Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

26 janeiro 2012

Hoje vou sair do trabalho mais uma vez sem pressa, sem pressa de chegar a lado algum. Sem ter a vida embrulhada para encaixar cinco, dez, quinze minutos para saborear um bocadinho bom, um momento que dura muito mais do que os minutos que me come da vida. Alterar às vezes a vida toda por uns minutos e nunca me arrepender. Nunca me arrependi, mesmo quando depois de tanta cambalhota nas horas, de arranjos e rearranjos, que o outro lado nem sabia que aconteciam, não dava nada, outras só ao telefone, outras a conversar perto, quase em sussurros, outras só embrulhada em silêncios quentes que depois nos aconchegam na hora de adormecer, menos sozinha do que diz o espaço vazio que o corpo não ocupa na cama. Agora nada. Os silêncios de agora são frios, duros como pedras, até os sonhos me gelam quando finalmente cedo ao sono. O telefone não apita a queixar-se de mensagens, não toca com a urgência de ouvir, ou de falar, com ninguém. A vida torna-se mais calma, mas menos em paz, é uma tranquilidade cansada do nada e de tudo. 
Lembrei-me disto porque hoje, pela primeira vez, vou ao martirio e não tenho companhia na espera, nem ninguém à minha espera no fim. E este sim, é um martírio que não acaba, e que começo a ter medo de um dia acabar para recomeçar, para voltar a passar pelos dias em que parece que passamos meio zombies por uma zona devastada de nós, um deserto sem sol ou calor, uma anestesia ao que nos fazia sorrir. (sorríamos? será? mesmo?). Não quero passar por isso tudo outra vez. Por isso o medo. Também a mim, o medo. Essa kriptonyte do que poderia vir a ser bom.
Começo a achar que também já me tem, já me agarrou.
Pior, não sei se lhe quero fugir.
E isto não sou eu.

4 comentários:

Anónimo disse...

vou ao martirio?

Eva disse...

Sim, hoje então foi um martirio... isto de ser mulher custa, bolas..

Anónimo disse...

pelo na venta...

Eva disse...

Esse diziam que tinha, agora acho que não tenho desse, já dos outros que não é a vida que nos arranca ainda tenho, infelizmente, mas ando a tratar disso..eheheh