Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

25 setembro 2010

Depois do jantar de amigos, não sei quantos copos de vinho e algumas gargalhadas, aqui volto para despejar o que já não comporto, não me importa que não me comporte, queria agora fechar-me do mundo e fechar-me no nosso. Queria essa sua boca para mim, e puxa-lo e chegar-me a si e ficar-me, queria essas mãos onde a imaginação não chega, queria deitar-me, chegar-me, encaixar-me e deixa-lo desenhar-me as costas, os ombros e as curvas que encontrasse, queria olha-lo no fundo desses olhos sem fim e encontrar-me lá, intacta, cheia de amor, ternura e carinho para lhe dar, e que não aprendi a dar a mais ninguém assim. Queria esquecer a cabeça e toda a razão que me sobrevive, queria esquecer-me de mim e deixar-me morrer em si, porque é a melhor maneira de viver a vida que trago ainda dentro. Queria sabe-lo meu e sua, e aproveitar a vida que todos os dias começa, mas que só sinto começar a viver nos seus braços, no seu mimo, no seu beijo carregado de ternura ou desejo, nos seus braços que me endoidecem, protegem, e abarcam os sonhos que tenho medo de sonhar. A realidade pode ser tão melhor que os sonhos sonhados, como renegar o que é óbvio? Como não ver o que se sente? como não sentir o que se nos crava na alma mais que na pele? Como deixa-lo quando já me deixou?... sem norte, sem vida, sem vontade, sem o seu abraço, sem a sua voz meiga e gargalhada desconcertante? Como viver, morrendo a cada dia o que nos faz acordar? O que nos faz esperar algo da vida, o que lhe dê sentido? A vida só tem sentido se a sentirmos, e sentimo-la mais quando se nos escapa. Quando nos escapou o sonho por entre as frestas crueis da realidade. Como agora. Como roubar a vida ainda não vivida que nos escapou? Como compensar o que não se teve, se o tivemos na mão? Como justificar um dia, quando os olhos se nos fecharem de cansaço que a vida que tivemos nos braços, não vivemos, não a sentimos ou aproveitámos como podíamos, como é dever de quem alguma vez a encontra? Há tantas obrigações, mas a quem daremos contas, quando um dia tivermos de justificar a obrigação de viver a nossa vida e passarmos ao lado? A quem?

Sem comentários: