quem ele discutiria suas questões provenientes de uma visão tão reflexiva sobre a vida? Quem não tem esse mesmo nível de profundidade também não tem capacidade de viver com pessoas como Nietzsche.(...)
Tendo em vista pessoas pensantes como Nietzsche, é possível fazer uma relação com a sociedade pós-moderna, permeada por indivíduos que tem extrema dificuldade de ficarem completamente sozinhos. Hoje, com o avanço tecnológico, as pessoas tem o costume de estarem 24h por dia conectadas e em momentos em que seria essencial a solidão para reflexão, rapidamente recorrem a um aparato tecnológico, uma mensagem a um amigo ou uma foto que consiga likes o suficiente com o objetivo de suprir essa carência e mal-estar. Estar realmente sozinho chega a ser uma raridade de poucos atualmente.
Essas pessoas que dificilmente tem um momento de reflexão solitário, diferente dos Nietzsches, parecem ser mais leves, despreocupadas e até mais felizes - talvez por mascararem suas angústias ou simplesmente por nunca terem se deparado com elas. Refletir sempre vai resultar em dor e descontentamento. Quem pensa, se dá conta de que muita coisa na vida não tem sentido nenhum e pensar mais e mais pode só aumentar a agonia. É por esse motivo que os Nietzsches que andam por aí muitas vezes são vistos como pessoas amarguradas e estranhas. Na verdade, encarar as verdades da vida torna esses indivíduos mais críticos, pois continuam numa busca incessante por respostas que podem nunca alcançar. Dessa forma, se isolam da maioria por se sentirem completamente incompreendidos e desencaixados num mundo onde parece que ninguém os acompanha."

© obvious

...pois, ter demasiadas perguntas não é nada cómodo, não. Mas suponho que até isso poucos entendem de tantas respostas que têm. E sim, acho que as pessoas têm de ter níveis de profundidade parecidos para falarem a mesma língua e se entenderem no mesmo comprimento de onda de vida. 

[e não, não me estou a comparar aos "Nietzsches" de que o texto fala, apenas sei - e dizem-mo muitas vezes... -  que tenho muitas perguntas, e que penso muito sobre coisas demais, ou penso demais sobre muitas coisas, e isso de facto, se não o soubermos compartimentar e dosear no tempo, cria algum distanciamento de maior parte das pessoas, que não têm tantas perguntas nem gosto pelas interrogações, pela busca da verdade mais próxima... sim, como alguém me apelidou, eu sou um ponto de interrogação ambulante, mas vou andando assim, contribuindo para as minhas respostas e para novas perguntas... porque às vezes as novas perguntas respondem a alguma coisa das perguntas antigas, mas é preciso querer ver.
Algumas perguntas, se não são respostas completas e inteiras, acabadas, são contributos importantes que nos apontam uma direcção... é um caminho incerto, não é uma resposta certa. Mas também podemos dizer muito das pessoas pelas perguntas que fazem. E tanto, tanto, pelo que nunca perguntam, ou ao que fecham os olhos sabendo.]



Muitas pessoas confundem sexo com intimidade.
Há casais que vivem ‘juntos’ durante décadas, ‘dividem’ a mesma cama, fazem sexo diariamente e não são íntimos.
No entanto, há pessoas que se encontram por alguns minutos, trocam um olhar e, sem mesmo se ‘despirem’ ou ‘tocarem’, criam uma relação de intimidade.
Viver junto, não é morar na mesma casa.
Dividir não é partir ao meio.
Despir-se não é tirar a roupa.
Tocar-se não é encostar um corpo no outro.
Quando somos íntimos.
Mesmo com roupas, estamos despidos.
Mesmo à distância, estamos unidos.

Catarina Castro

[E é isto. Mesmo. Intimidade, cumplicidade, partilha, sentir-se perto, trocarem-se e tocarem-se num olhar que fala onde as palavras apenas ouvem onde não conseguem chegar. É encontrar no outro o caminho para aquela parte de nós que sozinhos não habitamos. E a paz que esta plenitude namora. ]

Boa Noite



14 dezembro 2014


O relógio marca
quarenta e oito horas sem te ver
sei lá quantas para te esquecer.

Alice Ruiz

[...marca?... Terão sido? Quarenta e oito? Ou setenta e duas? Ou cem?....
 Sem tempo nem horas.... o meu relógio tem as horas partidas... e os minutos todos chegados.
esqueço-me sempre que não tenho relógio, e que o meu tempo não se mede em segundos.
Não servem os relógios para contar infinitos.
O infinito, como o amor, é uma questão de fé.]

Bom Dia

"(...) Fecho os olhos e vejo-te como sei ver: os traços toscos com que tento pintar-te dentro de mim, sem nunca te abarcar. És sempre mais que isso, mais do que vejo, mais do que sei, és sempre mais. És sempre mais inteira e mais completa que os meus traços vagos, os meus traços toscos. Talvez nunca ninguém saiba outro alguém completamente. Talvez nem a nós nos saibamos, que é difícil ver-se inteiro visto de dentro. Pinto cada traço teu a cada gesto, a cada curva, a cada volta, cada traço teu que há por dentro. Dentro de ti és maior que por fora, dentro de ti és um universo e um futuro, dentro de ti és, dia a dia, uma surpresa, a surpresa das coisas pequenas, das coisas grandes, das coisas novas e das coisas repetidas, como um fractal de gente. Por vezes nem sei que te dizer, nem sei que te mostrar para não ser fosco, aborrecido, previsível. Por vezes não sei se sentes o que sinto, o conforto dos silêncios, se encontras calor nos hábitos, nos gestos repetidos.
(...)
Fecho os olhos e vejo-te dormir, a cada respiração és nova, vejo um pormenor de ti que me encanta de novo, como se te visse sempre pela primeira vez. E sei, intimamente sei, que quanto mais me foco em ti menos terei, do mundo externo, coisas para te trazer. Não te sei dizer palavras novas, porque as palavras que aprendo e invento são palavras sobre ti. Sou como um homem que explora um labirinto, e o labirinto apropria-o e consome-o, e à medida que ele aprende caminhos e meandros, é cada vez mais um com o labirinto e cada vez menos um consigo; à medida que os meus olhos se focam mais em ti menos interesse vês em mim, e eu sinto que não sei dizer-te mais sobre mais nada que não sejas tu.(...)"


[fecho os olhos e vejo-te. Sempre foi como te vi melhor. De olhos fechados. Abertos de cegueira. Abertos de mim fechados de mundo. Vê-se o que se sente, o que sinto, o que me fazes sentir, quando de olhos fechados estás à minha frente. É aí que te vejo melhor e talvez não te veja, talvez seja só eu a ver-te.
Fecho os olhos e vejo-te dormir enquanto durmo encostada a ti, com a cabeça no teu peito, a melhor almofada do mundo. E eu de olhos fechados. E vejo-te. Ou sinto-te. Ou sinto, só. Não sei, não quero abrir os olhos.]

Boa noite

13 dezembro 2014


Coisa boa.
Coisa boa pensar-se assim.
Ou tentar.

"Engana-te de propósito a fazer as contas. Falha o golo em frente à baliza. Despenteia-te. Escreve “sapo” com cê de cedilha: çapo. E também “sopa”: çopa. Inventa combinações de números quando o multibanco te pedir o código. Contraria o GPS. Põe sal no café. Telefona à tua mãe e diz que querias ligar para as finanças. Despede-te quando chegares e diz olá quando partires. Senta-te no chão. Veste a camisola ao contrário. E, por favor, calça o sapato do pé esquerdo no pé direito e calça o sapato do pé direito no pé esquerdo. Verás que não é assim tão desconfortável, que o calçado ortopédico é um exagero e que há muito mais do que aquilo que esperas naquilo que não esperas."

José Luís Peixoto

[...çerá?? ]

Bom Dia!!

12 dezembro 2014


Afinal, quem é que tem a pretensão
de não
ser louca?...
Loucos somos todos,
e livre-me Deus dos
verdadeiros ajuizados,
que esses são piores que o diabo!

Florbela Espanca.

[... exacto! Palavras sábias. E hoje foi um dia de dar largas à loucura boa e a deixar-me gargalhar, porque há muito ando a precisar. disso e de tantas coisas... mas esta resolve-se com um pouco de disposição e um sítio onde se podem escrever todos os disparates, e rir-me sozinha enquanto o escrevo, e o penso... e então se tiver quem alinhe na brincadeira, o dia alegra.
É isso, livrem-me dos verdadeiros ajuizados... eu gosto é dos falsos loucos, daqueles loucos que me fazem rir com vontade, os que sabem brincar, que têm um humor no mesmo comprimento de onda do meu, mesmo quando é tonto, ou acriançado, ou a ironia mais fina, ou o sarcasmo mais acutilante - os que (me) entendem. Aqueles com quem se pode brincar com tudo e falar de tudo, sério ou tontices, sem ter medo de julgamentos parvos ou bacocos, o à vontade duma cumplicidade que só vive na intimidade. E a intimidade é tantas vezes a partilha do riso genuíno, da gargalhada verdadeira.]

... já que é Natal e coiso e tal,  aquela ideia do espírito natalício, 
o bem da humanidade, o calor humano e o amor ao próximo 
(principalmente isto do Amor ao próximo faz aqui todo o sentido, só vos digo...)
... podiam-me dar um champô destes, era coisa para me dar jeito (muito mesmo)...
e de uma utilidade indiscutível no natal, passagem de ano, carnaval, páscoa, eu sei lá... sempre. É coisa boa de se ter à mão... às mãos, melhor dizendo, que só uma é muito desperdício por agarrar - coisa inadmissível num tratamento que se preze, e este eu parece-me que ia prezar 
(e sim, as vogais também, assim de repente, se me baralharam, mas estão na ordem certa,embora, convenhamos, a outra ordem, se calhar - ou mesmo de certeza -, ainda era mais certa: era na mouche, mesmo!!... ai ai)...
Não sei se tira "ex" da cabeça ou de algum outro sítio possível, ou até imaginário, 
mas se não tirar insiste-se... dizem que se insistirmos muito as coisas acontecem, sei lá, 
ou então pomos cara de que aconteceram, felizes e contentes, com tudo perfeito e maravilhoso,
 e toda a gente se convence, com sorte até nós... e sim Tuserve, Tuserve.... e se não servir insiste-se e persiste-se, que dado o calibre do tratamento não me parece assim um grande sacrificio... digo eu...
Tuserve, tuserve... anda cá que eu esfrego... 
só não se se se me esfrego se te esfrego... mas algo me há-de ocorrer!!! 
ehehehhee



.... Dizem que é Natal e eu ainda não dei por nada, e acho que vou continuar assim. Dantes gostava da época de Natal, agora não. Parece-me uma coisa cada vez mais pequena apesar de em todo o lado a queiram esticar mais e mais no tempo. Mas a magia parece encolher... Ou a mim parece. Já o café quentinho a aquecer este frio, é bom.

Bom dia 

11 dezembro 2014

Ainda não acendi a lareira este ano, coisa estranha em mim, muito estranha, porque adoro a luz da lareira, da nostalgia que nos aquece, das memórias que ainda queimam. E ainda não é hoje. Não ainda. Hoje são meias grossas até aos joelhos, um camisolao quente e uma manta para me embrulhar. Uma manta que me cobre e tanto me descobre... Os olhos a poisarem no par que me acompanha: um chá e um livro. Um  chá bem doce e morno, embrulhado numa caneca baptizada com uma frase que gostei mal bati os olhos. Por isso a escolhi. E o livro, o livro para ler e parar de ler para pensar no que se lê, e tantas vezes a reler e voltar a ler até me fazer sentido, porque não se entende à primeira, ou eu não. E depois moer e remoer ideias, mastigar e restar algo que me acrescente. É sempre para isso que acordamos: para nos acrescentarmos mais alguma coisa que não apenas um dia.

(Eu até podia dizer "Bom dia", mas é um bocado tarde, né?)

10 dezembro 2014





(...)
el corazón a veces nos despierta a los gritos
y uno se vuelve sordo de ternura
(...)

Mario Benedetti


[a alma a queimar gritos
a pele a derreter sussurros

lábios que não vêem
olhares que não ouvem.

palavras que não falam,
sonos que não dormem

beijos que despertam,
almas que fogem.

tempos que passam,
eternidades que ficam.

onde a saudade se demora
a ausência não mora.

se a distância aparece
de amor não se padece.


( leio duas linhas deste homem e o que não queria sair começa a correr-me pelos dedos...) ]
Porque às vezes as noticias não são tão péssimas como se estava à espera,
ficamos quase felizes. Quando o menos bom nos tira muitos quilos de peso de cima não há nada que esteja bem, mas temos a certeza de que poderia estar pior. Ou vamos acreditar que sim. Não sou uma mulher de fé, nem de esperança, nem de optimismos, acho que sou - ou tento ser - tão realista que me torno pessimista, porque a realidade tem essa coisa de normalmente nos tirar o tapete da pior maneira e nos enfiar um balde de água fria pela cabeça abaixo na pior altura. Depois há quem ache que dá a volta a tudo, que tudo acabará por correr bem e às mil maravilhas, e há quem sucumba perante a falta de chão, andando à procura dos pés durante uns tempos. Eu penso pertencer ao segundo grupo, caio, ando  uns tempos à procura não sei de quê, acho tudo uma valente merda, mas no caminho percebo que estar no chão não melhora nada, e depois de me deixar cair obrigo-me de alguma maneira a levantar. Mas não encaro normalmente as coisas com a ideia de que tudo vai correr pelo melhor, isso não, apenas de que vou fazer o melhor que possa, e depois logo se verá o que a vida me responde. Sendo que raras vezes ela não se tenha mostrado duma educação muito duvidosa... Portanto, não gosto de esperar grande coisa. Desde que me conheço que sou assim, e os anos só me têm reforçado a (des)crença.
Mas hoje estou uns quilos mais leve que ontem, e gostei deste mocinho quando lhe pus os olhos em cima... gosta do ar sério de gaiato traquina, a armar em solene só porque tem um ramo de flores entre os dentes e vontade de parecer grande.... a mim desarma-me. Dá vontade de dar festinhas e brincar com o gaiato e fazê-lo rir naquele ar solene que tenta pôr...Deve ser um grande parvo, é o que é. Normalmente são esses que me desarmam e nem precisam de vir com flores...
Bom Dia!
... E agora era isto. Colo. Estar perto e estar junto.
Voltar a respirar fundo, sem nós na garganta.
A aflição afrouxa e o espírito descansa, contentando-se com o melhor do pior, quando já só esperávamos o pior do pior. E, então, com o fim do dia, o sofá, e a descompressão, a vontade da paz do colo em silêncio aparece inteira. Ter alguém, não para nos aliviar do que não é bom na vida, do que é nossa responsabilidade, mas para nos fazer aproveitar o que é bom e vale a pena, e nos permite equilibrar o peso de aguentar tudo o resto. 
E aproveitar o que é bom também é responsabilidade nossa. 
Se tivermos calor para dar, e paz, e colo. 

Boa Noite

09 dezembro 2014

Hoje de manhã, tal era o frio, enquanto andava perdida em busca de cumprir uma missão, deixei de sentir as mãos, e dei por mim a pensar que não eram só as mãos que deixavam de sentir, de sentir o que tocavam, o que por fora lhes chegava, o que agarravam e deixavam até cair, sair de mim e deixá-las ir. Toda eu parece que deixei de sentir, a alma congelou algures nestes tempos recentes, cristalizou num momento que não recordo, mas que chego a agradecer. Gelaram-me as mãos de afectos, os lábios de sorrisos sentidos, o olhar do que o fazia brilhar quente, cabreirinho ou meigo. Agora o que surge parece não nascer. As mãos perderam os gestos, ou perderam-se dos gestos que escrevem afectos, perderam-se na mecânica dos movimentos que nos sobrevivem. Que não sentem nem fazem sentir. Nada. 
Cheguei a pensar, enquanto navegava o frio, que tinha dúvidas se o frio que me adormecia as mãos vinha de dentro ou de fora. Melhor, se hoje em dia eu tenho ainda um dentro e um fora. A fronteira já não sei onde fica, ou se existe.
 A alma está tão gelada como a pele. 
Dormente duma dor que mente porque se cala.
Gela como se não doesse.